SILVA, Sebastian. Miolo de Pote e outras crônicas
(inédito).
De primeiro, todo mundo só queria ser as pregas. Embora não tivesse naquilo o que um periquito roa. E se fosse falar alguma coisa, mandavam a gente ir tomar lá onde as patas tomam. Quando os pais davam aquele
Na escola, a professora fazia a chamada pelo nome (a gente ainda tinha nome). Na hora do recreio, quem podi...a trazia sua mirinda, seu crush ou seu grapete na merendeira. Depois ficava todo mundo exibindo os pisantes: os filhos das famílias mais-ou-menos usavam all star; nós, os pobres, tínhamos que nos contentar era com uns congas ou kichutes mesmos.
A gente, ainda brincava na rua. De polícia e bandido (todos nós queríamos ser a polícia). De imitar os super-heróis que a gente via na televisão (Jaspion, Changeman, Rambo). De jogo de bila (bolinha de gude). Também se colecionava carteira de cigarro (Hollywood, Plaza, Marlboro) para fazer aposta: era nossa moeda de troca.
Raros de nós podia realizar seu sonho de possuir um Comandos em Ação, um carrinho de controle remoto, ou um outro brinquedo qualquer da Estrela ou da Glasslite; estávamos definitivamente livres do consumismo.
Quando chegava um circo na cidade, a gente desfilava atrás do palhaço para poder entrar de graça:
- hoje tem palhaçada?
- tem, sim, senhor!
- tem marmelada?
- tem, sim, senhor!
A gente tinha o maior medo de filme de terror que passava na Sessão das Dez: Sexta-feira Treze, A Hora do Pesadelo, A Coisa... Mas, medo mesmo eu tinha era da perna cabeluda! E também do tema de abertura de Mandala! Vixe, Maria!
Os primeiros beijos, ainda eram tímidos, uma mera centelha do que viria a ser o primeiro amor do resto das nossas vidas...
Nas noites de domingo, esperávamos ansiosos por assistir a Os Trapalhões, na televisão que havia na pracinha. Bolávamos de rir das trapalhadas do Didi, do Dedé, do Mussum e do Zacarias, naquele humor ingênuo que traduzia um pouco a nossa infância.
As músicas que embalavam nossa infância, vinham nos trilhos do Trem da Alegria, do voo encantado do Balão Mágico, da nave em forma de beijo da Xuxa, do trenzinho da Mara Maravilha... E nem mesmo toda a burocracia do carimbador maluco beleza, era capaz de nos impedir de pegar carona numa calda de cometa, conhecer a via látea e brincar de esconde-esconde numa nebulosa qualquer.
De primeiro, não havia internet...
Vai ver que era por isso que tudo era tão perfeito.
Crônica inédita.
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