segunda-feira, 7 de outubro de 2013

JUNQUEIRA FREIRE, O MONGE SEM RUMO E SEM PRUMO

História


Junqueira Freire



POR CONSUELO PONDÉ


Poeta romântico baiano preferido pelo modernista, José Luís de Carvalho Filho, o monge beneditino Junqueira Freire apenas viveu três anos no claustro, de 1851 a 1854. Naquele mosteiro compulsara muitos livros, que lhe ampliaram os conhecimentos. Tornou-se professor e, na própria cela, passou a lecionar Retórica e Eloquência, recursos da oratória, escrevendo trabalhos literários sobre ambos exercícios.

À época escreveu: “Inspirações do Claustro, A Religião do Poeta, Os Elementos da Rhetorica Nacional, o ensaio sobre a Eloquência (inacabado), além de outros trabalhos. Teve muitas preocupações sociais e políticas.

Republicano, era autor do Hino à Cabocla e do poema Padre Roma. Motivado pela influência familiar, onde se contavam muitos religiosos, sentiu-se atraído pela ideia de pertencer ao Mosteiro de São Bento. Era um temperamento torturado, permanentemente em conflito, cuja mente doentia beirava à loucura. Confessou alimentar-se da ideia de suicídio. Descendia de privilegiada estirpe materna, da qual faziam parte: políticos, oradores e poetas, mas também de pessoas estranhas, de “temperamentos anormais, assinaladamente mórbidos“, como escreve Homero Pires.

Extremamente devota era sua irmã Maria Augusta, falecida aos 77 anos, na miséria, no Asilo de Mendicidade da Bahia, aos 22 de julho de 1921. Monge sem fé, descrente  das regras a que teve que se submeter, Junqueira Freire foi um torturado. Sentia-se infeliz, enxergando a vida como uma carga de sofrimento e desilusões. “Eu - que tenho provado neste mundo/As sensações possíveis ...../ Eu que tenho pisado o colo altivo/De vária e muita dor“.

A vida no claustro não lhe concedeu alívios para a alma torturada. A carreira escolhida não se constituía num seu verdadeiro apelo vocacional. Fora um equivoco, do qual depois, de certo tempo, se esquivou.

Luiz José Junqueira Freire nasceu na capital da providência da Bahia, a 31 de dezembro de 1832, em casa situada nos Barris. Era filho de José Vicente de Sá Freire e D. Felicidade Augusta de Oliveira Junqueira Freire.  De acordo com seu grande amigo, Franklin Dória, era seu pai oriundo de família modesta, razão pela qual não fora bem aceito no seio dos Junqueiras, orgulhosos de suas tradições. Descendendo sua mãe de uma “relação espúria”, não tinha condições de aspirar a um casamento compatível com a “nobreza” dos seus familiares, gente de prestígio e de influência política incontestável.

A primeira infância do futuro poeta foi tranquila e feliz, constando das recordações resguardadas pela família a sua condição de criança: “meiga, dócil e ao mesmo tempo robusta“. Em 1839 foi estudar na Escola Pública, constando que se revelara um aluno irrepreensível. Mas, foi naquela mesma época que se manifestou sua enfermidade, por cuja razão interrompeu o curso durante quatro anos. A partir daquele momento transformou-se num jovem enfermiço, constituindo-se numa preocupação constante para sua mãe.

Em seguida, foi aluno do conceituado professor Embirussu Camacã, inscrevendo-se, aos dezesseis anos, a 1º de março de 1849, no Liceu Provincial, para cursar Filosofia Moral e Racional. Destacou-se como aluno de excepcionais qualidades intelectuais.  Apesar do bom conceito era um jovem desiludido, que procurava arrimar-se na fé para suportar o peso da vida. Inseguro, torturado, pressentia que iria enlouquecer.

Para libertar-se dessa angústia, passou a fazer uso da cânfora, que colocava na boca, deixando-se adormecer com essa “panaceia”, ou seja, remédio para curar todos os males. Depois, seguiu-se uma fase de abalo das suas convicções religiosas Tinha então 17 anos. Era magro, alto, desengonçado e, embora jovem, tinha aspecto de um varão envelhecido.

Na realidade, considerava-se “um homem feio e falador”. Consta que, mesmo nessa fase em que se descreve impiedosamente, foi tomado de paixão uma mulher chamada Sofia. Falou-se também de seu amor por uma prima que se tornara freira, impossibilitando-o, mais uma vez, de construir uma afeição duradoura. Diante da impossibilidade de concretizar essa união, pensou em suicídio. “Era boa ocasião para morrer”.

Eu lembrei-me disso, sem temer, sem me arrepiar. Que tinha? O Padre não me acompanharia ao enterro, nem a Igreja me abriria o chão. A terra do campo me bastava. A morte perseguia seus passos e não enxergava outra solução senão a ela entregar-se. Não era aquele o tempo do dominado pelo romantismo? Essa influência mórbida não alimentara dois gênios: Goethe e Byron? E também contaminara os contemporâneos de Junqueira Freire – Hugo, Dumas, George Sand, Vigny, Balzac?

Entretanto, um dos íntimos amigos, Lupercio Ganhagen Champolini negava a existência de qualquer paixão amorosa nutrida pelo poeta, mas aos efeitos de sua imaginação, sem nada ter com a realidade. Ao escrever sua “Autobiografia” revela as inquietações do seu atribulado espírito.

Patrono da cadeira n. 28, da ALB, tenho o privilégio de ocupá-la, na sucessão de ilustres intelectuais: Torquato Bahia, Homero Pires (seu mais importante biógrafo) e José Calasans Brandão da Silva.


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