quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O MITO DO SOL E DA LUA


Por: CONSUELO PONDÉ
É Presidente do Instituto GeogrÁfico e Histórico DA BAHIA e ImORTAL PELA ACADÊMIA DE LETRAS DA BAHIA


Os estudos sobre o pensamento indígena ganharam enorme força a partir da publicação das obras de
Claude Levi Strauss, especialmente, depois da Anthropologie Structurale (1958), fortalecendo-se com o estudo: Le Totemisme Aujourd´Hui (1962) e La Pensée Sauvage (1962). Entretanto, só se tornou estudo irreversível com a série Mytjhologiques (I, II e III), respectivamente: Le Cru et Le Cuit (1964), Du Miel aux Cendres (1966) e L´Origine dês Maniéres de Table (1968). É ainda autor de: Mito e Linguagem Social, em cujo livro abre as portas para essas investigações. Antes dele, o antropólogo Franz Boas estudara, profundamente, entre várias culturas, a relação entre o mito e o real. 
Não tenho espaço, tempo, e conhecimento para comentar os variados mitos criados pela mentalidade indígena, como, por exemplo, o que trata da obtenção do fogo e o que explica a origem do homem branco, encontrados entre os Jê-Timbira, assim como o relacionado com a origem do fogo.
 Mais de perto é do meu interesse, nesse ligeiro comentário, lembrar a onipresença do sol e da lua na mitologia do Xingu, objeto do particular interesse do antropólogo Roque de Barros Laraia. Este conceituado estudioso, chegou à conclusão de que   a procedência do  mito do sol e da lua é de  uma origem bakairí, demonstrando, em seguida, que os gêmeos míticos existentes nos mitos, realmente, estão relacionados com o Sol e a Lua. 
(os bakairi são da família karib). Também analisa o mito relacionando-o com certos padrões de comportamento dos seus portadores. Laraia, no entanto, lança mão de um quarto mito, pertinente aos Apopokuva–Guarani, embora só tenha realizado trabalho de campo com uma das três sociedades Kamayurá (Tupi).
O conhecido antropólogo refere-se à circunstância de que este mito é partilhado por cerca de uma dezena de tribos do Xingu, com quatro filiações linguísticas diversas (Aruak, Karib, Trumaí e Tupi) e que, fora dessa área, outras versões desse mito são apenas encontradas entre grupos Tupi, chegando à conclusão de que se trata realmente de um mito originário desse grupo. 
Tal fato nos leva a deduzir que tem ocorrido intenso processo de interação intertribal, podendo-se admitir que a sua difusão é devida aos Awetí e Kamayurá, ou aos seus antecessores. Esse fato configura o processo de interação intertribal ocorrido no Xingu, da mesma maneira que o intercâmbio comercial é um dos fatores da “coexistência” pacífica entre índios de tribos deferentes, de tal forma que ideias, crenças e mitos também têm sido permutados.
Muito antes desses estudos, Curt Nimuendaju revelou-se muito hesitante no tocante à identificação ou não dos gêmeos com a Lua e o Sol. Dessa forma, observou a ausência dos dois astros no mito (1914:330). Todavia, em seguida, pôs em duvida essa ausência ao mencionar o papel dos astros em todos os rituais apapokuva (guarani). Assim, deixou bem patente essa tendência para acreditar na aludida identificação quando escreveu: “o que mais consegui acerca do Sol e da Lua quero acrescentar aqui, por pouco que seja. São considerados irmãos e, certa vez, afirmou-se que seriam os filhos de Nanderu–Mbaecuáa. 
De noite, impelido por tendências homossexuais a Lua acercou-se do leito do irmão, que não o reconheceu. Mas, na noite seguinte, o Sol aprontou uma vasilha com tinta de jenipapo, respingando-a no rosto do misterioso visitante, por cuja pintura, no dia seguinte, reconheceu–o como irmão. Ñanderuvuçu (Nosso pai grande) então colocou os dois no céu...”Convém referir quem Lévy Strauss apresenta diversos mitos sobre esse tema, que é muito difundido entre os índios da América do Sul e do Norte.
Por fim, vale acrescentar que, para Levy Strauss: “Um mito é ao mesmo tempo uma história contada e um esquema lógico que o homem cria para resolver problemas que se apresentam sob planos diferentes, integrando-os numa construção sistemática.”
Entretanto, o mito do sol e da lua não se esgota na interpretação indígena. É comum a várias culturas do mundo, significando, para algumas delas, o amor entre os dois astros e a sua separação em nosso campo visual, em função de várias motivações. 


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