quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O PAPA INCORRIGÍVEL

Anticristo?


O PAPA ALEXANDRE VI – Rodrigo Borgia – (1492-1503)
Autor: d. Estevão Bettencourt

O texto abaixo é parte do artigo acima nomeado

”É forçoso reconhecer que desde a juventude Rodrigo Borgia se entregou à libertinagem de costumes. Não se corrigiu nem mesmo após receber a ordenação sacerdotal em 1468. Foi vítima de uma sensualidade irrefreada até o fim de sua vida. Houve tentativas de emenda, mas sempre frustradas pela veemência das paixões. Chama particularmente a atenção o relacionamento adúltero de Rodrigo Borgia com a nobre dama romana Vanozza de Cataneis, donde resultaram quatro filhos reconhecidos por Rodrigo Borgia. Uma das grandes aspirações do pontificado de Alexandre foi marcada pelo nepotismo; quis providenciar ao enriquecimento e à promoção dos seus familiares.

                                                                            Lucrécia

Historiadores e novelistas têm explorado a figura de Lucrécia Borgia, nascida em 1480, a predileta do pai. Era uma jovem alegre e desejosa de se casar, dando provas de grande ternura. Não foi imune da corrupção moral de sua época; mas certamente não mereceu a má fama que muito a desfigurou posteriormente. Por duas vezes foi noiva e por três vezes se casou. O primeiro casamento, realizado com João Sforza, senhor de Pésaro, foi logo dissolvido. O segundo conheceu triste desfecho, visto que foi assassinado o seu marido, que era o duque Afonso de Bisceglia, filho natural do rei Afonso II de Nápoles; o terceiro enlace matrimonial, com o príncipe herdeiro de Ferrara, Afonso d'Este, foi bem sucedido; de então por diante Lucrécia se comportou como esposa cristã irrepreensível, e morreu em 1519 como membro da Ordem Terceira de São Francisco, louvada pelo pobres, enaltecida pelos eruditos e pelos artistas.

César, um Machiavel?

Papel funesto na vida de Alexandre VI foi desempenhado por seu filho César Borgia, homem dotado de prendas brilhantes, mas altamente ambicioso e de vida corrupta; era o tipo do tirano renascentista. Pai e filho aspiravam à criação de um grande reino na Itália central; caso tal intento se tornasse realidade, o Estado Pontifício, em grande parte, seria secularizado ou subtraído à jurisdição da Igreja para atender a interesses da família dos Borgia. Merece referência também o caso de Jerônimo Savonarola, Prior do convento dominicano de São Marcos em Florença desde 1491. Era insigne pregador e notável inteligência. Apregoava a observância estrita da Regra conventual bem como a reforma geral dos costumes da época, inclusive a do clero. Visto que tal atividade incomodava a não poucos, foi denunciado à Santa Sé, que houve por bem proibir-lhe pregar. Após alguma hesitação, Savonarola recusou obedecer, apelando para a sua consciência. Em consequência foi punido com a excomunhão mediante um Breve papal de 13 de maio de 1497. Savonarola reagiu, declarando injusta e inválida a excomunhão, tendo em vista especialmente a figura do Papa que a pronunciara; pôs-se a proclamar a deposição de Alexandre VI mediante um Concílio geral, que trataria o Papa como herege incapaz de exercer as suas funções. Todavia o povo de Florença, que sempre aclamara o frade dominicano e o acatara, voltou-se contra ele por motivos fúteis; talvez desagradasse à sociedade florentina a convicção inabalável, demonstrada por Savonarola, de ter uma missão confiada por Deus a ser executada ferrenhamente.
O fato é que o convento de São Marcos foi assaltado pelo povo; o Prior foi detido e levado perante um tribunal que lhe era contrário. Na base de confissões extorquidas e falsas, foi condenado à morte. Aos 23 de maio de 1498, juntamente com dois confrades, foi degradado como "herege, cismático e desprestigiador da Santa Sé".
A excomunhão proferida sobre Savonarola foi válida, pois a jurisdição do Papa não depende do seu teor de vida. Foi, porém, excessivamente severa. Savonarola era homem de vida ilibada e retas intenções. Todavia cedeu a certo fanatismo em sua atitude profética e em sua ingerência em assuntos políticos. A posteridade lhe tem feito justiça, reconhecendo a grandeza de sua personalidade, movida pelo amor à causa do Evangelho.
O nome de Alexandre VI está associado ainda ao Tratado de Tordesilhas. Com efeito; o Papa foi árbitro entre Espanha e Portugal, que litigavam entre si a respeito das terras recém-descobertas e por descobrir. Em sua Bula de 4 de março de 1493, o Papa traçou uma linha imaginária de um a outro polo do globo, passando a cem léguas a Oeste da mais ocidental ilha dos Açores (chamada linha Vaticana ou de Alexandre VI). Tal linha dividiria o planeta em duas partes, atribuindo ao rei Fernando o Católico, de Espanha, as terras do Oeste da linha e a Portugal as do Leste. A Bula que o estipulava, incutia aos reis católicos a obrigação de levar o Evangelho aos habitantes de tais regiões. No século XVII houve quem interpretasse erroneamente o gesto do Papa como sendo a doação do Novo Mundo à Espanha. A França e a Inglaterra não quiseram reconhecer a decisão papal e procuraram estabelecer suas colônias nas novas terras sempre que isto lhes fosse possível.
Não se pode deixar de notar que Alexandre VI foi grande protetor das Ordens Religiosas; aprovou Congregações recém-fundadas e se empenhou pela evangelização do Novo Mundo e da Groelândia.”


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