Anticristo?
O
PAPA ALEXANDRE VI – Rodrigo Borgia – (1492-1503)
Autor: d. Estevão Bettencourt
Autor: d. Estevão Bettencourt
O
texto abaixo é parte do artigo acima nomeado
”É forçoso reconhecer que desde a juventude Rodrigo Borgia
se entregou à libertinagem de costumes. Não se corrigiu nem mesmo após receber
a ordenação sacerdotal em 1468. Foi vítima de uma sensualidade irrefreada até o
fim de sua vida. Houve tentativas de emenda, mas sempre frustradas pela
veemência das paixões. Chama particularmente a atenção o relacionamento
adúltero de Rodrigo Borgia com a nobre dama romana Vanozza de Cataneis, donde
resultaram quatro filhos reconhecidos por Rodrigo Borgia. Uma das grandes
aspirações do pontificado de Alexandre foi marcada pelo nepotismo; quis
providenciar ao enriquecimento e à promoção dos seus familiares.
Historiadores e novelistas têm explorado a figura de
Lucrécia Borgia, nascida em 1480, a predileta do pai. Era uma jovem alegre e desejosa
de se casar, dando provas de grande ternura. Não foi imune da corrupção moral
de sua época; mas certamente não mereceu a má fama que muito a desfigurou
posteriormente. Por duas vezes foi noiva e por três vezes se casou. O primeiro
casamento, realizado com João Sforza, senhor de Pésaro, foi logo dissolvido. O
segundo conheceu triste desfecho, visto que foi assassinado o seu marido, que
era o duque Afonso de Bisceglia, filho natural do rei Afonso II de Nápoles; o
terceiro enlace matrimonial, com o príncipe herdeiro de Ferrara, Afonso d'Este,
foi bem sucedido; de então por diante Lucrécia se comportou como esposa cristã
irrepreensível, e morreu em 1519 como membro da Ordem Terceira de São
Francisco, louvada pelo pobres, enaltecida pelos eruditos e pelos artistas.
César,
um Machiavel?
Papel funesto na vida de Alexandre VI foi desempenhado por
seu filho César Borgia, homem dotado de prendas brilhantes, mas altamente
ambicioso e de vida corrupta; era o tipo do tirano renascentista. Pai e filho
aspiravam à criação de um grande reino na Itália central; caso tal intento se
tornasse realidade, o Estado Pontifício, em grande parte, seria secularizado ou
subtraído à jurisdição da Igreja para atender a interesses da família dos
Borgia. Merece referência também o caso de Jerônimo Savonarola, Prior do
convento dominicano de São Marcos em Florença desde 1491. Era insigne pregador
e notável inteligência. Apregoava a observância estrita da Regra conventual bem
como a reforma geral dos costumes da época, inclusive a do clero. Visto que tal
atividade incomodava a não poucos, foi denunciado à Santa Sé, que houve por bem
proibir-lhe pregar. Após alguma hesitação, Savonarola recusou obedecer,
apelando para a sua consciência. Em consequência foi punido com a excomunhão
mediante um Breve papal de 13 de maio de 1497. Savonarola reagiu, declarando
injusta e inválida a excomunhão, tendo em vista especialmente a figura do Papa
que a pronunciara; pôs-se a proclamar a deposição de Alexandre VI mediante um
Concílio geral, que trataria o Papa como herege incapaz de exercer as suas
funções. Todavia o povo de Florença, que sempre aclamara o frade dominicano e o
acatara, voltou-se contra ele por motivos fúteis; talvez desagradasse à
sociedade florentina a convicção inabalável, demonstrada por Savonarola, de ter
uma missão confiada por Deus a ser executada ferrenhamente.
O fato é que o convento de São Marcos foi assaltado pelo
povo; o Prior foi detido e levado perante um tribunal que lhe era contrário. Na
base de confissões extorquidas e falsas, foi condenado à morte. Aos 23 de maio
de 1498, juntamente com dois confrades, foi degradado como "herege, cismático e
desprestigiador da Santa Sé".
A excomunhão proferida sobre Savonarola foi válida, pois a
jurisdição do Papa não depende do seu teor de vida. Foi, porém, excessivamente
severa. Savonarola era homem de vida ilibada e retas intenções. Todavia cedeu a
certo fanatismo em sua atitude profética e em sua ingerência em assuntos
políticos. A posteridade lhe tem feito justiça, reconhecendo a grandeza de sua
personalidade, movida pelo amor à causa do Evangelho.
O nome de Alexandre VI está associado ainda ao Tratado de
Tordesilhas. Com efeito; o Papa foi árbitro entre Espanha e Portugal, que
litigavam entre si a respeito das terras recém-descobertas e por descobrir. Em
sua Bula de 4 de março de 1493, o Papa traçou uma linha imaginária de um a
outro polo do globo, passando a cem léguas a Oeste da mais ocidental ilha dos
Açores (chamada linha Vaticana ou de Alexandre VI). Tal linha dividiria o
planeta em duas partes, atribuindo ao rei Fernando o Católico, de Espanha, as
terras do Oeste da linha e a Portugal as do Leste. A Bula que o estipulava,
incutia aos reis católicos a obrigação de levar o Evangelho aos habitantes de
tais regiões. No século XVII houve quem interpretasse erroneamente o gesto do
Papa como sendo a doação do Novo Mundo à Espanha. A França e a Inglaterra não
quiseram reconhecer a decisão papal e procuraram estabelecer suas colônias nas
novas terras sempre que isto lhes fosse possível.
Não se pode deixar de notar que Alexandre VI foi grande
protetor das Ordens Religiosas; aprovou Congregações recém-fundadas e se
empenhou pela evangelização do Novo Mundo e da Groelândia.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário