quarta-feira, 30 de outubro de 2013

RECÔNCAVO BAIANO RESPIROU CULTURA

Cultura
FLICA
 
Vista do casario colonial de Cachoeira


 A beleza colonial de Cachoeira ganhou um charme especial a semana passada. Foi até domingo a terceira edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira, a famosa Flica. Com uma programação variada, que vai das mesas literárias a uma vasta quantidade de atrações musicais, passando com um espaço totalmente dedicado às crianças, o evento movimenta todas as cidades do entorno tanto no turismo como na gastronomia.


Nem o difícil acesso a cidade, que diante das últimas chuvas teve estradas interditadas, impossibilitou a presença do público em todos os espaços da Flica. Desde o início da semana, todas as pousadas de Cachoeira tinham lotação máxima. Quem decidiu ir ao local a partir da terça-feira, optou por casas que reservaram quarto para atender o excedente turístico na cidade, ou ocupou um dos quartos de hotéis e pousadas das cidades vizinhas como Santo Amaro, São Félix e Santo Antônio de Jesus.

Quanto à gastronomia, a cidade se organizou. Além da capacitação dos espaços já existentes, também foram criados restaurantes estruturados com cardápio especialmente escolhido para ocasião. Um dos exemplos foi o Café Massapê. Antes uma casa fechada, alugada apenas para eventos, durante a Flica ganhou mesas, cadeiras e pratos como a tradicional maniçoba, arrumadinho, carne do sol com purê de aipim, filé com fritas, entre tantos outros que ganharam nomes especiais voltados para o tema do evento.
Sobre a programação, encontros não programados deram charme ao evento. Na abertura oficial, a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) ganhou poesia. Durante o concerto “Uma Tarde em Veneza”, que teve a regência do maestro Carlos Prazeres, o ator Jackson Costa declamou o poema “As quatro estações” de Vivaldi.

Shows musicais
A apresentação de Saulo, que é garantia de casa lotada em todos os seus shows, não foi diferente na Flica. Ele não participou nem da programação musical da praça, nem no espaço batizado Varanda do Sesi. O cantor atendeu ao público infantil, sendo a atração musical da Fliquinha. Com voz, violão e uma percussão ele cantou os sucessos dele. Lotado de crianças, o espaço ficou pequeno para o carisma do cantor, que atendeu a todas que pediram a sua atenção.
No mesmo dia, outro encontro musical foi bem interessante. A apresentação do Gêge Nagô, coral africano que recria o estilo musical afrobarroco, ganhou a voz forte e poderosa de Lazzo, que foi a atração da Varanda Sesi do dia seguinte (sexta-feira). O coral traduz os cantos e ritmos das senzalas em seus momentos de folguedo (sambas de roda) e também em seus momentos ritualísticos (candomblé), deixando à mostra todo sincretismo cultural religioso.
No sábado a programação musical da praça se encerra ao som de Armandinho, que fez uma homenagem a Dorival Caymmi. Na Varanda Sesi terá os shows da orquestra de Pandeiro Itapuã e Samba de Roda de Dona Dalva. A primeira atração é uma fusão de ritmos tradicionais e contemporâneos servindo-se de outros instrumentos – violão, baixo, pife, flauta, trombone, sanfona, percussão, bateria, - e voz como seus integrantes em suas apresentações. Em Cachoeira, no Projeto FLICA, foi apresentado pocket show, sua formação: pandeiros, flauta, violão e voz.
Já o Samba de Roda de Dona Dalva é um dos mais tradicionais Sambas de Roda da Bahia. Fundado em 1958, por charuteiras da antiga fábrica Suerdieck, possui como líder a doutora do samba Dalva Damiana de Freitas, integrante da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, compositora, cantora e sambadeira. Dentre seus projetos estão à formação do Samba de Roda Mirim Flor do Dia e a importante iniciativa do grupo no processo de registro do Samba de Roda como Patrimônio Cultural do Brasil e Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.

Programação Literária
Desde o primeiro dia, a festa literária contou com a presença de dois grandes autores. Cristovão Tezza e Fabricio Carpinejar se encontraram na mesa “Enfrascar o cotidiano”. A quinta-feira teve uma mesa dedicada à poesia, “Qualquer um poeta” (com os baianos Elieser Cesar e Karina Rabinovitz), seguida da polêmica mesa “Vidas Comuns, Vidas Notáveis” que falou das dificuldades dos autores para escrever uma biografia (com Mário Magalhães e Ana Teresa Baptista) e um pouco de história do Brasil com Laurentino Gomes e Eduardo Bueno, este último conquistou o público com seu trejeito engraçado e seu bom humor.
Totalmente integrado a cultura do Recôncavo, o escocês Ewan Morrison, junto a Sérgio Rodrigues falaram sobre a importância ou não da literatura. Juntos os dois tentaram traçar qual o futuro dos livros. A americana Kiera Cass e Gláucia Lemos deram leveza ao evento literário falando de amor, príncipe e princesas na mesa “Lirismo, sonhos e imaginários”.  Outra americana esteve no evento. Sylvia Day junto a Állex Leilla falaram de sensualidade na mesa “Entre Flores e Espartilhos”.
Hoje o dia será aberto com um debate sobre a posse de terra indígena. Batizada de “Donos da terra? - Os neoíndios, velhos bons selvagens”, Demétrio Magnoli e Maria Hilda Baqueiro Paraíso falam de história e contemporaneidade indígena, com foco na dúvida sobre a etnicidade de alguns dos que se apresentam como índios. Na sequência, a mesa “A Velocidade da Contemplação Moderna”. Este será o encontro de Joca Reiners Terron e Tom Correia O jornalista e escritor baiano, Tom Correia, lança o livro “Ladeiras, Vielas e Farrapos”. Na obra, o autor faz um mergulho ficcional em Salvador.
Carola Saavedra e Letícia Wierzchowski participam da mesa “Afetos e Ausências”. Juntas as escritoras falam mais uma vez no evento de romance e abrem o debate sobre afetos e a saudade muitas vezes por ele gerado. O francês Jean-Caude Kaufmann fecha junto a Luiz Felipe Pondé a programação literária de hoje na mesa ”As Imposições do Amor ao Indivíduo”.
Hoje (domingo) se encerra a festa literária. Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mundialmente conhecido como Pepetela, e Makota Valdina participam da mesa final: ”Ndongo, Ngola, Angola, Bahia”. Pepetela é autor dos romances “Mayombe” e “A Geração da Utopia”, sendo um dos mais importantes escritores de Angola. Makota é membro do Conselho de Cultura da Bahia, uma referência para as comunidades negras baianas, sendo reconhecida como mestra da sabedoria Bantu em meios intelectuais nacionais e internacionais, valorizando as especificidades da nação de candomblé Angola-Congo.


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