Cultura
FLICA
Vista do casario colonial de Cachoeira
A beleza colonial de Cachoeira ganhou um
charme especial a
semana passada. Foi até domingo a terceira edição da Festa Literária
Internacional de Cachoeira, a famosa Flica. Com uma programação variada, que
vai das mesas literárias a uma vasta quantidade de atrações musicais, passando
com um espaço totalmente dedicado às crianças, o evento movimenta todas as
cidades do entorno tanto no turismo como na gastronomia.
Nem o difícil acesso a
cidade, que diante das últimas chuvas teve estradas interditadas,
impossibilitou a presença do público em todos os espaços da Flica. Desde o
início da semana, todas as pousadas de Cachoeira tinham lotação máxima. Quem
decidiu ir ao local a partir da terça-feira, optou por casas que reservaram quarto
para atender o excedente turístico na cidade, ou ocupou um dos quartos de
hotéis e pousadas das cidades vizinhas como Santo Amaro, São Félix e Santo
Antônio de Jesus.
Quanto à gastronomia, a cidade se
organizou. Além da capacitação dos espaços já existentes, também foram criados
restaurantes estruturados com cardápio especialmente escolhido para ocasião. Um
dos exemplos foi o Café Massapê. Antes uma casa fechada, alugada apenas para
eventos, durante a Flica ganhou mesas, cadeiras e pratos como a tradicional
maniçoba, arrumadinho, carne do sol com purê de aipim, filé com fritas, entre
tantos outros que ganharam nomes especiais voltados para o tema do evento.
Sobre a
programação, encontros não programados deram charme ao evento. Na abertura
oficial, a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) ganhou poesia. Durante
o concerto “Uma Tarde em Veneza”, que teve a regência do maestro Carlos
Prazeres, o ator Jackson Costa declamou o poema “As quatro estações” de
Vivaldi.
Shows musicais
A apresentação de Saulo, que é garantia de casa
lotada em todos os seus shows, não foi diferente na Flica. Ele não participou nem
da programação musical da praça, nem no espaço batizado Varanda do Sesi. O
cantor atendeu ao público infantil, sendo a atração musical da Fliquinha. Com
voz, violão e uma percussão ele cantou os sucessos dele. Lotado de
crianças, o espaço ficou pequeno para o carisma do cantor, que atendeu a todas
que pediram a sua atenção.
No mesmo
dia, outro encontro musical foi bem interessante. A apresentação do Gêge
Nagô, coral africano que recria o estilo musical afrobarroco, ganhou a voz
forte e poderosa de Lazzo, que foi a atração da Varanda Sesi do dia seguinte
(sexta-feira). O coral traduz os cantos e ritmos das senzalas em seus momentos
de folguedo (sambas de roda) e também em seus momentos ritualísticos
(candomblé), deixando à mostra todo sincretismo cultural religioso.
No sábado a
programação musical da praça se encerra ao som de Armandinho, que fez uma
homenagem a Dorival Caymmi. Na Varanda Sesi terá os shows da orquestra de
Pandeiro Itapuã e Samba de Roda de Dona Dalva. A primeira atração é uma fusão
de ritmos tradicionais e contemporâneos servindo-se de outros instrumentos –
violão, baixo, pife, flauta, trombone, sanfona, percussão, bateria, - e voz como
seus integrantes em suas apresentações. Em Cachoeira, no Projeto FLICA, foi
apresentado pocket show, sua formação: pandeiros, flauta, violão e voz.
Já o Samba
de Roda de Dona Dalva é um dos mais tradicionais Sambas de Roda da Bahia.
Fundado em 1958, por charuteiras da antiga fábrica Suerdieck, possui como líder
a doutora do samba Dalva Damiana de Freitas, integrante da Irmandade de Nossa
Senhora da Boa Morte, compositora, cantora e sambadeira. Dentre seus projetos
estão à formação do Samba de Roda Mirim Flor do Dia e a importante iniciativa
do grupo no processo de registro do Samba de Roda como Patrimônio Cultural do
Brasil e Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
Programação Literária
Desde o primeiro dia, a festa literária contou com
a presença de dois grandes autores. Cristovão Tezza e Fabricio Carpinejar se
encontraram na mesa “Enfrascar o cotidiano”. A quinta-feira teve uma mesa
dedicada à poesia, “Qualquer um poeta” (com os baianos Elieser Cesar e Karina
Rabinovitz), seguida da polêmica mesa “Vidas Comuns, Vidas Notáveis” que falou
das dificuldades dos autores para escrever uma biografia (com Mário Magalhães e
Ana Teresa Baptista) e um pouco de história do Brasil com Laurentino Gomes e
Eduardo Bueno, este último conquistou o público com seu trejeito engraçado e
seu bom humor.
Totalmente
integrado a cultura do Recôncavo, o escocês Ewan Morrison, junto a Sérgio
Rodrigues falaram sobre a importância ou não da literatura. Juntos os dois
tentaram traçar qual o futuro dos livros. A americana Kiera Cass e Gláucia
Lemos deram leveza ao evento literário falando de amor, príncipe e princesas na
mesa “Lirismo, sonhos e imaginários”. Outra americana esteve no evento.
Sylvia Day junto a Állex Leilla falaram de sensualidade na mesa “Entre Flores e
Espartilhos”.
Hoje o dia
será aberto com um debate sobre a posse de terra indígena. Batizada de “Donos
da terra? - Os neoíndios, velhos bons selvagens”, Demétrio Magnoli e Maria
Hilda Baqueiro Paraíso falam de história e contemporaneidade indígena, com foco
na dúvida sobre a etnicidade de alguns dos que se apresentam como índios. Na
sequência, a mesa “A Velocidade da Contemplação Moderna”. Este será o encontro
de Joca Reiners Terron e Tom Correia O jornalista e escritor baiano, Tom
Correia, lança o livro “Ladeiras, Vielas e Farrapos”. Na obra, o autor faz
um mergulho ficcional em Salvador.
Carola
Saavedra e Letícia Wierzchowski participam da mesa “Afetos e Ausências”. Juntas
as escritoras falam mais uma vez no evento de romance e abrem o debate sobre
afetos e a saudade muitas vezes por ele gerado. O francês Jean-Caude Kaufmann
fecha junto a Luiz Felipe Pondé a programação literária de hoje na
mesa ”As Imposições do Amor ao Indivíduo”.
Hoje
(domingo) se encerra a festa literária. Artur Carlos Maurício Pestana dos
Santos, mundialmente conhecido como Pepetela, e Makota Valdina participam
da mesa final: ”Ndongo, Ngola, Angola, Bahia”. Pepetela é autor
dos romances “Mayombe” e “A Geração da Utopia”, sendo um dos mais importantes
escritores de Angola. Makota é membro do Conselho de Cultura da Bahia, uma
referência para as comunidades negras baianas, sendo reconhecida como mestra da
sabedoria Bantu em meios intelectuais nacionais e internacionais, valorizando
as especificidades da nação de candomblé Angola-Congo.
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