Por: Carlos
Fontes
1.A Retórica surgiu na antiga Grécia,
ligada à Democracia e em particular à necessidade de preparar os cidadãos
para uma intervenção activa no governo da cidade. "Rector" era a
palavra grega que
significava "orador", o político. No início
esta não passava de um conjunto de técnicas de bem falar e de persuasão para
serem usadas nas discussões públicas. A sua criação é atribuída a Córax
e Tísis (V a.C), tendo sido desenvolvida pelos sofistas que a ensinaram como
verdadeiros mestres. Entre estes destacam-se Górgias e Protágoras.
2.Os sofistas adquiriram durante o
século V a.C., grande prestígio como professores de Retórica.
A Retórica era antes de mais o
discurso do Poder ou dos que aspiravam a exercê-lo. "O orador, escreve
Chaim Perelman, educava os seus discípulos para a vida ativa na cidade:
propunha-se formar homens políticos ponderados, capazes de intervir de forma
eficaz tanto nas deliberações políticas como numa ação judicial, aptos, se
necessário, a exaltar os ideais e as aspirações que deviam inspirar e
orientar a ação do povo.". O discurso retórico visava a ação, por isso
se propõe persuadir, convencer os que escutam da justeza das posições do
orador. Este primado da acção leva a maioria dos sofistas, a
desprezarem o conhecimento daquilo que discutiam, contentando-se com
simples opiniões, concentrado a sua atenção nas técnicas de
persuasão.
Foi sobretudo contra este ensino que
se opuseram Sócrates e Platão. Ambos sustentaram que a Retórica era a negação
da própria Filosofia. Platão, no Górgias e no Fedro, estabelece uma
distinção clara entre um discurso argumentativo dos sofistas que através da
persuasão procuram manipular os cidadãos, e o discurso argumentativo dos
filósofos que procuram atingir a verdade através do diálogo, pois só esta
importa.
A Filosofia surge assim como discurso
dirigido à razão, e não à emoção dos ouvintes . Esta é aliás a condição
primeira para que a Verdade possa ser comunicada. Não se trata de convencer
ninguém, mas de comunicar ou demonstrar algo que se pressupõe já adquirido -
a Verdade de que o filósofo é detentor.
3. Aristóteles foi o primeiro
filosofo a expôr uma teoria da argumentação, nos Tópicos e na Retórica,
procurando um meio caminho entre Platão e Sofistas, encarando a Retórica como
uma arte que visava descobrir os meios de persuasão possíveis para os vários
argumentos. O seu objetivo é o de obter uma comunicação mais eficaz para o
Saber que é pressuposto como adquirido. A retórica,torna-se
numa arte de falar de modo a persuadir e a convencer diversos auditórios de
que uma dada opinião é preferível à sua rival
4. É neste quadro definido por
Aristóteles que a Retórica irá evoluir, confinando-se à uma arte de compor
discursos que primavam pela sua organização e beleza (estética),
desvalorizando-se a dimensão argumentativa cultivada pelos sofistas.
Esta arte conheceu um grande
desenvolvimento na época helenística. Em Roma, Cícero (político e brilhante
orador, do séc. I a.C), sistematizou os fundamentos da retórica, em duas
obras fundamentais De Oratore et Orator. Considerou-a
uma verdadeira ciência, cujo exercício exige uma enorme cultura. O objetivo
do orador era provar, agradar e comover. A retórica divide-se então em
várias, culminando neste período com Quintiliano (séc.I d.C),cuja única obra
que chegou até nós se chama justamente Institutio Oratoria. A
Retórica torna-se em Oratória, ou seja, na arte de falar bem.
Durante a Idade Média, a argumentação
adquiriu enorme divulgação, nomeadamente entre os clérigos, ocupando um lugar
central na educação (fazia parte do Trivium).
5. Na Idade Moderna, a retórica
continuou a desfrutar ainda de algum prestígio nos países católicos,
recorde-se a esse respeito o notável orador que foi Padre António Vieira. A
tendência do tempo era todavia outra. A Retórica como arte argumentativa
começou a ser completamente desacreditada. Descartes reafirma o primado das
evidências sobre os argumentos verosímeis. Na mesma linha, se
desenvolve o discurso científico. Não se trata de convencer ninguém, mas de
demonstrar com "fatos", "dados", "provas" a
Verdade (única e irrefutável).
6. No século XX a Retórica volta a
ser retomada, em consequência do generalização das teses relativistas e o
descrédito das ideologias. A "Verdade" que os filósofos afirmavam,
não pode ser mais admitida como um ponto de partida para qualquer discussão.
Antes de poder afirmar o que quer que seja como verdadeiro, o filósofo deve
procurar a adesão de um dado auditório para as suas posições. Todas as
filosofias não passam de opiniões plausíveis que devem ser continuamente
demonstradas através de argumentos, também eles meramente plausíveis. Nesse
sentido, toda a filosofia é um espaço sempre em aberto e susceptível de
continuas revisões.
As estratégias argumentativas parecem
estar nitidamente secundarizadas, face às técnicas de persuasão usadas pelos
novos meios de comunicação de massas, como a publicidade ou a
televisão.
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