Marchetaria, ou marqueteria, (fr.: marqueter,
embutir) é a arte ou
técnica de ornamentar as
superfícies planas de móveis, painéis, pisos, tetos, através da aplicação de materiais diversos,
tais como: madeira, metais, madrepérola, pedras, plásticos, marfim e chifres de animais, tendo como principal
suporte a madeira. De acordo com a técnica utilizada pode-se construir objetos
tridimensionais, esculturas,
utilitários, jóias,
etc.
Ofício do folheado
O
mais antigo objeto embutido é uma bacia de pedra calcária da Mesopotâmia,
datado por volta de 3000 a.C.. Um outro exemplo adiantado é um caixão de
madeira da Dinastia
Yin (1300 A.C.-220 D.C.).
Por volta de 350 a.C. foram encontrados em Halicarnasso (cidade
natal de Heródoto e capital do famoso Rei Mausole, cujo túmulo constituiu uma
das sete Maravilhas do Mundo) na Turquia, evidências da técnica do embutimento no
palácio do rei Mausole cujas paredes tinham incrustações em mármore.
Porém
a arte de embutir madeiras coloridas em superfícies de madeira, de modo a
contrastar, para criar projetos artísticos, foi praticada habilidosamente pelosegípcios antigos.
Das minas de cobre próximas
desenvolveram o bronze,
com que fizeram as lâminas dentadas para se usar como serras.
No
túmulo do rei Tutancâmon (18.ª
Dinastia), o trono, a caixa, os cofres e quase todos os móveis são cobertos
literalmente com o embutimento de pedras preciosas, minúsculas telhas
vitrificadas, ouro e marfim embelezavam maravilhosamente artigos de importância
prestigiosa e de cerimônias especiais.
Na
metade do século XVI,
com o aprimoramento das serras e das técnicas, expandiram o embutimento
ilustrado à marchetaria. As partes separadas de um retrato agora seriam
recortadas dos folheados a partir de um projeto. Estas peças eram então juntas
e este conjunto inteiro era colado a um fundo contínuo. Este procedimento tem
uma longa história de nomes, mas é chamado agora geralmente de marquetry,
nos países de língua inglêsa, ou seja, marchetaria.
Marchetaria contemporânea
A
primeira técnica utilizada, tarsia certosina, consistia no recorte de elementos
do material a ser utilizado (pedra, madeira, metal, etc.) e a posterior
incrustação nas cavidades abertas nas superfícies maciças com o auxílio de formões
ou ferramentas similares. Para sua fixação utilizava-se cola.
Posteriormente
desenvolveram-se muitas outras técnicas, as principais utilizadas atualmente
são:
·
Tarsia
a toppo ou marquetery a
bloc - Marchetaria maciça, utilizada na fabricação de utilitários,
bijuteria, filetes decorativos, esculturas.
·
Tarsia
geométrica - Recorte de motivos
geométricos para revestimento de móveis, lambris, caixas, painéis internos,
mesas, cadeiras.
·
Marqueterie
de paille - Marchetaria de palha
(folhas de plantas desidratadas). Mesmas aplicações da tarsia geométrica.
·
Tarsia
a incastro ou technique Boulle - Recorte simultâneo das partes a serem
montadas. Aplicações: Idem acima.
·
Procéde
classique ou element par
element - Recorte separado das partes a serem montadas. Aplicações:
Idem acima.
Após
o desmembramento do Império Romano,
este meio de expressão artística esteve a ponto de perder-se. Entretanto,
alguns poucos fizeram com que subsistisse na Itália, difundindo-se no início do século XIV,
principalmente na região da Toscana. No século XV a
marchetaria é praticada em particular na cidade deFlorença, tendo em Francesco
di Giovanni di Mateo,
fundador da Escola Florentina de Arte, seu principal expoente.
Os
mais célebres artesãos exerciam seu "metier" na região da Toscana;
nesta época é criada a tarsia geométrica, as superfícies a serem decoradas eram
inteiramente recobertas com folhas de madeira em lugar das incrustações. Nesta
mesma época inicia-se o tingimento das madeiras com o uso de óleospenetrantes, corantes diluídos em água aquecida
e ácidos. Areia aquecida é utilizada para o sombreamento das obras.
Os
artistas geralmente são contratados para decorar igrejas e palácios, durante a Renascença é
criado a tarsia a toppo ou marchetaria maciça. Atualmente este procedimento é
utilizado pelas indústrias de filetes decorativos.
A
arte da marchetaria segue evoluindo com os mestres italianos que retratam em
suas obras os edifícios característicos de suas vilas, ruas, praças, e também
paisagens. Na segunda metade do século XVI,
muitos gabinetes (tipo de móvel) são decorados com folhas
de ébano;
esta madeira que havia sido também utilizada nos sarcófagos dos faraós se
prestava para ser esculpida em baixo-relevo,
no entanto, por esta madeira ser cara e rara, era substituída pela pereira enegrecida com auxílio de extrato de nogueira.
Em
várias partes do mundo a marchetaria era e ainda é produzida através dos
procedimentos da tarsia certosina (incrustações) e da tarsia
geometrica(revestimentos). No Extremo Oriente são
conhecidos, sobretudo, os efeitos obtidos pelas incrustações de madrepérola na
madeira maciça.
No Oriente e nos países muçulmanos muitos móveis e
pequenos objetos são revestidos com motivos geométricos. As técnicas de corte e
o ferramental seguem evoluindo, possibilitando assim que o corte das madeiras
passe a ser feito de uma nova maneira, porém mais eficiente. Isto permite o
corte de traços sinuosos com muita precisão e assim um maior detalhamento e
maior nitidez de motivos complexos.
Por
volta de 1620,
sob a influência da marchetaria italiana, os motivos predominantes são as
grotescas e arabescos. As técnicas de corte evoluem possibilitando detalhes
cada vez mais minuciosos, e é nesta época que surge na Alemanha a tarsia a incastro (recorte
simultâneo das partes a serem montadas).
Mais
tarde André-Charles Boulle, ebanista do Rei Luís XIV,
aperfeiçoa esta técnica agregando vários materiais, tais como folhas de cobre, latão, casco de tartaruga, placas de osso e marfim.
Com
o passar do tempo, a marchetaria entra em uma fase de decadência, mantida por
não mais do que uma centena de artistas, ressurgindo, porém com o advento
da Art Nouveau aparecem
então os motivos estilizados tais como: flores, pássaros, borboletas, insetos,
etc.
Atualmente
existem na Europa, América do Norte e Austrália muitos
ateliês de marchetaria e associações de marcheteiros dispostos a não somente
manter as antigas tradições da arte em madeira com refinadas criações
artísticas de caráter contemporâneo, mas também as restaurações de obras
antigas. Ao longo do ano são realizadas várias exposições e há um mercado já
consolidado neste campo.
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