Romance de Bernardo
Guimarães
Resumo da Obra
O
ENREDO
A história se passa nos
"primeiros anos do reinado de D. Pedro II", inicialmente em uma
fazenda em
Campos dos Goitacazes (RJ). Isaura, escrava branca e bem-educada, é
assediada pelo seu senhor, Leôncio, recém-casado com Malvina. Isaura se recusa
a ceder aos apelos de Leôncio, como já fizera, no passado, sua mãe, que, por
ter repelido o pai de Leôncio, fora submetida a um tratamento tão cruel que, em
pouco tempo, morrera.
Para forçá-la a ceder, Leôncio manda
Isaura para a senzala, trabalhar com as outras escravas. Sempre resignada,
suporta passivamente o seu destino, porém, não cede a Leôncio, afirmando que
ele, como proprietário, era senhor de seu corpo, mas não de seu coração: "
- Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem
o próprio dono." Leôncio, enfurecido, ameaça colocá-la no tronco.
No entanto, seu pai, ex-feitor da
fazendo, consegue tirá-la de lá e foge com ela para Recife (PE). Em Recife,
Isaura usa o nome de Elvira e vive reclusa numa pequena casa com seu pai. Então,
conhece Álvaro, por quem se apaixona e é correspondida.
Vai a um baile com ele, onde é
desmascarada e reconhecida. Álvaro, ainda que surpreso, não se importa com o
fato de ela ser uma escrava e resolve impedir que Leôncio a leve de volta,
inclusive tentando comprá-la. Mas não consegue convencer o vilão, e este leva
Isaura de volta ao cativeiro na fazenda.
Leôncio está praticamente falido e, com
o objetivo de conseguir um empréstimo do pai de Malvina, consegue se
reconciliar com a mulher, afirmando que Isaura é quem o assediava. Então, para
punir Isaura, Leôncio manda que ela se case com Belchior, jardineiro da
fazenda.
Entretanto, Álvaro descobre a falência
de Leôncio e compra a dívida dos seus credores, tornando-se proprietário de
todos os seus bens, inclusive de seus escravos. No dia do casamento de Isaura,
antes que se celebrasse a cerimônia, Álvaro aparece e reclama seus direitos a
Leôncio. Vendo-se derrotado e na miséria, Leôncio suicida-se. Tudo termina,
portanto, com a punição dos culpados e o triunfo dos justos.
Como bem o sintetizou Carlos Alberto
Vecchi:
O Amor, epicentro onde se debatem o Bem
e o Mal, torna-se a força motriz que conduz ao restabelecimento do equilíbrio e
da felicidade a todos que, em momento algum, se deixaram intimidar pelos
desmandos de Leôncio. O Mal extirpado (o suicídio de Leôncio) cede lugar ao
Bem. E aqueles que nortearam suas ações pelas virtudes maiores é que estão
aptos a receber o prêmio daí decorrente."
OS
PERSONAGENS
A obra apresenta a tríade comum
aos romances populares românticos: vilão, heroína e herói. E, graças à ausência
de profundidade com que são construídos, os personagens do romance são planos,
estáticos e superficiais.
Isaura, a heroína escrava, é branca,
pura, virginal, possui um caráter nobre e demonstra "conhecer o seu
lugar": do princípio ao fim, suporta conformada a perseguição de Leôncio,
as propostas de Henrique, as desconfianças de Malvina, sem jamais se revoltar.
Permanece emocionalmente escrava, mesmo
tendo sido educada como uma dama da sociedade. Tem escrúpulos de passar por
branca livre, acha-se indigna do amor de Álvaro e termina como a própria imagem
da "virtude recompensada".
Descrição
de Isaura na criação do autor
"A tez é como o marfim do teclado,
alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis
dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. (.) Na fronte calma e lisa
como o mármore polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e suave reflexo;
di-la-íeis misteriosa lâmpada de alabastro guardando no seio diáfano o fogo
celeste da inspiração."
Leôncio é o vilão leviano, devasso e
insensível que, de "criança incorrigível e insubordinada" e
adolescente que sangra a carteira do pai com suas aventuras, acaba por
tornar-se um homem cruel e inescrupuloso, casando-se com Malvina, linda,
ingênua e rica, por ser "um meio mais suave e natural de adquirir
fortuna". Persegue Isaura e se recusa a cumprir a vontade de sua mãe, já
falecida, que queria dar a ela a liberdade e alguma renda para viver com dignidade.
Álvaro é um rico herdeiro, cavalheiro
nobre e de caráter impecável, que "tinha ódio a todos os privilégios e
distinções sociais, e é escusado dizer que era liberal, republicano e quase
socialista"; um jovem de ideias igualitárias, idealista e corajoso para lutar
contra os valores da sociedade a que pertence. Sua conduta moral é assim
descrita pelo autor:
"Original e excêntrico como um
rico lorde inglês, professava em seus costumes a pureza e severidade de um
quacker. Todavia, como homem de imaginação viva e coração impressionável, não
deixava de amar os prazeres, o luxo, a elegância, e sobretudo as mulheres, mas
com certo platonismo delicado, certa pureza ideal, próprios das almas elevadas
e dos corações bem formados."
Apaixonado por Isaura, o grande
obstáculo que Álvaro precisa vencer é o fato de ser Isaura propriedade legítima
de Leôncio. Para isso, vai à corte, descobre a falência de Leôncio, adquire
seus bens e desmascara o vilão. Liberta Isaura e casa-se com ela, desafiando,
assim, os preconceitos da sociedade escravocrata.
Nos demais personagens o processo de
construção é o mesmo. Miguel, pai de Isaura, foge do conceito tradicional do
mau feitor. Quando feitor da fazenda de Leôncio, tratara bem aos escravos e
amparara Juliana, mãe de Isaura, nas suas desditas com o pai de Leôncio. Pai
extremoso, deseja libertar a filha do jugo da escravidão e não mede esforços
para isso.
Martinho é o protótipo do ganancioso:
cabeça grande, cara larga, feições grosseiras e "no fundo de seus olhos
pardos e pequeninos,. reluz constantemente um raio de velhacaria". Por
querer ganhar muito dinheiro entregando Isaura ao seu senhor, acaba por não
ganhar nada.
Já Belchior é o símbolo da estupidez
submissa e também sua descrição física se presta a demonstrar sua conduta:
feio, cabeludo, atarracado e corcunda. O crítico Manuel Cavalcanti Proença
aponta "o parentesco entre o disforme e grotesco (de gruta) Belchior, e o
Quasímodo de O Corcunda de Notre Dame, de Víctor Hugo, romance de
extraordinária voga, ainda não de todo perdida, no Brasil."
O Dr. Geraldo é um advogado
conceituado, que serve como fiel da balança para Álvaro, já que procura
equilibrar os arroubos do amigo, mostrando-lhe a realidade dos fatos.
Quando Álvaro, revoltado com a condição
de Isaura e indignado com os horrores da escravidão, dispõe-se a unir-se a ela,
mesmo sabendo que escandalizaria a sociedade, Geraldo retruca lucidamente que a
fortuna de Álvaro lhe dá independência para "satisfazer os teus sonhos
filantrópicos e os caprichos de tua imaginação romanesca". O que não é, na
verdade, característica restrita apenas à sociedade escravocrata do século XIX.
Fonte: Mundo Vestibular
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