Alice's
Adventures in Wonderland,
frequentemente abreviado para Alice in Wonderland (Alice
no País das Maravilhas) é a obra mais conhecida de Charles Lutwidge Dodgson, publicada a 4 de julho
de 1865 sob o pseudônimo de Lewis Carroll.
É uma das obras mais célebres do gênero literário nonsense.
O livro conta a história de uma menina chamada Alice que cai numa toca de
coelho que a transporta para um lugar fantástico povoado por criaturas
peculiares eantropomórficas, revelando uma lógica
do absurdo característica dos sonhos. Este está repleto de alusões satíricas dirigidas tanto aos amigos como aos
inimigos de Carrol,
de paródias a
poemas populares infantis ingleses ensinados no século XIX e
também de referências linguísticas e matemáticas frequentemente através
de enigmas que
contribuíram para a sua popularidade. É assim uma obra de difícil interpretação
pois contém dois livros num só texto: um para crianças e outro para adultos.
Este
livro possui uma continuação Alice do
Outro Lado do Espelho,
e ambos influenciam ainda diversos autores e filmes como A Liga
Extraordinária, de Alan Moore e Sandman, de Neil Gaiman.
Origem
Retrato de Dodgson em 1863.
Retrato de Alice
Liddell no Verão de 1858.
A
4 de 1862,
durante um passeio de barco pelo rio Tâmisa, Charles Lutwidge Dodson, na companhia do seu amigo Robinson Duckworth, conta uma história de
improviso para entreter as três irmãs Liddell (Lorina Charlotte, Edith Mary
e Alice
Pleasance Liddell). Eram filhas de Henry George
Liddell, o vice-chanceler da
Universidade deOxford e
decano da Christ
Church, bem como director da escola
de Westminster. A maior parte das aventuras foram baseadas e influenciadas em
pessoas, situações e edifícios de Oxford e da Christ Church, por exemplo, o Buraco
do Coelho (Rabbit Hole) simbolizava as escadas na parte de trás do salão
principal na Christ Church. Acredita-se que uma escultura de um grifo e de um coelho presente na Catedral de Ripon, onde o pai de Carroll foi
um membro, forneceu também inspiração para o conto1 .
Essa
história imprevista deu origem, a 26 de Novembro de 1864, ao manuscrito de Alice Debaixo da
Terra (título original Alice's Adventures Under Ground)
com a finalidade de oferecer a Alice
Pleasance Liddell a história transcrita
para o papel.2
Mais
tarde, influenciado tanto pelos seus amigos como pelo seu mentor George MacDonald (também
escritor de literatura infantil), decidiu publicar o livro e mudou a versão
original, aumentando de 18 mil palavras para 35 mil, acrescentando notavelmente
as cenas do Gato de Cheshire e do Chapeleiro Louco (ou
Chapeleiro Maluco).2
Deste
modo, a 4 de Julho de 1865 (precisamente
três anos após a viagem) a história de Dodgson foi
publicada na forma como é conhecida hoje, com ilustrações de John Tenniel.
Porém a tiragem inicial de dois mil exemplares foi removida das prateleiras
devido a reclamações do ilustrador sobre a qualidade da impressãonota 1 .
A segunda tiragem, ostentando a data de 1866, ainda que tenha sido impressa em Dezembro
de 1865,
esgotou-se nas vendas rapidamente, tornando-se um grande sucesso, tendo sido
lida por Oscar Wilde e
pela rainha Vitória. Na vida do autor, o livro rendeu cerca de 180 mil cópiasnota 2 .
Foi traduzida para mais de 125 línguas e só na língua inglesa teve mais de 100
edições.
Em 1998, a primeira impressão do livro (que fora
rejeitada) foi leiloada por 1,5 milhão de dólares americanos.
Algumas
impressões desta obra contêm tanto As Aventuras de Alice no País das
Maravilhas, como também a sua sequência Alice no
Outro Lado do Espelho.
Enredo
As
ilustrações originais de John Tenniel,
não dão a aparência real de Alice Liddell,
que tinha cabelo escuro e uma franja curta. Diz uma lenda que Carroll enviou ao
ilustrador uma fotografia de Maria Hilton Tennielowi Babcock, outra amiga do
autor, mas não está definido se Tenniel realmente utilizou-a como modelo.
O
livro começa com um poema, explicando a génese da sua criação, onde descreve
uma viagem no rio Tâmisa.
1. Pela toca do Coelho
Título
Original: Down the Rabbit-Hole.
Enquanto
passa preguiçosamente o tempo com sua irmã, Alice vê o Coelho Branco de colete,
carregando um relógio de bolso. Supreendida, segue-o até à toca do coelho e cai
nela, revelando-lhe a sua longa profundidade como um poço e as suas paredes
repletas de prateleiras cheias de objetos estranhos,quadros e de livros. Após
uma aterrissagem segura num átrio, Alice vê uma pequena mesa de vidro maciço e
em cima dela havia uma pequena chave dourada. À procura de fechaduras
correspondentes, descobre, atrás de uma cortina, a pequena porta e através
desta Alice vê maravilhada um lindo jardim. No entanto, a porta é muito pequena
para ela conseguir entrar. Mas devido a uma pequena garrafa com uma
etiqueta BEBA-ME, Alice diminui de tamanho ao bebê-la.
Infelizmente, esquece-se da chave que entretanto tinha posto em cima da mesa e
agora não consegue alcançá-la. No final, descobre um bolo com as palavras COMA-ME escrito
e ao comê-lo o tamanho de Alice aumenta, e ela fica enorme.
2. A Lagoa de Lágrimas
Título
Original: The Pool of Tears.
Como
resultado de comer o bolo, Alice cresce até atingir 2,5 metros de altura.
Triste por não conseguir entrar no jardim, chora tanto que cria um lago de
lágrimas. O Coelho Branco atravessa o átrio e ao ver Alice tão grande, deixou
cair as luvas brancas e o leque que trazia enquanto fugia rapidamente. Alice
apanhou-os do chão, e como estava calor, não parou de refrescar-se com o leque
que, sem se aperceber de imediato, reduziu-lhe a altura; mas felizmente ela
parou de o abanar antes do seu desaparecimento total. Entretanto escorregou e
mergulhou até ao pescoço no lago de lágrimas que ela própria criou. Aí encontra
o Rato que acaba por a ajudar a atravessar o lago. Na costa, encontra uma
grande quantidade de aves e outros animais; todos molhados tentam assim arranjar
uma solução para secarem o pêlo e as penas, preocupados com as doenças que
poderiam apanhar se continuassem encharcados.
3. Uma Corrida de comitê e Uma Historia comprida
Título
Original: A Caucus-Race and a Long Tale.
Um Dodô decide que os todos devem ser secos
através da Corrida Eleitoral, onde não existem regras excepto a que
obriga a correr apenas em círculos. Meia hora depois a corrida acaba e todos
ganham, concluindo que todos devem receber prémios. Alice dispõe então, à ordem
de Dodô, os seus doces que estavam nos bolsos como recompensa; ela obtém
igualmente uma recompensa, mas no seu caso é apenas um dedal. De seguida o Rato
conta-lhes a sua história longa e triste acerca da origem do seu ódio por gatos
e cães. O capítulo termina quando Alice deixa finalmente os corredores do
átrio.
4. O Coelho da um encargo a Bill
Título
Original: The Rabbit Sends in a Little Bill
O
Coelho Branco passa por Alice e, confundindo-a com o seu servo, ordena-lhe
apressadamente para trazer umas luvas e um leque. Alice vai imediatamente à sua
casa procurar; porém encontra uma garrafa com a inscrição BEBE-ME e
bebe-a sem demoras. Consequentemente o seu tamanho aumenta tanto que ocupa
totalmente a casa. Impedido de entrar, o Coelho Branco manda o seu servo, um
lagarto chamado Bill, entrar pela chaminé da casa, mas Alice dá-lhe um pontapé
que o faz voar. O Coelho Branco começa a atirar pedras pela janela que, quando
caiam no chão, transformam-se em bolos com uma aparência deliciosa. Alice come
alguns e transforma-se novamente em pequena. Sai então de casa e encontra uma
multidão de animais à sua espera, que ao vê-la precipitam-se na sua direção.
Assustada Alice foge para um denso bosque, onde encontra primeiro um grande
cachorro e depois aLagarta azul sentada num cogumelo a fumar calmamente o seu Narguilé.
5. Conselhos de uma Lagarta
Título
Original: Advice from a Caterpillar.
Durante
a conversa com a Lagarta azul, Alice admite a sua crise de identidade causada
pelas constantes transformações no tamanho e agravada pela perda da habilidade
de recitar poemas. Entretanto a Lagarta revela-lhe que um dos lados do cogumelo
faz crescer e a outra diminuir. Já sozinha, Alice tenta primeiro o lado direito
e diminui tanto de altura que até acerta com a cabeça nos próprios pés. De
seguida experimenta o lado esquerdo e cresce de tal forma que atinge a copa de
uma árvore onde pousava um pombo que, assustado com o longo pescoço dela, está
determinado de que Alice é uma serpente que tem a intenção de comer os seus
ovos. Alice tenta convencê-lo que é apenas uma menina e imediatamente come um
segundo pedaço do cogumelo, retornando ao seu tamanho normal.
6. Porco e Pimenta
Título
Original: Pig and Pepper.
Um
Peixe-Lacaio entrega a um Sapo-Lacaio um convite para a Duquesa da casa. Alice
observa esta operação curiosa e, após uma conversa com o sapo que a deixa
perplexa, atreve-se a entrar na casa. Depara-se com a cozinheira da Duquesa a
atirar pratos e frigideiras contra esta e a fazer uma sopa simultaneamente, mas
utiliza tanta pimenta nela que todos na divisão - a Duquesa, o bebé e a própria
Alice - espirram violentamente, com a excepção da cozinheira e do Gato de Cheshire.
Irritada com o bebé que não parava de berrar e chorar, a Duquesa atira-o para
os braços de Alice e parte para ir jogar críquete com a Rainha. Indignada com a
violência que acaba de presenciar, Alice leva o bebé consigo para o bosque, mas
para a sua surpresa o pequeno transforma-se num porco, abandonando-o nesse
mesmo instante. Por fim encontra o Gato de Cheshire e
pergunta-lhe o que tem que fazer para entrar naquele lindo jardim que havia por
detrás da pequena porta inicial e, não obtendo uma resposta concreta, questiona
a existência de criaturas que não sejam loucas no lugar onde se encontra.
O Gato de Cheshire responde-lhe que todos são loucos, inclusive o próprio e Alice,
acabando por lhe indicar a hipótese de visitar o Chapeleiro Louco ou a Lebre
de Março e desaparece lentamente, deixando apenas o seu sorriso. Após
ter escolhido a última na esperança de se não tratar de uma criatura louca,
apesar de ter ouvido o que o gato disse, parte imediatamente.
7. Um chá de loucos
Título Original: A Mad Tea Party.
Alice
faz-se de convidada duma festa de chá louco, onde estão presentes o Chapeleiro Maluco, a Lebre de
Março e o Arganaz que permanece adormecido durante uma
grande parte da festa.Todos eles desafiam Alice com enigmas lógicos, porém
estes revelam uma incoerência nas suas declarações. O Chapeleiro Maluco revela
que está perpetuamente destinado a beber chá porque o Tempo puniu-o em
vingança, parando o tempo às 6 da tarde, a hora do
chá. Alice sente-se insultada e
cansada de ser bombardeada com tantos enigmas.Alice sai imediatamente,
afirmando que esta era a festa mais estúpida de chá em que já tinha ido.
Entretanto encontra uma porta num tronco de uma árvore e entra, voltando
novamente para o átrio inicial. Desta vez, abre primeiro a pequena porta,
depois come um pedaço do cogumelo que estava guardado no bolso e por fim entra
apressadamente no tão desejado jardim...
8. O Campo de Croqué da Rainha de Copas
Título
Original: The Queen's Croquet Ground.
No
jardim vê três cartas de um baralho a discutirem entre si enquanto pintam rosas
brancas com tinta vermelha, dado que a Rainha de Copas odeia rosas brancas. Mas
são interrompidos por uma procissão de
cartões, onde estão presentes os reis, as rainhas e até mesmo o Coelho Branco.
Alice conhece então o Rei e a Rainha de Copas, revelando-lhe que a Rainha é uma
figura difícil de agradar, ao introduzir sua deixa de marca, Cortem-lhe
a cabeça!, que expressa à menor insatisfação. Entretanto é convidada (ou
ordenada) para jogar uma partida de críquete com a Rainha e o resto dos seus
súbitos. Porém rapidamente instala-se o caos durante o jogo. São
utilizados flamingosvivos
como marretas, ouriços como bolas e cartas vivas como balizas. Na
confusão Alice vê, para seu agrado, o Gato de Cheshire.
Em seguida a Rainha de Copas ordena que o gato seja decapitado, mas o capataz
recusa-se a cumprir a ordem porque só aparece a cabeça do gato no campo e por
ser velho para começar a cortar cabeças sem corpo. Devido ao fato do gato
pertencer à Duquesa, a Rainha solicíta a liberação Duquesa da prisão para
resolver a questão.
9. A História da Tartaruga Falsa
Título Original: The Mock Turtle's story.
Quando
a Duquesa aparece no campo, vai ao encontro de Alice com uma grande simpatia, e
durante uma conversa admite a sua pretensão para encontrar uma moral em tudo ao
seu redor, mesmo que não faça relação ou sentido. A Rainha de Copas despede-se
dela sobre a ameaça de execução e apresenta Alice ao Grifo, sob o pretexto de a
levar apresentar à Tartaruga Fingida. Quando a encontram, ela demonstra-se
muito triste, mesmo que não tenha motivos para sentir tristeza. A Tartaruga
conta a sua história onde tenta justificar o seu estado depressivo, narrando
com nostalgia o tempo em que vivia no mar, em que era uma verdadeira tartaruga,
mas o Grifo interrompe-a de modo a poderem começar um jogo.
10.A Quadrilha da lagosta
Título
Original: The Lobster dance.
A
Falsa Tartaruga e o Grifo dançam a Contradança das Lagostas, e
depois Alice recita, embora incorrectamente, o poema Disse o preguiçoso.
A Falsa Tartaruga canta por fim a Sopa da Tartaruga, durante a qual
o Grifo arrasta Alice para longe, de modo a irem assistir a um julgamento que
estava prestes a dar início.
11. Quem Roubou as Tortas?
Título
Original: Who Stole the Tarts?.
O Valete
de Copas é levado a julgamento, acusado de roubar as tortas da Rainha.
No jurado há doze animais, incluindo o lagarto Bill, o juiz é o Rei de Copas, e
o cargo de oficial de diligências é desempenhado pelo Coelho Branco. A primeira
testemunha é o Chapeleiro Louco, que não ajuda no processo, mas antes torna o
Rei impaciente. A segunda testemunha é a cozinheira da Duquesa, e a outra
testemunha é a própria Alice, que desde o início do julgamento começou a
crescer novamente.
12. O Depoimento de Alice
Título
Original: Alice's Evidence.
Alice
derruba acidentalmente os jurados e à ordem do Rei, os animais terão de ser
colocados de volta aos seus lugares antes do julgamento continuar. Depois o Rei
cita um artigo do seu caderno (Todas as pessoas mais de uma milha de altura
devem deixar o órgão), mas Alice contesta a validade da restrição e
recusa-se a sair. É provocada assim uma discussão de Alice com o Rei e com a
Rainha de Copas, enfatizando as atitudes ridículas cometidas durante todo
julgamento. A Rainha ordena tipicamente Cortem-lhe a cabeça!, mas
Alice não tem medo, por ser agora muito alta, confrontando-a com o facto de
serem apenas um baralho de
cartas e de seguida todos revoltam-se e atacam-na. Mas de repente a Irmã de
Alice faz-lhe acordar para ir tomar um chá, tirando do seu rosto folhas que
caíram e não uma chuva de cartas de jogar. Alice conta tudo o que sonhou e
retorna a casa, deixando a irmã, que ficou a sonhar o sonho de infância das
Maravilhas de Alice.
Personagens
Ilustração de Alice cercada pelos personagens do
País das Maravilhas, Peter
Newell. (1890)
Personagens
listadas consoante a ordem de aparição nas páginas da obra.
·
Alice:
é a protagonista da história; Tem cabelo loiro amarrado por uma faixa preta; É
racional e corajosa, e vai fazendo considerações à medida que a aventura
prossegue.
·
Coelho Branco (no original em inglês: White Rabbit): é quem inicia a aventura, quando Alice o segue até a toca. Ele
carrega um relógio e parece estar muito atrasado para alguma coisa. Em
contraste com a Alice, o Coelho Branco tem medo de tudo - da sua rainha, da
Alice e das próprias situações onde se encontra. Esta oposição foi pretendida
pelo autor para enfatizar os atributos positivos da personalidade principal. E
durante o julgamento de um valete de copas (o último capítulo), dá-se uma
mudança repentina na covardia, revelando uma vontade de manipular.
·
Rato: Revela um grande pavor de gatos e um carácter
muito seco quando cita a História com a intenção de secar os animais molhados,
deixando-os antes aborrecidos e molhados (terceiro capítulo). Provavelmente foi
baseado numa governanta da casa das irmãs Liddell.
·
Dodô (no original em inglês: Dodo):
É uma caricatura do autor, e este terá usado o nome numa paródia ao modo como
ele pronunciava o próprio nome, uma vez que era gago (Do... do... Dodgson);
Usa palavras excessivamente complicadas.
·
Arara: Personificação da irmã Loriny Liddell.
·
Pato (no original em inglês: Duck):
É uma caricatura do reverendo Robinson Duckworth, amigo do autor que esteve
presente na viagem pelo rioTâmisa que deu origem à obra presente.
·
Aguieta (no original em inglês: Eaglet):
Reflexão da irmã Edith Liddell e não entende as palavras muito difíceis.
·
Lagarto: É o humilde servo do Coelho Branco que é
empurrado por Alice pela chaminé a cima (quarto capítulo) e mais tarde é um dos
jurados durante o julgamento de um valete de copas (décimo primeiro capítulo).
Esta personagem (Bill), pode ser uma brincadeira com o nome do estadista
britânico Benjamin Disraeli, pois uma das ilustrações de Tenniel em Alice no
Outro Lado do Espelho retrata
a personagem referida como o Man in White Paper (quem Alice
conhece como um passageiro com quem partilha um trem no comboio), como uma
caricatura de Disraeli, usando um chapéu de papel.8
·
Lagarta (no original em inglês: Caterpillar): Está sentada num cogumelo a fumar calmamente um cachimbo de água. Não presta muita atenção a Alice, respondendo às suas perguntas commonossílabos.
·
Duquesa: Muito feia, com um queixo pontiagudo.
Concordava com tudo que Alice dizia e procurava issentemente uma moral para
tudo, embora raramente tivesse relação ou sentido (oitavo capítulo).
·
Gato de Cheshire ou Gato Risonho: É extremamente independente e
consegue desaparecer e aparecer. Carroll obteve o nome na expressão idiomática
da língua inglesa sorrir como um gato de Cheshire. Além disso, o
gato representado nas figuras de Tenniel é considerado representativo da
raça British Shorthair, devido à forma da boca, considerada como
um sorriso9 .
·
Chapeleiro
maluco e a Lebre de
Março (no original em inglês: Mad Hatter and the March Hare): São figuras retiradas de expressões correntes no período vitoriano da
língua inglesa louco como uma Lebre de Março ou louco
como um Chapeleiro, devido ao vapor de mercúrio usado na fabricação de
feltro que causa transtornos psicóticos10 ;
O Chapeleiro Louco é provavelmente uma referência a Teófilo Carter, um
conhecido comerciante de móveis em Oxford pelas suas invenções pouco ortodoxas e
pelo uso de uma cartola na parte de trás da cabeça à porta da sua loja 11 ;
São ambos totalmente loucos (como todos os moradores do País das Maravilhas,
segundo o Gato Risonho). Estão perpetuamente na hora do chá, porque, segundo eles, o Chapeleiro discutiu no
mês de Março com o Tempo e, em vingança, este não muda a hora para os dois
habitantes. O Chapeleiro aparentemente teve problemas com a Rainha ao cantar
uma música na sua presença, pelo que esta sentenciou a sua decapitação sob o
pretexto de estar a matar o Tempo.
·
Arganaz (no original em inglês: Dormouse): Está constantemente a dormir e ocasionalmente acorda durante alguns
segundos. Conta uma história sobre três irmãs, nomeando-as de Elsie, Lacie e
Tillie. Estas são as irmãs Liddell: Elsie é LC (Lorina Charlotte), Tillie é
Edith (seu apelido de família é Matilda), e LaCie é um anagrama de Alice.
·
Rainha de
Copas (no original em inglês: Queen of Hearts): É talvez a caricatura da mãe das irmãs Liddell; É extremamente
autoritária e impulsiva, estando constantemente a ordenar aos seus soldados
(cartas de baralho) decapitar todos. Porém o Grifo disse que tal é apenas uma
fantasia dela, uma vez que depois ninguém morre.
·
Valete
de Copas: Inicialmente é o criado que
transporta a coroa do Rei, mas mais tarde é acusado de roubo de tarte (décimo
primeiro capítulo).
·
Rei
de Copas: O rei tem menos influência
do que ela, pelo que vive na sombra desta; É talvez a caricatura do pai das
irmãs Liddell.
·
Grifo: Diz as piores deixas, em contraste à sua
antiga linhagem. Provavelmente é uma caricatura dos estudantes do colégio onde
leccionava o escritor (é o brasão de armas do Trinity College,
em Oxford,
e aparece no respectivo portão10 ).
·
Tartaruga
Fingida (no original em inglês: Mock-Turtle): É uma triste vítima do destino, pois foi em tempos uma tartaruga de
verdade que vivia no mar. O nome tem origem na Sopa de Tartaruga
Fingida(no original em inglês: Mock-Turtle Soup) vulgar na Inglaterra,
sendo um caldo verde feito com cabeça de vitela de modo a imitar sopa de
tartaruga10 .
Daí Tenniel ter ilustrado esta figura com uma cabeça de bezerro, cauda e
pernas; Esta personagem fala de um professor de Despenho que
era um Congro, que costumava ensinar-lhe uma vez por semana Despenho,
Destroço e Tintura a Carvão. Esta é uma referência ao crítico de arte John Ruskin,
que ia uma vez por semana a casa de Liddell ensinar Desenho e Pintura a óleo às
irmãs.nota 4 ;
A personagem também canta "Sopa de Tartaruga", uma paródia a Bela Estrela (Beautiful
Star), que foi executada como um trio por Lorina, Alice e Edith Liddell
para Carroll em casa de Liddell, durante o mesmo verão em que foi contada a história
de As Aventuras de Alice Debaixo da Terra.12
|
Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e então, pare.
|
— Lewis
Carroll em Alice no País das Maravilhas
|
Equívocos sobre personagens
Embora
o Jabberwocky seja muitas vezes confundido como personagem
desta obra, na verdade só aparece na sua sequência, Alice no
Outro Lado do Espelho.
É, no entanto, muitas vezes incluído nas versões de cinema, que geralmente são chamados simplesmente
de Alice no País das Maravilhas, causando a confusão. A Rainha
de Copas é igualmente confundida com a Rainha Vermelha,
que aparece na sequência da história, Alice no
Outro Lado do Espelho,
mas não têm nenhuma característica em comum, exceto o caráter de serem ambas
rainhas. A Rainha de Copas pertence a um baralho de cartas que está presente no primeiro
livro, enquanto a Rainha Vermelha é representada por uma peça
de xadrez vermelha, dado que o xadrez é o tema presente do segundo livro.
Simbolismo
O
livro pode ser interpretado de várias maneiras. Uma das interpretações diz que
a história representa a adolescência, com uma entrada súbita e inesperada (a
queda na toca do coelho, iniciando a aventura), além das diversas mudanças de
tamanho e a confusão que isso causa em Alice, ao ponto de ela dizer que não sabe
mais quem é após tantas transformações (o que se identifica com a psicologia
adolescente).
Matemática
Uma
vez que Lewis Carroll era professor de matemática na Christ Church,
da Universidade
de Cambridge é sugerida13 14 a
existência de muitas referências e de conceitos matemáticos, tanto nesta obra,
como na Alice no
Outro Lado do Espelho.
Alguns exemplos:
·
No
capítulo 1, No Buraco do Coelho, durante o processo de encolhimento
da altura, Alice faz considerações filosóficas acerca do tamanho final com que
ficará, com receio de talvez acabar pordesaparecer completamente, como uma
vela. Esta observação reflecte o conceito do limite de uma função;
·
No
capítulo 2, No Lago das Lágrimas, Alice tenta fazer multiplicações,
mas acaba por produzir uns resultados estranhos: "Deixa-me cá ver: quatro
vezes cinco são doze, e quatro vezes seis são treze, e quatro vezes sete são...
Oh, meu Deus!Por este andar nunca mais chego aos vinte!. É assim exposto a
representação de números utilizando bases diferentes e sistemas numerais
posicionais (4 x 5 = 12 na base 18 notação; 4 x 6 = 13 na base 21 notação; 7 x
4 poderiam ser 14 na base 24 notação, seguindo a sequência).
·
No
capítulo 5, Conselhos de Uma Lagarta, o Pombo afirma que as meninas
são uma espécie de serpentes, pois ambos seres comem ovos. Esta observação é um conceito geral de abstração que
ocorre frequentemente em diversos âmbitos da ciência; um exemplo da utilização deste raciocínio
na matemática é
a substituição de variáveis.
·
No
capítulo 7, O Chá dos Loucos, a Lebre de Março, o Chapeleiro Louco
e o Arganaz dão vários exemplos em que o valor semântico de
uma frase X não é o mesmo que o valor do inverso de X (por exemplo, Não
é nada a mesma coisa!(...)Ora, nesse caso também podias dizer que "Vejo o
que como" é a mesma coisa que "Como o que vejo"!); No ramo
da lógica e
da matematica este conceito é uma relação inversa.
·
Também
no capítulo 7, Alice pondera o significado da situação quando o grupo faz a
rotação dos lugares ao redor da mesa circular, colocando-os de volta ao início.
Esta é uma representação da adição de um anel do módulo inteiro de N.
·
No
capítulo 6 e 8, o Gato de Cheshire desvanece
, deixando apenas o seu sorriso largo, suspenso no ar, levando a Alice
maravilha a notar que já viu um gato sem um sorriso, mas nunca um sorriso sem
um gato. É feita aqui uma profunda abstração de vários conceitos matemáticos
(geometria não-Euclidiana, álgebra abstracta, o início da lógica matemática,
etc), delineando, através da relação entre o gato e o próprio sorriso, o
próprio conceito de matemática e o número em si. Por exemplo, no lugar de
considerar duas ou três maçãs, considera-se antes os conceito de dois e
de três por si só, separados do conceito de maçã,
como o sorriso que, aparentemente pertence ao gato original, é
separado conceitualmente do resto do corpo físico.
Língua francesa
Tem
sido sugerido por várias identidades, entre os quais Martin Gardner e Goodacre
Selwyn13 que Dodgson tinha
interesse na língua francesa,
criando referências e trocadilhos ao longo da obra, provavelmente influênciado
pelas aulas de francês, uma característica muito comum na educação feminina
vitoriana. Por exemplo:
·
No
segundo capítulo, Alice dirige-se ao Rato utilizando a língua francesa,Où
est ma chatte?( Onde está a minha gata?), julgando que este não
percebia inglês, uma vez que não lhe respondia. nota 5
·
No
capítulo 4, o Lagarto diz ao Coelho Branco que estava a desenterrar
maçãs, uma provável referência à expressão pomme de terre, que
significa "batata" em francês mas a tradução literal dessa expressão
é "maçã da terra".
Línguas clássicas
No
segundo capítulo, Alice chama inicialmente o rato como Oh Rato,
baseada na vaga memória de quando leu a Gramática Latina do
irmão: Um rato (nominativo) - de um rato (genitivo) - para um rato (dativo) - um rato (acusativo) - O rato! (vocativo).
Referências históricas
No
capítulo oitavo, três cartas estão a pintar rosas brancas de vermelho, porque
acidentalmente plantaram uma roseira de rosas brancas, cor que a Rainha odeia.
As rosas vermelhas simbolizam a Casa Inglesa de Lancaster, enquanto
as rosas brancas são um símbolo da casa rival York, fazendo deste
modo alusão à Guerra das Duas Rosas.
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