(Aleluia!)
Fernando Alcoforado*
O
resultado do julgamento que condenou a todos os envolvidos no “mensalão” cujas
penas
terão início no dia de hoje (15/11/2013) com base na decisão do STF- Supremo
Tribunal
Federal é uma decisão histórica para o Brasil porque desnudou as mazelas da
política
brasileira na era contemporânea além de possibilitar ao povo brasileiro
perceber
que se
torna imperiosa a necessidade, não apenas de uma profunda reforma política,
mas também
da reforma do Estado e da Administração Pública no Brasil para que não
haja a
repetição de fatos tão lamentáveis como os que foram objeto de abordagem neste
processo.
Papel relevante nesta decisão histórica do Supremo Tribunal Federal foi
cumprido
pelo seu presidente e relator do “mensalão”, o ministro Joaquim Barbosa. A
nação
brasileira deve muito a Joaquim Barbosa pelo desfecho do processo do
“mensalão”.
Ao
desnudar as mazelas da política brasileira, o processo do “mensalão” deixou
bastante
claro que havia um esquema de compra de apoio político de parlamentares pelo
governo
federal. A decisão do STF que coloca na cadeia figuras proeminentes do PT e
de
partidos aliados, grupo que há uma década governa o Brasil, mostra que os
detentores
do poder político no Brasil não merecem a confiança da nação. O PT, que no
governo
está colocando em prática políticas econômicas diametralmente opostas ao que
defendia
antes de assumir o poder em 2002, deixou de ser também um partido defensor
da ética
na política ao ter inúmeros de seus dirigentes condenados por prática de
corrupção
e formação de quadrilha. Em outras palavras, o PT traiu ao compromisso
histórico
que havia assumido no passado. Outra lição que se extrai do processo do
“mensalão”
reside no fato de, ao decidir pela prisão de José Dirceu, José Genoíno,
Marcos
Valério e Delúbio Soares, entre outros, o STF mostra que, no Brasil, não há
mais
espaço para a certeza da impunidade.
Quando se
analisa o caso do “mensalão” ainda em julgamento no Supremo Tribunal
Federal
com os denominados embargos infringentes, a maioria das pessoas atribui este
fato a
desvios de conduta política do ponto de vista ético que resultam da ambição
humana
pelo dinheiro e pelo poder que, se forem devidamente punidos seus
responsáveis,
tal fato não se repetiria. No entanto, a punição dos “mensaleiros” pelo
Supremo
Tribunal Federal não é suficiente para evitar sua repetição. Novos
“mensalões”
poderão ocorrer no futuro de forma menos ostensiva como ocorreu em
2003 e sem
delatores como Roberto Jeferson porque a principal causa do “mensalão”
diz
respeito à necessidade dos detentores do Poder Executivo de constituir a
maioria
necessária
no Parlamento a fim de obter a governabilidade, isto é, evitar a paralisia da
ação
governamental se o poder central não obtém a maioria parlamentar visando a
aprovação
dos projetos de seu interesse. Enquanto existir a atual Constituição, há
grande
possibilidade de haver novos “mensalões”.
É
importante destacar que o imperativo da maioria parlamentar no Brasil resultou
em
grande
medida da Constituição instituída em 1988 porque toda a sua concepção foi
baseada no
modelo parlamentarista no qual o poder é exercido conjuntamente pelo
Poder
Executivo e pelo Congresso Nacional. O sistema político vigente no Brasil é um
misto de
presidencialista e parlamentarista, em que o presidente da República precisa de
maioria
parlamentar para governar. O “mensalão” surgiu diante da necessidade do
governo
Lula de obter a maioria parlamentar visando a aprovação de projetos de seu
interesse
no Congresso Nacional.
Nos países
politicamente avançados, o Poder Executivo obtém a maioria no Parlamento
através de
acordos embasados ideologicamente. No Brasil, o caso do “mensalão” mostra
que o
governo Lula tentou constituir a maioria parlamentar visando a aprovação de
seus
projetos
no Congresso Nacional com a compra de votos de parlamentares ligados a
partidos
fisiológicos como o PMDB, PL, PTB, etc. utilizando, de forma fraudulenta,
recursos
públicos, da mesma forma que realizou, também, uma deslavada compra de
votos dos
“de baixo” na escala social com a institucionalização do Bolsa Família para
alcançar o
apoio eleitoral da população pobre do Brasil, sob o pretexto de desenvolver
programa
social de apoio aos pobres.
Ambas as
ações, parlamentar e social, compõem parte da estratégia de manutenção do
poder do
PT no Brasil. No contexto desta estratégia, foram implementadas mais duas
ações:
uma, de concessão de facilidades “aos de cima” na escala social, sobretudo ao
sistema
financeiro que vem obtendo os maiores lucros na história do Brasil e, outra, de
paralisia
dos movimentos sociais em suas reivindicações contra o governo e às classes
dominantes
com a oferta de benefícios oferecidos pelo governo Lula às lideranças
sindicais
pelegas e partidos ideológicos de apoio que controlam os sindicatos. As
classes
dominantes não têm o que reclamar do governo Lula nem do movimento
sindical
estagnado nos últimos 10 anos. Só recentemente, durante o governo Dilma
Rousseff é
que os movimentos reivindicatórios saíram da letargia em que se
encontravam
à revelia de suas lideranças.
Não apenas
o “mensalão” é o resultado de uma Constituição mal feita como a de 1988.
Há outras
anomalias como a que determina que a escolha dos membros do Poder
Judiciário
seja feita pelo presidente da República, muitos dos quais são escolhidos sem
o saber
jurídico necessário como é o caso de Ricardo Lewandowsky e Dias Tóffoli que
estão no
Supremo Tribunal Federal graças às suas ligações passadas com o ex-presidente
Lula.
Apesar de a maioria dos membros do Supremo Tribunal Federal ter
sido
indicada pelo ex-presidente Lula, grande parte deles está tendo comportamento
de
autêntico
magistrado, à exceção dos dois acima citados que tentaram a todo custo evitar
a condenação
dos mentores do “mensalão”.
Todos
estes fatos demonstram que Maquiavel tinha razão quando afirmou em 1513 que
o que mais
ambiciona o político é a conquista, a conservação e a expansão do poder.
Este é o
caso de Lula e do PT. Para alcançar e conservar esse poder não importam os
meios. O
mundo político no Brasil está sendo governado por atos, ajustes e acordos
nada
ortodoxos, que tem suas regras próprias, não seguindo a lógica da Ética que
rege
as
condutas morais das pessoas em geral como bem sintetiza o “mensalão”. Em regra
o
político
ético está no meio de gente ambiciosa, corrupta, violenta ou insolente. Se não
souber se
comportar "realisticamente", perde seu poder.
A
democracia representativa no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento não
apenas
pelos escândalos de corrupção nos poderes da República mas, sobretudo, ao
desestimular
a participação popular, reduzindo a atividade política a processos eleitorais
que se
repetem periodicamente em que o povo elege seus ditos representantes os quais,
com poucas
exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos
econômicos
em contraposição aos interesses daqueles que os elegeram. Na prática, tudo
funciona
como se o povo desse a cada dirigente do poder executivo e a cada
parlamentar
um cheque em branco para fazerem o que quiserem após ocuparem seus
cargos
eletivos.
Os fatos
da realidade demonstram a necessidade de que seja dado um basta à escalada
da
corrupção no Brasil com a mobilização da Sociedade Civil visando a convocação
de
uma
Assembléia Constituinte com o objetivo de realizar uma profunda Reforma
Política,
do Estado e da Admistração Pública no Brasil. A Assembléia Constituinte não
seria
integrada pelos atuais membros do Congresso Nacional. Seus membros seriam
eleitos
pela população com a missão exclusiva de aprovar a reforma na Constituição
atual a
ser implementada no Brasil no horizonte de 1 ano. Sem a reforma da
Constituição
nos termos acima propostos, o Brasil continuará sendo palco do descalabro
ético e
político que deu origem ao “mensalão“.
*Fernando
Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional
pela
Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de
planejamento estratégico,
planejamento
empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos
livros Globalização
(Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem
Mundial
(Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um
Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese
de doutorado. Universidade de
Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento
(Editora
Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e
Objetivos
Estratégicos
na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The
Necessary Conditions of the
Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM
Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft
& Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária
(P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia
Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate
ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz
do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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