ANTES da alvorada dos tempos históricos, a química
já havia lançado as bases de sua carreira romântica. Perderam-se no tempo os
nomes dos que, por primeiro, perceberam que as uvas podem ser fermentadas
para formar
o vinho e o vinagre, que a argila pode formar tijolos e que o claro vidro pode
provir da areia. Para as pessoas que viveram nos primórdios do mundo, estas
transformações devem ter parecido verdadeiros milagres, e os químicos olhados
como estranhos mágicos. Mas só quando a história atingiu o passo acelerado dos
séculos XVI e XVII foi que a magia da química se
desenvolveu em ciência da química. Porque somente então
começaram os homens a propor teorias e experiências, para provar o valor destas
teorias. Desde, então, a lista de honra, da química está cheia dos
nomes dos titãs cujo engenho, perseverança e puro brilho tornaram possíveis os
extraordinários desenvolvimentos de, hoje. Desta lista poderemos escolher
alguns nomes representativos.
Entre os antigos químicos, ergue-se o nome de João
Rodolfo Gláuber (1604-1668). Gláuber, há de convir-se, foi na realidade um
alquimista, mas um alquimista do mais elevado tipo. Era um observador perspicaz
e um pensador cuidadoso, que garantiu a sua subsistência com a venda de
medicamentos secretos. Seu nome está perpetuado no Sal de
Gláuber, nome pelo qual é ainda hoje conhecido o sulfato de sódio
cristalino.
Em 1774, Priestley isolou o oxigênio pelo simples
expediente de queimar todas as substâncias que podia encontrar e recolher o gás
que se escapava. Logo depois observou que esse novo gás enferrujava o ferro e
assim veio a estabelecer que o oxigênio faz parte do ar que respiramos. Em
1777, Lavoisier descobriu que esse mesmo oxigênio era necessário para a
combustão. Sem oxigênio, ensinava êle, nada pode queimar-se.
Dalton, em 1808, foi o primeiro a reconhecer que
cada elemento é composto de grande número de partículas, excessivamente
minúsculas, porém iguais; deu a cada uma dessas partículas o nome de átomo. Desta
forma surgiu a imensamente útil teoria atômica, de tão largo alcance. Os
antigos gregos tinham imaginado essa teoria, mas foi Dalton o primeiro a
assentá-la em bases científicas.
Sir Humphrey Davy tinha apenas a idade de vinte e
dois anos, quando assumiu as funções de lente do Real Instituto de Londres, em
fins do século XIX. Ali, fez as maravilhosas descobertas que o elevaram ao
posto dos mais importantes heróis da química. Descobriu os metais potássio e sódio e,
muito fez para estabelecer suas propriedades. Mas talvez sua maior descoberta
tenha sido seu aluno, Miguel Faraday, que chegou a rivalizar com seu mestre.
Berzelius, o rapaz sueco, a cujo intelecto os
professores deram pouca estimação, viveu para ser o primeiro organizador de uma
ciência de crescimento já dificilmente controlada. Sua determinação do peso
atômico dos corpos simples (1826) necessita apenas de pequena revisão, mesmo
com os ultra-aperfeiçoados aparelhos de hoje, verdadeiro tributo ao seu
esmerado labor.
Temos de renunciar ao exame de Liebig, que
aperfeiçoou os métodos de análise orgânica; de Lotário Meyer e Mendeléeff, que
descobriram a grande lei da periodicidade dos elementos; de Luiz Pasteur, cujo
grande trabalho sobre a fermentação e a "pasteurização” conduziu-o à sua
vitoriosa campanha contra as moléstias contagiosas; de Ramsay, que descobriu os
gases raros, neônio, criptônio e xenônio; da
grande contribuição dos trabalhos teoréticos de Clausius, Kohlrausch, Raoult,
Arrhenius e Ostwald. Todos esses importantes homens de ciência mereceriam
capítulos inteiros, tão amplas foram as ramificações de seus trabalhos. Mas
saltemos até uma descoberta mais recente, talvez a maior de todas elas.
A senhora Sklodowska Curie empreendeu, em fins do
século XIX, o exame da estranha atividade do mineral, pitchblenda (cujo
principal componente é o urânio). Este mineral tinha mostrado um notável e
embaraçante efeito sobre placas fotográficas, usadas para Raios X. A senhora
Curie utilizou várias toneladas de pitchblenda e dessa massa extraiu uma
pequeníssima quantidade do ativo material. Essa pequeníssima quantidade foi de
novo manipulada e restou ainda menos de substância ativa. Finalmente extraiu
uma minúscula quantidade dessa matéria que dava a essa pitchblenda sua tremenda
atividade, e a esse extrato denominou ela rádio. Com a
descoberta do rádio, o novo e emocionante capítulo começou no eterno esforço do
Homem para vencer a doença. Muitos doentes de cancro devem a vida à maravilhosa
descoberta da senhora Curie.
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