Simbad ou Simbá, o Marujo (também
grafado Sinbad ou Sindbad; em árabe:
السندباد البحري, transl. as-Sindibād
al-Baḥri; em persa:
سندباد, transl. Sendbād)
é um ciclo de histórias de origem no antigo Oriente
Médio.
Simbad, o herói destas histórias, é um marinheiro fictício originário de Bagdá, que viveu durante o califado abássida. Suas sete viagens pelos mares a leste da
África e a sul da Ásia o fazem passar por inúmeras aventuras fantásticas que
incluem encontros com povos estranhos, seres monstruosos e fenômenos
sobrenaturais.
Antoine Galland
No Mundo ocidental a
história de Simbad é conhecida a partir d'As Mil e
uma Noites, a célebre coleção de contos árabes traduzida ao francês pelo orientalista Antoine Galland e
publicada entre 1704 e 1717. Sabe-se, porém, que a história de Simbad não
estava originalmente em nenhum manuscrito das Noites utilizado por
Galland, e que a inclusão daquela história na coleção foi uma decisão
arbitrária do autor francês.
Em
finais do século XVII, Galland estava ativamente envolvido na tradução de obras
orientais. Em 1696 havia terminado uma tradução da versão turca de Kalila e Dimna, e por volta de 1698 terminou de traduzir um manuscrito em árabe com
a história das Viagens de Simbad, o Marujo. Os manuscritos
do Simbad usados por Galland para sua tradução são oriundos do
século XVII e não contém outras histórias associadas. Galland entregou uma
cópia manuscrita do Simbad em francês à Marquesa d'O, filha do
embaixador da França em Constantinopla,
e conseguiu de sua protetora financiamento para a publicação da obra.
Mil e uma noites
O Simbad,
porém só seria publicado muito tempo depois, insertado no volume 3 das Mille
et une nuits. Na sua nota (avertissement) à
primeira edição das Noites (1704), Galland explica o porquê do
atraso: após terminar com a tradução do Simbad, soube através de um
informante que essa história era parte de uma coleção maior de contos árabes.
Essa informação fez com que Galland suspendera a publicação do Simbad e
buscara recuperar mais manuscritos do Oriente para realizar uma tradução
completa.2 Galland
finalmente conseguiu três antigos manuscritos das Noites,
provenientes da Síria,
mas nenhum incluía o Simbad. De fato, atualmente considera-se que a
história de Simbad seja um conjunto autônomo de contos que provavelmente nada
tenha a ver com As Mil e Uma Noites. Isso não impediu que Galland a
incluísse nas Noites, chegando a dividir a narração das viagens de
Simbad em noites contadas por Xerazade.
Após Galland
A
partir da célebre obra de Galland, a história de Simbad passou a ser
normalmente incluída nas edições das Mil e Uma Noites, inclusive em
cópias manuscritas árabes produzidas a partir do século XVIII. As duas
primeiras edições árabes das Noites (edição de Calcutá de 1814-18 e edição de Bulac de 1834)
incorporam a história de Simbad, ainda que a de Calcutá a apresente no final da
obra, separada dasNoites propriamente ditas. Na famosa
tradução de Richard
Francis Burton (1885), as "As Sete
Viagens de Simbad" ocupam o conto 133 do volume 6.
A
história das viagens de Simbad pode ser resumida assim:
Simbad o marujo e Simbad o terrestre
Nos
dias de Harun al-Rashid, califa de Bagdá, vivia nesta cidade um pobre carregador. Certo dia, o carregador faz
uma pausa no seu árduo trabalho para descansar junto à casa de um rico comerciante,
e pragueja contra a injustiça do mundo, que permite ele seja um pobre miserável
e que o dono da casa seja tão rico. Ao escutar seus lamentos, o senhor da casa
pede que ele seja trazido para dentro, onde é revelado que os dois, por
coincidência, chamam-se Simbad. O Simbad rico diz ao Simbad carregador que ele
já foi pobre e tornou-se rico por "fortuna e destino", e se oferece para contar-lhe a história
de suas viagens maravilhosas.
Primeira viagem
Após
dilapidar a riqueza que recebeu de herança do pai, Simbad investe comprando
mercadoria e decide tentar a sorte como comerciante num navio que sai do porto
de Baçorá (al-Basra)
para o Oriente. Após um tempo de viagem, o navio aporta numa ilha, que na
verdade revela-se ser uma gigantesca baleia adormecida em cujo dorso crescem
árvores. O animal desperta com uma fogueira acesa pelos homens e mergulha,
desaparecendo nas profundezas. Na confusão o navio se afasta, abandonando
Simbad sozinho no mar, agarrado numa tina de madeira. Após um tempo à deriva, o
aventureiro chega a uma ilha coberta por vegetação. Explorando a ilha, Simbad
encontra um serviçal do rei local, e ajuda a salvar a égua do soberano de ser
afogada por um cavalo aquático (um cavalo fantástico que vive debaixo d'água).
Simbad torna-se amigo do rei e passa a ser um dos membros favoritos da corte. Um dia, chega à ilha o navio no qual Simbad
havia partido em viagem e ele recupera sua mercadoria. Antes de abandonar a
ilha no barco, Simbad recebe ricos presentes do rei. O navio viaja à Índia,
onde fazem negócios, e ao retornar a Bagdá, Simbad consegue grande lucro com as
mercadorias do Oriente. Ao terminar o relato, Simbad o marujo dá ao carregador 100
moedas de ouro, e lhe pede que retone no dia seguinte para escutar o próximo
conto.
Segunda viagem
Apesar
de ter juntado riqueza e levar uma vida de diversão, Simbad ainda sentia
vontade de viajar pelo mundo. Embarca então noutra aventura comercial, mas
acidentalmente é abandonado numa ilha pelos seus companheiros de viagem.
Explorando a ilha, Simbad dá com um enorme objeto, liso e arredondado, que
descobre ser um ovo de um pássaro roca -
uma ave fabulosa gigantesca. O pássaro retorna ao ninho e não percebe a
presença de Simbad, que usa seu turbante para atar-se à pata do animal, na
esperança de ser levado a um lugar habitado. A ave levanta voo e o carrega até
um vale coberto dediamantes e
habitado por mostruosas serpentes que servem de alimento para os rocas.
Simbad se encontra sozinho no vale, à mercê das serpentes. Descobre, porém, uma
forma de escapar: para conseguir os diamantes do vale inacessível, os
habitantes da ilha jogam grandes pedaços de carne no fundo do vale, que são
agarrados por aves enormes que os levam aos seus ninhos. Alguns diamantes ficam
aderidos aos pedaços de carne, que então são recuperados pelos homens.
Observando isso, Simbad amarra um pedaço de carne ao seu corpo e é levado para
fora do vale por uma das aves gigantes. É resgatado do ninho por um mercador, e
retorna a Bagdá com uma fortuna em diamantes.
Terceira viagem
Novamente
ansioso por novas aventuras, Simbad zarpa de Baçorá numa nova expedição. Os
ventos levaram o barco a uma ilha habitada por homens peludos como macacos, que tomaram o barco e os abandonam em outra
ilha. Os homens chegam a um palácio habitado por um gigante com forma de homem, pele negra, olhos
vermelhos como brasas, uma boca enorme como a de um camelo com longos dentes, orelhas como as de
um elefante e
longas garras como as das feras. O monstro começa então a devorar a tripulação,
começando pelo gordo capitão, que é assado na brasa. Simbad organiza os
companheiros para escapar: primeiro constroem uma jangada e, quando o monstro dormia, furaram-lhe os
olhos com os espetos que usava para assar sua comida. Cego e furioso, o gigante
sai do palácio e os homens correm à praia e escapam na jangada. Após um tempo
no mar, chegam a outra ilha, onde uma serpente gigante come os companheiros de
Simbad. Finalmente, o marujo é resgatado por um navio, o mesmo que o havia
esquecido numa ilha na segunda viagem. Simbad recupera sua mercadoria e retorna
a Bagdá ainda mais rico.
Essa
aventura tem evidentes paralelos com o episódio de Ulisses e o ciclope Polifemo da obra de Homero.
Quarta viagem
Na
sua quarta viagem, à qual foi impelido novamente pela sua ânsia de aventura, o
navio em que viaja Simbad naufraga. Na ilha onde chegam, os marinheiros são
encontrados por selvagens nus e canibaisque
lhes dão para comer ervas com o poder de enlouquecer aqueles que as provam. O
único que não come é Simbad, que consegue escapar e é transportado por um grupo
de coletores de pimenta a
outra ilha. Ali, Simbad trava amizade com o rei local e recebe uma linda e rica
mulher como esposa.
Já
tarde demais, Simbad é informado de um peculiar costume local: após a morte de
um esposo, o viúvo ou viúva é enterrado vivo com o companheiro/a, ambos
vestidos com as melhores roupas e vestidos. A mulher de Simbad adoece e morre,
levando ao encerramento do esposo numa enorme caverna subterrânea - uma tumba comunitária - com
um jarro de água e sete pães. Justo quando termina o suprimento de comida, uma
viúva é jogada na caverna. Imediatamente, Simbad pega um fêmur e a ataca, matando-a com uma pancada, e
apodera-se de sua água e comida.
Ao
longo do tempo, Simbad repete essas ações com outros condenados e se apodera de
bastante água, pão e jóias dos corpos. Mas não conseguia encontrar uma maneira
de escapar, até que um dia um animal não-identificado o guia até uma saída. Já
no exterior, Simbad é resgatado por um navio que passava, que o leva de volta a
Bagdá após completar a viagem pelo Sudeste da Ásia.
Quinta viagem
Novamente
no mar, o navio em que viaja Simbad passa junto a uma ilha deserta. A tripulação
vê um gigantesco ovo, que Simbad reconhece como sendo de um roca. Os homens decidem examinar o ovo, quebram-no e
comem o filhote que estava por nascer. Simbad, assustado pelo que fazem, diz
aos marinheiros que voltem ao navio, mas as aves gigantes aparecem e jogam
enormes rochas sobre a nave, afundando-a.
Simbad
consegue escapar a uma ilha, mas é escravizado pelo Velho Homem do Mar, uma
criatura que posiciona-se sobre seus ombros e aperta o pescoço de Simbad com
suas pernas, que assumem a forma de ramos secos e impedem que Simbad possa
desvencilhar-se dele. Passam-se dias assim, até que Simbad, usando de sua
astúcia, prepara vinho e
convence o Velho do Mar a beber. A criatura, bêbada, finalmente cai, dando a
oportunidade a Simbad de matá-lo.
Um
navio o leva à cidade dos macacos, cuja população passa as noites em barcos no
mar, com medo dos macacos que invadem a cidade após o por-do-sol, matando os
homens que encontram. Apesar disso, Simbad recupera suas riquezas e
eventualmente retorna a Bagdá.
Sexta viagem
Em
sua sexta viagem, Simbad e seus companheiros sofrem um naufrágio quando o navio
bate contra uma alta falésia. A terra onde se encontram os marinheiros não
possui nenhum tipo de comida, e todos vão morrendo de fome, até que Simbad é o
único sobrevivente. Ele descobre um rio que corre por dentro da falésia,
constrói uma balsa e usa-a para navegar pelo rio. O curso d'água está coberto
de pedras preciosas, e o leva até uma cidade do reino de Serendib (Ceilão, atual Sri
Lanka), na qual os rios estão
cheios de diamantes e os vales de pérolas. O rei local se impressiona pelo
relato que faz Simbad deHarun al-Rashid,
e decide encarregar Simbad que lhe leve presentes, entre eles uma taça
esculpida de uma única pedra de rubi, uma cama feita da pele de uma serpente que
havia engolido um elefante, e uma escrava, linda como o brilho da lua. Simbad
retorna a Badgá com os presentes, onde o califa se maravilha com a história sobre o rei do
Ceilão.
Sétima viagem
Uma
vez mais, Simbad sai de viagem e seu navio, como sempre, naufraga. Desta vez,
são três peixes monstruosos que atacam e destroem a nave. Simbad termina numa
ilha, onde consegue travar amizade com o mais importante mercador do lugar.
Este casa Simbad com sua filha e faz dele seu herdeiro, e pouco tempo depois
morre. Simbad vivia feliz com sua esposa até que, um dia, percebe que os homens
do lugar passavam por uma estranha transformação uma vez por mês: cresciam asas
e voavam até o céu, retornando depois. Intrigado, Simbad convence um deles para
que o carreguem no voo que fazem e, efetivamente, no mês seguinte o marujo é
levado ao céu por um dos homens alados. No alto, Simbad vê anjos que cantam alabanças a Alá. Emocionado, o marujo exclama "Glória a
Deus!", o que irrita enormemente os homens alados, que o abandonam no cimo
de uma montanha. Sozinho novamente, Simbad encontra dois adoradores do Senhor,
que lhe entregam uma bengala de ouro. No caminho de volta, usa a bengala para
livrar um homem que estava sendo atacado por uma serpente gigante.
Finalmente,
Simbad consegue retornar à cidade, onde fica sabendo pela mulher que os homens
alados pertencem a uma raça de demônios, mas que ela e seu falecido pai são
pessoas normais. Simbad decide abandonar a ilha e parte com sua mulher numa
longa viagem pelos portos da Ásia. Vinte e sete anos durou em total a sétima
viagem, até que Simbad regressa a Bagdá. Desta vez, o marujo renuncia às
aventuras no mar, arrependido de ter tantas vezes desafiado a Sorte e arriscado a vida.
Ao
final de seu relato, Simbad o marujo ordena que lhe deem mil moedas de ouro a
Simbad o terrestre e lhe diz: "não vês que alguém que superou tantas
provações merece agora uma vida despreocupada?", ao que responde Simbad o
terrestre que "certamente mereces o ócio e o bem-estar. Vive em paz, e que
cada instante te traga a felicidade!". Agradecendo o ouro que lhe fora
dado, Simbad o terrestre aproveita para tornar-se ele mesmo um renomado
mercador.
Adaptações
Simbad
permanece como uma das narrativas mais populares das Mil e uma Noites,
tendo suas histórias já sido adaptadas para diversas mídias, desde a música, o teatro, cinema a desenhos animados equadrinhos (banda desenhada).
Estas adaptações frequentemente divergem muito dos contos originais.
Música
Na
suíte sinfônica Scheherazade (1888), do compositor russo Nikolai
Rimsky-Korsakov, o primeiro movimento intitula-se O
Mar e o Barco de Simbad.6
Filmografia
·
Sinbad - A
Lenda dos Sete Mares (animação
da DreamWorks)
Nenhum comentário:
Postar um comentário