quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

BELMONTE, BAHIA


Poder-se-ia imaginar que uma pacata e pequena cidade litorânea no sul da Bahia, a apenas 72km ao norte de Porto Seguro, pudesse ter pelo menos parte do enorme afluxo de turistas que esta cidade tem o ano
todo. Afinal, Porto Seguro tem até aeroporto internacional.
Mas a vida em Belmonte nada tem a ver com a da vizinha rica. Seu auge ocorreu lá por 1940, por conta do sucesso na produção de cacau. O sucesso se foi, a exemplo do mar, que recuou 1.500m há um século, deixando o farol no centro da cidade.
Isolamento
Alguns casarões coloniais testemunham os bons tempos de Belmonte, assim batizada em alusão à cidade natal do navegante Pedro Álvares Cabral. A cidade é pobre e isolada.
Há até quatro anos atrás a única ligação com o resto do Brasil ocorria por um acesso de chão batido à BR-101. Em épocas de alagamento, aviões da Força Aérea socorriam a cidade levando gêneros alimentícios à população isolada. Somente em 2000 foi construída a ligação asfaltada com Porto Seguro, via Cabrália.
Andando-se pela cidadezinha não há quem não olhe para a gente. Forasteiros por lá são raros. É como se andássemos fantasiados na rua. O pessoal fica encarando, admirado.
Rio Jequitinhonha
O Rio Jequitinhonha, de origem mineira, banha Belmonte com águas barrentas que turvam o mar, 2km ao norte da cidade.
As praias são desertas, à exceção de duas casas de veranistas de outros estados. O rio vem meandrando entre coqueirais sem fim. O coco sai dali a R$0,30 a unidade para ser vendido a R$1,30 nas praias de Salvador.
O êxodo rural é acentuado e a mão de obra farta e barata pela falta de demanda. Não há indústria na cidade a não ser uma recente beneficiadora de madeira que embarca o produto em terminal próprio construído mar adentro (investimento de grande porte).
Forasteiros e comilança
Em Belmonte moram também alguns paulistas e estrangeiros de situação econômica estável, em busca de tranquilidade. Essa comunidade de forasteiros acaba vivendo com baianas bem jovens e muito bonitas, com aquela cor saudável e um jeito de ser cativante.
 O pessoal de fora cultiva um relacionamento estreito. Reúnem-se ora na casa de um, ora de outro, com manjares dos deuses e muita prosa.
Camarões imensos grelhados, deliciosas moquecas de pitu (uma cruza de camarão com lagosta), sashimi de robalo, lagosta, e muito peixe fresco. Azeite de dendê e leite de coco em tudo.
À exceção da bebida, tudo isso é fornecido a preços muito mais baixos do que nas grandes cidades.
Estilo baiano
Por todas estas características a vida lá é muito interessante para quem procura sossego.
O conhecido estilo de vida baiano é por ali ainda mais marcante. Pelo jeito, a palavra estresse ainda não é conhecida na cidade: vínhamos pela avenida principal de Belmonte quando um caminhão-caçamba a uns 50m adiante de nós, parou. Parou no meio da rua, interrompendo o tráfego. O motorista desceu e foi para a calçada. Demos ré até o vão no canteiro central, e seguimos pela contramão. Quando passamos pelo caminhão, vimos o motorista bebendo com amigos em frente ao bar onde parou. E isso é comum por lá, disse-nos o funcionário do meu amigo anfitrião.
 Um empreiteiro de irrigação da região fez questão de dizer que trabalha para viver, e não para morrer trabalhando. Isso parece ser igual em todo o mundo, mas com tempero e sotaque baiano, tem outra dimensão. Quem já foi à Bahia, sabe.
Contou um paulista de meia-idade que, ao reclamar do marceneiro a má qualidade do móvel fornecido, ouviu dele:
- Vacilei, doutor...
E ficou assim.
Um Mar Indisciplinado
Encomendado em 1.892 à mesma empresa que construiu a Torre Eiffel, o farol de Belmonte teve que ser removido em 1907 porque o avanço d
o mar terra adentro fez com que ele ficasse dentro d'água. Anos depois, novamente o farol estava ilhado e mais uma vez foi transferido para nova posição, onde está até hoje.
Ocorre que com o passar dos anos o mar resolveu recuar, devolvendo 1.500m de terra à cidade. Isto significa que o farol hoje está a esta distância da praia, no centro da cidade. Como os baianos, o mar da Bahia parece também não se importar muito com disciplina, regras e afins.
Construído em ferro, é fixado por 8 parafusos chumbados ao solo. Tem 35m de altura e alcance de 18 milhas náuticas.
Acesso
Belmonte situa-se na região sul da Bahia (aproximadamente S15º 52' , W38º 52'). A cidade com mais recursos nas proximidades é Porto Seguro, de onde se roda 22km em direção ao norte por estrada em bom estado até Cabrália, onde uma balsa atravessa o rio em horários pré-determinados. Daí em diante são mais 50 km de asfalto em meio a coqueirais.
Clima
A temperatura na Bahia, mesmo quando cai, é mais alta do que aqui no extremo sul do Brasil. Isso me faz lembrar de meu primo Duca que veleja na Suécia, regozijando-se de que no Mar Báltico (Latitude 60º), a água a 15º no Verão é muito mais agradável do que no Atlântico Norte... (Ah, então tá.) De qualquer maneira, consolo-me em saber que, mesmo ainda no inverno, os sabiás já começaram a cantar por aqui, anunciando que logo vêm aí os tempos de Primavera.
Extraído: Popa.com,br





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