A
escrava que se fez rainha poderosa de Diamantina (MG)
.
fevereiro de 1796 ), foi uma escrava, posteriormente alforriada, que viveu no Arraial do Tijuco, atual Diamantina,Minas Gerais,
durante a segunda metade do século XVIII.
Manteve
durante mais de quinze anos uma união consensual estável com o rico contratador
dos diamantes João
Fernandes de Oliveira, tendo
com ele treze filhos . O fato de uma escrava alforriada ter atingido
posição de destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de
diamantes deu origem a diversos mitos.
Biografia
Era
filha do português Antônio Caetano e Sá e da escrava Maria da Costa, da Costa da Mina,
por meio de um relacionamento extraconjugal. Foi registrada no Arraial Milho
Verde, no município de Serro Frio, atual Serro. Foi libertada por solicitação de João
Fernandes de Oliveira, um contratador de diamantes.
Foi
escrava do sargento-mor Manoel Pires Sardinha, proprietário de lavras no Arraial do Tijuco. Nesta época teve pelo menos um filho, Simão Pires Sardinha, nascido em 1751,
que teve como padrinho de batismo o então Capitão dos Dragões do Distrito
Diamantino, em homenagem ao qual recebeu o nome. O registro de batismo deste filho não declara a sua paternidade,
mas Manoel Pires Sardinha deu-lhealforria e nomeou-o como um de seus herdeiros no
seu testamento, daí o uso do mesmo sobrenome. Simão Pires Sardinha foi educado na Europa e veio a ocupar cargos importantes no
governo da Corte. Embora não haja comprovação, alguns autores pretendem que ele
teria tido parte na Inconfidência Mineira.
Em
seguida, Chica da Silva foi vendida ou dada como escrava a José da
Silva e Oliveira Rolim,
o Padre Rolim. Ele foi, posteriormente, condenado à prisão pela importante
participação que teve naInconfidência Mineira. Também veio a viver com Quitéria Rita, uma das filhas de Chica da
Silva e João
Fernandes.
Pouco
tempo depois, em 1754, João
Fernandes de Oliveira chegou
ao Arraial do Tijuco para assumir a função de contratador dos diamantes, que vinha sendo
exercida por seu pai homônimo desde 1740. Em 1754 Chica da Silva foi adquirida ou alforriada pelo novo explorador de diamantes João
Fernandes. Nesta época ela possuía ao
menos dois filhos, quando então passou a viver com o contratador, ainda que
nunca tivessem se casado oficialmente.
Do João
Fernandes ela ainda teria treze
filhos durante os quinze anos em que com ele conviveu: Francisca de Paula (1755); João Fernandes (1756); Rita (1757); Joaquim (1759); Antonio Caetano (1761); Ana (1762); Helena (1763); Luiza (1764); Antônia
(1765); Maria (1766); Quitéria Rita (1767); Mariana (1769); José Agostinho Fernandes (1770). Todos foram registados no batismo como sendo
filhos de João
Fernandes, ato incomum na época quando
os filhos bastardos de homens brancos e escravas eram registrados sem o nome do
pai.
Entre 1755 e 1770 João
Fernandes e Chica da Silva
habitaram a edificação existente no que hoje é a praça Lobo de Mesquita,
no número 266, em Diamantina .
A
união consensual estável de João
Fernandes e Chica da Silva não foi
um caso isolado na sociedade colonial brasileira de envolvimento de homens
brancos com escravas. Distinguiu-se por ter sido pública, intensa e duradoura,
além de envolver um dos homens mais ricos da região durante o apogeu econômico.
Os
amantes separaram-se em 1770,
quando João
Fernandes de Oliveira necessitou
retornar a Portugal para receber os bens deixados em testamento pelo pai. Ao partir, João
Fernandes levou consigo os seus
quatro filhos homens. Em Portugal, os filhos homens de Chica da Silva receberam
educação superior, ocuparam postos importantes na administração do Reino e até
receberam títulos de nobreza.
Chica
da Silva ficou no Arraial do Tijuco com as filhas e a posse das propriedades deixadas por João
Fernandes, o que lhe garantiu uma vida
confortável8 .
Suas filhas receberam a melhor educação que se dava às moças da aristocracia
local naquela época, sendo enviadas para o Recolhimento de Macaúbas, em Santa
Luzia (Minas Gerais),
onde aprenderam a fazer tricô, foram letradas, receberam intrução musical.
Dali, só saíram em idade de se casar, embora algumas tenham seguido a vida religiosa.
Apesar
de ser uma concubina,
Chica da Silva alcançou prestígio na sociedade local e usufruiu das regalias
privativas das senhoras brancas. Na época, todas as pessoas se associavam a
irmandades religiosas de acordo com a sua posição social. Chica da Silva
pertencia às Irmandades de São Francisco e do Carmo, que eram exclusivas de
Chica da Silva dos diamantes
Brancos,
mas também às irmandades das Mercês - composta por mulatos - e do Rosário -
reservada aos negros. Portanto, Chica da Silva tinha renda para realizar
doações a quatro irmandades diferentes, era aceita como parte da elite local
composta quase que exclusivamente por brancos, mas também mantinha laços
sociais com mulatos e negros por meio de suas irmandades. Apesar
disto, como era costume da época, logo que foi alforriada passou a ser dona de
vários escravos que cuidavam das atividades domésticas de sua casa.
Faleceu
em 1796.
Como era costume na época, Chica da Silva tinha o direito de ser sepultada
dentro da igreja de qualquer uma das quatro irmandades a que pertencia. Foi
sepultada dentro da igreja de São
Francisco de Assis pertencente a mais
importante irmandade local, um privilégio quase que exclusivo dos brancos
ricos, o que demonstra que mantinha a condição social mais alta mesmo vários
anos após a partida de João
Fernandes para Togo.
O
jornalista Antônio Torres em
seus apontamentos sobre Diamantina contou que o corpo de Chica da Silva foi
encontrado alguns anos após sua morte, intacto, conservando ainda a "pele
seca e negra".
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