Por Luís de
Freitas Branco
O
nome é conhecido de toda a gente, sinónimo de mulherengo, tendo mesmo uma
portuguesa nas contas. Agora Luis de Freitas Branco descobriu uma faceta
diferente, de músico, advogado, fugitivo e historiador, tudo impresso na
primeira tradução portuguesa das suas memórias, obra de Pedro Tamen.
Entre
plebeu e nobre, Giacomo Casanova foi um jogador compulsivo, violinista,
advogado, turista, prisioneiro e mulherengo. Todos os passos da epopeia foram
minuciosamente descritos pelo autoproclamado senhor de Seingalt, servindo como
exemplo máximo de uma humanidade em aventura. "Não existe nenhum livro de
memórias do século xviii que
iguale Casanova", garante Pedro Tamen, o primeiro tradutor português do
libertino mais famoso do mundo.
"Nunca
ninguém em Portugal teve a coragem de traduzir e editar uma obra tão
vasta", explica o tradutor. No total são 4 mil páginas de alguém que
percorreu toda a Europa e fez 67 mil quilómetros a pé e a cavalo. Com a
aprovação da editora Divina Comédia, Pedro e Miguel Viqueira selecionaram 1200
páginas que resultam em dois volumes chamados "História da Minha
Vida" (o segundo vai estar disponível em Setembro). "Não senti o peso
da tarefa, isto é um livro apaixonante de alguém que confessa os seus próprios
erros", explica o tradutor, acrescentando que "isto é efetivamente um
livro de aventuras, mas com algumas tiradas filosóficas".
Humanista
por eleição, Casanova é uma síntese do espírito da Veneza decadente e diletante
do século xviii. O
aventureiro foi de tal forma um espécime exemplar do seu tempo que é preso
várias vezes, e também várias vezes expulso da sua cidade natal. "O que
fica de Casanova é um homem que nunca aceitou a sua condição", indica
Miguel Viqueira, responsável pela seleção dos textos.
Apesar
de viver rodeado por reis e papas, Giacomo nasce em 1725, filhos de dois atores
e com seis irmãos, família que repudia desde muito cedo. Aos nove anos vai para
Pádua, onde acaba por ficar e estudar Direito na universidade. "'Vem de
Pádua, onde fez os seus estudos.' Era esta a fórmula com que me anunciava em
toda a parte", explica nas memórias. Com um impressionante 1,87 m e roupas
escolhidas a dedo, Giacomo entra como sacerdote na elite católica de Veneza,
sendo rapidamente preso pelas suas conhecidas perversões.
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