Por JOACI GÓES
Quando o poeta Juvenal denunciou, em
uma de suas sátiras, o uso do pão e do circo – panem et circenses, comida e
diversão –, pelos governantes de Roma, para enganar o povo, desviando sua
atenção dos reais problemas, na virada do primeiro para o segundo século da era
cristã, mal sabia que estava descrevendo a repetição daquelas práticas no Brasil
do terceiro milênio, com o Bolsa Família e a festa da Copa do Mundo empolgando
as atenções gerais.
O Bolsa Família, que deveria ser provisório, enquanto perdurasse a
pobreza extrema, tende a se eternizar, definindo eleições, na medida em que não
se universaliza uma educação de alta qualidade, único meio capaz de ensejar uma
distribuição de renda confiável, estável, duradoura
O circo do futebol mesmeriza quase todo o resto da população.
Como para não deixar que cedamos ao desespero, a inesperada reação das ruas,
a partir de junho passado, revelou que há segmentos da população
suficientemente esclarecidos para reagir a uma sucessão de equívocos que tornam
o País tão marcadamente desequilibrado.
Lamentável, porém, que ações marginais, concebidas para abortar esses
movimentos redentores, e estimuladas pela proverbial impunidade reinante, só
agora passem a ser combatidas, depois da morte gratuita de um profissional da
imprensa, quando no exercício de sua missão de bem informar a sociedade.
Não tenhamos ilusões: os baderneiros que conspurcam este renascimento da
sensibilidade popular estão a serviço de quem não deseja a denúncia da
exorbitante malversação que se pratica contra o Erário, em nome de um programa
de obras superfaturadas, dentro e fora do Brasil, em prejuízo da solução de
problemas angustiantes.
E isso ocorre porque o povo brasileiro, em regra, não aprendeu a votar.
Ao fazê-lo, não cuida de saber o que o seu candidato pensa de questões
fundamentais, como educação, saúde, segurança, corrupção, impunidade,
infraestrutura e partidos políticos, por exemplo.
Com a educação hoje praticada no Brasil, conforme sistematicamente
denunciado por organismos nacionais e internacionais, continuaremos a ser o
país do futuro. Estamos muito distantes de dar à maioria da população um acesso
a programas de saúde de qualidade que se aproxime da assistência veterinária
dispensada a nossos rebanhos pecuários. No plano da segurança pública, o Brasil
é o país mais violento entre as 50 maiores economias do Planeta. A corrupção
galopa. A impunidade campeia. Nossa infraestrutura física bloqueia a elevação
de nossa produtividade, indispensável para tornar competitiva nossa produção
dentro e fora do Brasil.
Com péssima acessibilidade urbana; com estradas e portos precários que
dificultam a circulação das riquezas e ocasionam a perda de parte substancial
de nossa produção industrial e agrícola; com aeroportos congestionados e com um
saneamento básico que compromete a saúde de ponderável percentual da população
brasileira, fica muito difícil compreender como o Brasil tem coragem de apresentar
como uma conquista o investimento de bilhões de reais em
países como Cuba que representam a vanguarda do atraso.
E sabe o leitor quando é que o Brasil receberá de volta estes
investimentos? No dia de São Nunca. Trata-se de aplicação a fundo perdido. Para
sempre.
Quem quiser saber a quem essas coisas interessam, basta seguir o curso do dinheiro.
Quem quiser saber a quem essas coisas interessam, basta seguir o curso do dinheiro.
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