sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PANE ET CIRCUS



Por JOACI GÓES


Quando o poeta Juvenal denunciou, em uma de suas sátiras, o uso do pão e do circo – panem et circenses, comida e diversão –, pelos governantes de Roma, para enganar o povo, desviando sua
atenção dos reais problemas, na virada do primeiro para o segundo século da era cristã, mal sabia que estava descrevendo a repetição daquelas práticas no Brasil do terceiro milênio, com o Bolsa Família e a festa da Copa do Mundo empolgando as atenções gerais. 
O Bolsa Família, que deveria ser provisório, enquanto perdurasse a pobreza extrema, tende a se eternizar, definindo eleições, na medida em que não se universaliza uma educação de alta qualidade, único meio capaz de ensejar uma distribuição de renda confiável, estável, duradoura
O circo do futebol mesmeriza quase todo o resto da população.
Como para não deixar que cedamos ao desespero, a inesperada reação das ruas, a partir de junho passado, revelou que há segmentos da população suficientemente esclarecidos para reagir a uma sucessão de equívocos que tornam o País tão marcadamente desequilibrado. 
Lamentável, porém, que ações marginais, concebidas para abortar esses movimentos redentores, e estimuladas pela proverbial impunidade reinante, só agora passem a ser combatidas, depois da morte gratuita de um profissional da imprensa, quando no exercício de sua missão de bem informar a sociedade. 
Não tenhamos ilusões: os baderneiros que conspurcam este renascimento da sensibilidade popular estão a serviço de quem não deseja a denúncia da exorbitante malversação que se pratica contra o Erário, em nome de um programa de obras superfaturadas, dentro e fora do Brasil, em prejuízo da solução de problemas angustiantes. 
E isso ocorre porque o povo brasileiro, em regra, não aprendeu a votar. Ao fazê-lo, não cuida de saber o que o seu candidato pensa de questões fundamentais, como educação, saúde, segurança, corrupção, impunidade, infraestrutura e partidos políticos, por exemplo.
Com a educação hoje praticada no Brasil, conforme sistematicamente denunciado por organismos nacionais e internacionais, continuaremos a ser o país do futuro. Estamos muito distantes de dar à maioria da população um acesso a programas de saúde de qualidade que se aproxime da assistência veterinária dispensada a nossos rebanhos pecuários. No plano da segurança pública, o Brasil é o país mais violento entre as 50 maiores economias do Planeta. A corrupção galopa. A impunidade campeia. Nossa infraestrutura física bloqueia a elevação de nossa produtividade, indispensável para tornar competitiva nossa produção dentro e fora do Brasil. 
Com péssima acessibilidade urbana; com estradas e portos precários que dificultam a circulação das riquezas e ocasionam a perda de parte substancial de nossa produção industrial e agrícola; com aeroportos congestionados e com um saneamento básico que compromete a saúde de ponderável percentual da população brasileira, fica muito difícil compreender como o Brasil tem coragem de apresentar como uma conquista o investimento de bilhões de reais em países como Cuba que representam a vanguarda do atraso.
E sabe o leitor quando é que o Brasil receberá de volta estes investimentos? No dia de São Nunca. Trata-se de aplicação a fundo perdido. Para sempre.  
Quem quiser saber a quem essas coisas interessam, basta seguir o curso do dinheiro.

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