Os bondes e acidentes
Extraído do livro
Perfis Urbanos da Bahia (Salvador)
Autor: Geraldo da Costa
Leal
Ladeira da Praça
Excerto
Sendo
Salvador uma cidade plantada entre altos e baixos, desde os tempos em que os
bondes eram puxados a burro, ... os pioneiros daqueles tempos procuraram fugir
das ladeiras, mas, mesmo assim, não foi possível, e por isso, desde que os
bondes elétricos passaram a servir à população, em uma metrópole que
começava a
se desenvolver e que, entre os anos de 1920 a 1950 estava com seus extremos
marcados em um triângulo entre o Cabula, Amaralina e Itapagipe, os pontos mais
distantes do centro onde Tomé de Souza instalou a cidade do Salvador, eram
subindo e descendo ladeiras. Algumas delas ficaram marcadas pelos sucessivos
desastres de bondes que desciam sem freios.
Bonde de tração animal
Lembramos a
principal: sem dúvida a Ladeira da Praça. Os veículos que não atendiam à
perícia dos motorneiros ou estavam com o sistema de brecagem defeituoso,
desciam em disparada. Cruzavam a Praça
dos Veteranos, naqueles tempos ainda chamada de Guadalupe, e invadiam casas
comerciais colocadas próximas à subida da Ladeira da Palma. Foram muitos os
acidentes dessa natureza ali. Os jornais se reportavam a eles durante alguns
dias e era o comentário triste da soterópolis, cada habitante relatando o que
tinha ocorrido com seu conhecido, pois em uma cidade pequena certamente muitos
amigos eram encontrados e os acidentes eram registrados pela imprensa, como
ocorreu em 07 de julho de 1929 e 04 de
outubro de 1933.
(...)
Ladeira de São Bento
Muitos
acidentes traumatizaram a cidade nos tempos solidários...
Na véspera
de Reis, um sábado, 05 de janeiro de 1952, um ônibus na contramão, bateu com um
bonde, em frente ao Cinema Roma e incendiou-se. Doze pessoas morreram
carbonizadas, presas no interior da “marineti” (assim eram chamados os ônibus
por aqui). Naquela ocasião, foi ali que
pela primeira vez surgiu para a cidade inteira o nome de irmã Dulce, que
acompanhada de outras freiras tentaram salvar os que lutavam para escapar.
Marcada para a cidade comentar, ficou a história do jogador do Galícia,
Daruanda, um dos mortos, cobrador de uma empresa comercial, que pela janela
entregou uma pasta de dinheiro da cobrança a um desconhecido para ser entregue
aos donos, o que foi feito, conforme comentários de toda Bahia (Salvador)...
Lembrado
ficou o fazendeiro Leur Brito, sogro do ex-governador da Bahia (na época
deputado estadual) que foi esmagado entre dois bondes, nos anos sessenta, em
plena Rua Chile, quando saía da Confeitaria Chile e ia para o Hotel Nova
Cintra, localizado no Palacete Catarino. O fazendeiro faleceu aos 59 anos de
idade.
Milagre de
Nossa Senhora da Conceição (da Praia) e Nosso Senhor do Bonfim ocorreu acima
daquela igreja e em frente a outra mais distante, na década de 50. Um bonde
descarrilou, na Praça Municipal, derrubou a balaustrada da (Sorveteria) Cubana,
as duas rodas anteriores ficaram no espaço e ali ele permaneceu até ser
retirado. Foi uma das lembranças do proprietário do estabelecimento, Albino
Amoedo, que a Bahia ainda se lembra, como todas as outras que relatei.
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