quinta-feira, 20 de março de 2014

AS LADEIRAS (DE SALVADOR)

Os bondes e acidentes

Extraído do livro Perfis Urbanos da Bahia (Salvador)
Autor: Geraldo da Costa Leal

Ladeira da Praça

Excerto

Sendo Salvador uma cidade plantada entre altos e baixos, desde os tempos em que os bondes eram puxados a burro, ... os pioneiros daqueles tempos procuraram fugir das ladeiras, mas, mesmo assim, não foi possível, e por isso, desde que os bondes elétricos passaram a servir à população, em uma metrópole que
começava a se desenvolver e que, entre os anos de 1920 a 1950 estava com seus extremos marcados em um triângulo entre o Cabula, Amaralina e Itapagipe, os pontos mais distantes do centro onde Tomé de Souza instalou a cidade do Salvador, eram subindo e descendo ladeiras. Algumas delas ficaram marcadas pelos sucessivos desastres de bondes que desciam sem freios.

Bonde de tração animal

Lembramos a principal: sem dúvida a Ladeira da Praça. Os veículos que não atendiam à perícia dos motorneiros ou estavam com o sistema de brecagem defeituoso, desciam em disparada.  Cruzavam a Praça dos Veteranos, naqueles tempos ainda chamada de Guadalupe, e invadiam casas comerciais colocadas próximas à subida da Ladeira da Palma. Foram muitos os acidentes dessa natureza ali. Os jornais se reportavam a eles durante alguns dias e era o comentário triste da soterópolis, cada habitante relatando o que tinha ocorrido com seu conhecido, pois em uma cidade pequena certamente muitos amigos eram encontrados e os acidentes eram registrados pela imprensa, como ocorreu  em 07 de julho de 1929 e 04 de outubro de 1933.
(...)
Ladeira de São Bento

Muitos acidentes traumatizaram a cidade nos tempos solidários...
Na véspera de Reis, um sábado, 05 de janeiro de 1952, um ônibus na contramão, bateu com um bonde, em frente ao Cinema Roma e incendiou-se. Doze pessoas morreram carbonizadas, presas no interior da “marineti” (assim eram chamados os ônibus por aqui). Naquela ocasião, foi ali que pela primeira vez surgiu para a cidade inteira o nome de irmã Dulce, que acompanhada de outras freiras tentaram salvar os que lutavam para escapar. Marcada para a cidade comentar, ficou a história do jogador do Galícia, Daruanda, um dos mortos, cobrador de uma empresa comercial, que pela janela entregou uma pasta de dinheiro da cobrança a um desconhecido para ser entregue aos donos, o que foi feito, conforme comentários de toda Bahia (Salvador)...


Lembrado ficou o fazendeiro Leur Brito, sogro do ex-governador da Bahia (na época deputado estadual) que foi esmagado entre dois bondes, nos anos sessenta, em plena Rua Chile, quando saía da Confeitaria Chile e ia para o Hotel Nova Cintra, localizado no Palacete Catarino. O fazendeiro faleceu aos 59 anos de idade.
Milagre de Nossa Senhora da Conceição (da Praia) e Nosso Senhor do Bonfim ocorreu acima daquela igreja e em frente a outra mais distante, na década de 50. Um bonde descarrilou, na Praça Municipal, derrubou a balaustrada da (Sorveteria) Cubana, as duas rodas anteriores ficaram no espaço e ali ele permaneceu até ser retirado. Foi uma das lembranças do proprietário do estabelecimento, Albino Amoedo, que a Bahia ainda se lembra, como todas as outras que relatei.

   

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