Colaboração de Julival Góes
No
Brasil não existe a culpa, tampouco a remissão. Curioso como aqui o catolicismo
cedeu à lógica brasileira, e até o protestantismo evangélico foi distorcido
pela doutrina da Igreja Universal do Reino de Deus e seus filhotes. No Brasil
só existe a inocência ou culpados forçados. A conjuntura ou forças, quem
sabe,
invisíveis, fazem dos brasileiros vítimas em potencial de todas as
circunstâncias que os cercam, e de suas próprias circunstâncias, o que é muito
pior. Não que aqui não haja punição para criminosos, não é esse o ponto de
vista. A punição até que existe, porém, não existem culpados, ou seja, a
mentalidade brasileira reconhece a necessidade da punição, mas não reconhece a
culpa, obrigatoriamente.
Esse
argumento complicado e um tanto dúbio pode ser substanciado ou embasado por uma
análise comportamental da nossa sociedade. A pergunta secular, histórica, que
sociólogos, antropólogos e outros estudiosos se fazem reiteradas vezes é: - Por
que o brasileiro é tão desonesto, até nas mínimas coisas? Por que esse é um
povo tão ladrão, no sentido mais amplo da palavra, a ponto de roubar espaço de
fila em banco, vaga para deficientes ou troco no supermercado. No Brasil se
rouba de tudo, mas aqui o roubo é mais abrangente. Aqui se rouba o silêncio, a
tranquilidade; se usurpa o direito de se caminhar nas ruas, pois as calçadas
estão invadidas por carros, ambulantes, cocô de cachorro e ladrõezinhos
batedores de carteira (ou de smartphones); é tomada, na marra, a cidadania do
outro; aqui, estão até tentando roubar a democracia. Não existe mais
propriedade, tudo é “roubável”, tendo como pano de fundo a desculpa de que não
somos ladrões de fato, somos forçados pela pobreza... Sabe como é...
Culpa dos colonizadores que nos fizeram assim. O tal do “jeitinho” foi o jeitinho
que o brasileiro encontrou para justificar suas falcatruas.
O
brasileiro só quer se dar bem, mas não se acha culpado por isso. Vê-se por aí o
sorrisinho cínico de satisfação dos funcionários públicos fantasmas, dos
“concurseiros” que, enfim, conseguiram a tão sonhada “boquinha” no estado; as
gargalhadas dos políticos que achincalham a sociedade aberta e descaradamente.
Dá pra ver, no transito, o olhar pernóstico do motorista que passa com o seu
carrão por cima de tudo, até dos pedestres, se isso não desse tanta dor de
cabeça. Mas, no fundo, somos legais, somos um povo camarada, bons de bola,
temos o ministério dos direitos humanos, temos uma legislação ultra severa de
proteção ao meio ambiente, fazemos parte das forças de paz da ONU, queimamos
pneus nas ruas quando a polícia mata um bandido. Que incoerência é essa? O
brasileiro condena os traficantes, apoia o BOPE, mas consome toneladas e mais
toneladas de cocaína, maconha, “bala”, “doce” e otras cositas más.
Mas o drogado é uma vítima da sociedade, se droga por que foi injustiçado. O
brasileiro odeia os políticos, mas no fundo quer uma vaguinha lá no congresso
ou na repartição pública mais próxima. Aqui os índios têm permissão para
roubar, assassinar, incendiar, desmatar, traficar, invadir, devastar... Mas,
calma... Eles são vítimas dos portugueses que há 500 anos... blábláblá... No
Brasil, menores de idade tocam fogo nas pessoas, estupram, matam, mas tudo bem,
eles não sabem o que fazem, a sociedade os forçou a cometerem atos tão odiosos,
vamos dar um tempo, vamos ressocializá-los...
No
Brasil os políticos roubam o estado que escorcha os empresários que exploram o
trabalhador que se entope de drogas que financiam os traficantes que elegem os
políticos que roubam o estado... É o circulo vicioso eternizado pelo próprio
egoísmo do brasileiro, por sua obsessão em se dar bem, e por sua crença
inabalável de que há uma justificativa plausível para todos os seus atos. No
Brasil, todos são inocentes, mesmo que se prove o contrário.
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