segunda-feira, 24 de março de 2014

NÃO HÁ CULPADOS NA TERRA DOS INOCENTES

Colaboração de Julival Góes


No Brasil não existe a culpa, tampouco a remissão. Curioso como aqui o catolicismo cedeu à lógica brasileira, e até o protestantismo evangélico foi distorcido pela doutrina da Igreja Universal do Reino de Deus e seus filhotes. No Brasil só existe a inocência ou culpados forçados. A conjuntura ou forças, quem
sabe, invisíveis, fazem dos brasileiros vítimas em potencial de todas as circunstâncias que os cercam, e de suas próprias circunstâncias, o que é muito pior. Não que aqui não haja punição para criminosos, não é esse o ponto de vista. A punição até que existe, porém, não existem culpados, ou seja, a mentalidade brasileira reconhece a necessidade da punição, mas não reconhece a culpa, obrigatoriamente.

Esse argumento complicado e um tanto dúbio pode ser substanciado ou embasado por uma análise comportamental da nossa sociedade. A pergunta secular, histórica, que sociólogos, antropólogos e outros estudiosos se fazem reiteradas vezes é: - Por que o brasileiro é tão desonesto, até nas mínimas coisas? Por que esse é um povo tão ladrão, no sentido mais amplo da palavra, a ponto de roubar espaço de fila em banco, vaga para deficientes ou troco no supermercado. No Brasil se rouba de tudo, mas aqui o roubo é mais abrangente. Aqui se rouba o silêncio, a tranquilidade; se usurpa o direito de se caminhar nas ruas, pois as calçadas estão invadidas por carros, ambulantes, cocô de cachorro e ladrõezinhos batedores de carteira (ou de smartphones); é tomada, na marra, a cidadania do outro; aqui, estão até tentando roubar a democracia. Não existe mais propriedade, tudo é “roubável”, tendo como pano de fundo a desculpa de que não somos ladrões de fato, somos forçados pela pobreza... Sabe como é...  Culpa dos colonizadores que nos fizeram assim. O tal do “jeitinho” foi o jeitinho que o brasileiro encontrou para justificar suas falcatruas.

O brasileiro só quer se dar bem, mas não se acha culpado por isso. Vê-se por aí o sorrisinho cínico de satisfação dos funcionários públicos fantasmas, dos “concurseiros” que, enfim, conseguiram a tão sonhada “boquinha” no estado; as gargalhadas dos políticos que achincalham a sociedade aberta e descaradamente. Dá pra ver, no transito, o olhar pernóstico do motorista que passa com o seu carrão por cima de tudo, até dos pedestres, se isso não desse tanta dor de cabeça. Mas, no fundo, somos legais, somos um povo camarada, bons de bola, temos o ministério dos direitos humanos, temos uma legislação ultra severa de proteção ao meio ambiente, fazemos parte das forças de paz da ONU, queimamos pneus nas ruas quando a polícia mata um bandido. Que incoerência é essa? O brasileiro condena os traficantes, apoia o BOPE, mas consome toneladas e mais toneladas de cocaína, maconha, “bala”, “doce” e otras cositas más. Mas o drogado é uma vítima da sociedade, se droga por que foi injustiçado. O brasileiro odeia os políticos, mas no fundo quer uma vaguinha lá no congresso ou na repartição pública mais próxima. Aqui os índios têm permissão para roubar, assassinar, incendiar, desmatar, traficar, invadir, devastar... Mas, calma... Eles são vítimas dos portugueses que há 500 anos... blábláblá... No Brasil, menores de idade tocam fogo nas pessoas, estupram, matam, mas tudo bem, eles não sabem o que fazem, a sociedade os forçou a cometerem atos tão odiosos, vamos dar um tempo, vamos ressocializá-los...

No Brasil os políticos roubam o estado que escorcha os empresários que exploram o trabalhador que se entope de drogas que financiam os traficantes que elegem os políticos que roubam o estado... É o circulo vicioso eternizado pelo próprio egoísmo do brasileiro, por sua obsessão em se dar bem, e por sua crença inabalável de que há uma justificativa plausível para todos os seus atos. No Brasil, todos são inocentes, mesmo que se prove o contrário.


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