O AMANTE E AS ALCACHOFRAS

Por Nasr Ed-Din

Do, livro As mais belas páginas da literatura Árabe,

de Mansour Challita

A  mulher de Goha (que é, na literatura popular árabe, o protótipo do marido bobo, traído e satisfeito), conta a seguinte história:

Meu marido chegou um dia em casa, quando eu me achava com meu amante; de modo que o escondi em nossa despensa. Goha tinha trazido trinta alcachofras e as pôs na mesma despensa. Meu amante comeu uma delas. Depois, meu marido pôs-se a contar as alcachofras, uma a uma. Meu amante as foi passando a ele, e meu marido pensou que fosse sua própria mão que as ia tirando da despensa.

Quando verificou que faltava uma, procurou dentro da despensa e encontrou meu amante. “Quem és tu?”, perguntou: “Sou uma alcachofra”, respondeu o rapaz. Então, Goha gritou: “Que comerciante ladrão, aquele! Contou este camarada como uma alcachofra! Não é de admirar que eu lhe tenha perguntado porque a cesta estava tão pesada.”

Levou meu amante ao verdureiro e disse-lhe: “Não tens mudo de Deus? Como ousaste pesar isto no meio das minhas alcachofras?”

O homem estava com disposição para brincar. Puxou a orelha do meu amante e gritou-lhe: “Quantas vezes já te disse para só te deixares contar como um nabo, e não como uma alcachofra?” Depois deu a meu marido outra alcachofra.

O VIZIR SELADO E ARREADO

Por Ach-Chirauani

Contam que certo rei gostava desmedidamente  de mulheres e tinha um vizir que sempre o prevenia contra elas.

Uma das cantoras do rei notou que seus sentimentos para com ela mudavam, e perguntou-lhe: “Senhor, que significa isto?” Ele respondeu: “ Meu vizir me adverte para não te amar.” Retrucou a moça: “Dê-me a ele, e veja o que farei dele.” O rei deu-a ao vizir.

Quando o vizir ficou a sós com ela, a moça defendeu-se tão bem de suas avançadas, que despertou nele uma enorme paixão. Mas ela o preveniu: “Você não me tocará enquanto não me deixar montar em você, selado e arreado.” O vizir consentiu. Então, a moça pôs-lhe uma sela, embridou-o, montou nele e saiu pela sala a cavalga-lo.

Previamente avisado, o rei acorreu ao apartamento da moça, enquanto ela fazia sua cavalgada. “Ó vizir, que vejo?, gritou o rei. Você me previne contra as mulheres, e se comporta com ela dessa maneira!” – “Príncipe, respondeu o vizir, quis mostrar a Vossa Majestade o que receio que lhe aconteça.

(Dizem que o rei se maravilhou com essa resposta – pois há somente os políticos para rivalizar em astúcia com as mulheres).