Um museu na Montanha
Excerto do artigo sob
título homônimo, de autoria de Diógenes Moura, jornalista, escritor e
roteirista, curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A Santa Casa
da Misericórdia da Bahia tem um vasto acervo de obras que vão desde o século
XVII aos
dias atuais: pinturas sobre telas, pinturas sobre madeira, esculturas,
imagens sacras, alfaias, além dos paineis em azulejaria portuguesa, peças de
mobiliário e documentos raros. O percurso expositivo da Ala Ritual do Museu da
Misericórdia tem seu início na sacristia, no piso térreo, onde estão as
pinturas de João Álvares Correa, datadas de 1699. Ao todo, foram criadas 12
tábuas para o forro da sacristia, das quais apenas seis permanecem até o dia de
hoje. Artista importante no trabalho artesanal da Santa Casa, sua mão também se
fez presente no douramento da tribuna, no retábulo da capela-mor e na
“encarnação” da imagem de Cristo no cora da igreja. Na época o verbo “encarnar”
(Dar cor de carne a (imagens, estátuas ou outros objetos), era obrigatório para
os religiosos).
As figuras
repletas de imponência que aparecem Nas pinturas revelam, nos espaços
cenográficos onde foram retratadas, uma relação muito clara entre o tempo e
espaço, já que se trata de uma pintura que funciona quase como uma fotografia.
Ali estão os usos e costumes da época, a dureza do olhar, o vestuário, o
mobiliário e a revelação – mesmo que embutida muitas vezes num silêncio
provocante – da história de cada um desses personagens.
Nesses
quatro anos de trabalho foram muitas as descobertas feitas por Domingo
Tellechea e sua equipe, tanto nas pinturas quanto nas imagens sacras: camadas
acumuladas, vernizes oxidados, fuligens provocadas pelas chamas das velas.
“Esse é um empreendimento de complexidade nunca visto em Salvador, e,
possivelmente no Brasil, em restauro. É um movimento que se dá num momento nada
casual em nosso País, onde a frase conservação do patrimônio pode ser tomada
como uma carta de cidadania popular, como reação a uma época de destruição e
perdas sem paralelo na nossa história Post Corso”, encerra Tellechea.
Com a
finalização do projeto (Museu) – a abertura da Ata Ritual do Museu da
Misericórdia e de outras realizações –, cumpre-se os rumos de um projeto
voltado para o futuro e para o sentido da identidade de um povo, dos seus
sentimentos, dos seus valores de história e memória e dos anseios mais
profundos de cidadania: devolver para a comunidade o que a ela pertence.
NR/ “Saciar a fome e sede de cultura é também
obra de misericórdia.” Com tais palavras, no dia 25 de janeiro de 2006, o
então Provedor da Santa Casa, Álvaro
Conde Lemos Filho, há pouco desaparecido, deu como inaugurado o Museu da
Misericórdia, que se tornou, com o correr do tempo, o mais visitado da Bahia e
um dos mais reverenciados do Brasil. Conquistas ou laureis que não serão
abandonadas, graças à garra do novo Provedor da instituição, Roberto Sá Menezes, jovem valoroso e
competente quadro da nossa terra, que transpira trabalho, dedicação e amor às
boas causas do nosso Estado.
Museu da Misericórdia
Ala Ritual do Museu da Misericórdia –
Rua da Misericórdia, 06, Salvador – Ba.
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