sexta-feira, 14 de março de 2014

O FRACASSO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Por JOACI GÓES


Mais um ano letivo se inicia sem que tenhamos o que celebrar em matéria de avanço na educação pública brasileira.


Salta aos olhos dos analistas da cena mundial que todos os grandes problemas que afligem o Brasil derivam de nosso deficiente e desigual sistema educacional. O País, porém, não pode ficar parado, aguardando a maturidade de seu processo educacional para, então, pôr cobro aos males que o afetam. Afinal de contas, tantos são os problemas que assoberbam nossa vida cotidiana, que se torna imperativo enfrentá-los a partir do instante em que se apresentem, sob pena de naufragarmos como indivíduos e como coletividade orgânica que se chama povo ou nação.
  
Enquanto não compreendermos que só teremos uma democracia verdadeiramente digna desse nome quando formos capazes de dar acesso a uma educação de alto nível às populações mais pobres, continuaremos a sofrer as nefastas consequências da brutal desigualdade de oportunidades reinante, geradora do quadro de apartheid social que nos caracteriza. A sociedade excessivamente desigual que construímos no Brasil é o resultado da má qualidade do ensino público brasileiro, vítima, não raro, de uma combinação nefasta de incompetência, corrupção, populismo e primarismo ideológico.   
  
No Brasil, até a década de 1960, acreditava-se que a educação era consequência e não causa do desenvolvimento, percepção que se modificou na década seguinte, ainda que no plano meramente discursivo, como, de certo modo, continua ocorrendo.
  
Em matéria de quantidade, o Brasil deu enorme e inédito salto, ao triplicar, em dez anos, as matrículas do ensino médio, colocando 97% dos alunos, entre 7 e 14 anos, na escola. O problema passou a ser de qualidade, nosso calcanhar de Aquiles, sobretudo quando a comparamos com a de outras nações.
  
Para os baianos, o drama é ainda maior por apresentarmos um dos piores desempenhos em qualidade do ensino. Isto é: ocupamos um dos últimos lugares em um país onde a educação vai muito mal! Enquanto o eleitorado continuar de costas para a importância da educação, como fator central de nosso desenvolvimento moral, espiritual e material, continuaremos a ver o alargamento do mar de problemas que infelicitam a nação e o nosso estado. Basta ver que nada menos do que 70% dos pais revelam-se satisfeitos com a péssima educação dos filhos, bem assim professores e alunos. Tragédia nacional!  
  
A pobreza que, quase sempre, deriva da ignorância, é um grande obstáculo ao aprendizado, enquanto os lares dotados de conforto material favorecem o desenvolvimento do aprendizado. Prova disso são os estudantes nipo-brasileiros que, representando, apenas, 0,5% do alunado de São Paulo, conquistam 15% das vagas na USP, ou trinta vezes mais, per capita, reflexo do valor que os pais dão à educação dos filhos.
  
Só a ação firme do Estado, com a adoção das Escolas Parque, no modelo preconizado por Anísio Teixeira e aplicado no Rio por Leonel Brizola, pode interromper este círculo vicioso. O berço, refletindo o interesse dos pais na educação dos filhos, antecede a própria escola, em importância, como fator educacional e construção da cidadania.
         
A criança destituída de berço promotor do seu desenvolvimento não pode perder a oportunidade de ter uma escola de qualidade, última possibilidade de salvar do naufrágio seu futuro. É por isso que apenas um quarto dos alunos pobres que ingressam no ensino fundamental chega ao curso médio. Os demais, 75%, ficam no meio do caminho. E do total do alunado pobre, apenas 1% conclui o ensino universitário público, o que significa que do modo como as coisas vão será cada vez maior o já iníquo quadro das desigualdades interpessoais que comprometem nossa paz social.
  
A verdade é que a má qualidade do ensino no País deriva, em grande medida, da má qualidade da gestão. Os alunos do 5° ano de uma escola do ensino fundamental de Sobral, município cearense, apresentaram um rendimento maior, em matemática e português, do que os alunos da rede municipal do município de São Paulo, que custam quase o dobro, consoante avaliação do MEC.

O esforço recente, realizado pelo estado do Acre, para melhorar o ensino, demitindo pessoal ocioso, incrementando a qualidade dos prédios escolares e adotando critérios meritocráticos na escolha dos diretores, produziu resultados favoráveis aferidos na prova do SAEB.    Está no Piauí a melhor escola secundária do Brasil.   
  
Entre 14 países considerados, o Brasil ficou em 13° lugar, em desempenho educacional, apesar de figurar com o 6° maior investimento na área, elencado a partir do percentual do PIB de 2010, o mesmo de Espanha e Coreia do Sul, comprovando a má qualidade da nossa gestão na aplicação dos recursos.
Sem dúvida, a educação é uma maratona. Nunca uma corrida de cem metros rasos. 


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