Pintores baianos
Ruy Espinheira Filho
Adilson
Santos pinta a infância em O Coração
Adormecido de Poções. Mas não pinta crianças, nem brincadeiras infantis: a
infância que ele nos transmite é, na verdade, seu mundo interior. O mundo do
coração da infância – com suas noites profundas, luas recurvas e espectrais,
ruas silenciosas (sobem de seus quadros) uma forte sugestão de silêncio),
árvores, casas humildes, uma igrejinha (sempre a mesma, a nos fitar do fundo do
Tempo, esquinas de vento e frio, objetos fantásticos, seres mitológicos, belas,
solenes e enigmáticas figuras humanas.
“Não há
senão um caminho. Procure entrar em si mesmo” – dizia Rainer Maria Rilke em sua
primeira carta ao jovem Franz Xavier Kappus. – “Mesmo que se encontrasse numa
prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus
ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza,
esse tesouro de recordações?”
A pintura de
Adilson Santos me remete as palavras do poeta. Porque ele nos oferece
exatamente isto: os encantamentos, os espantos, a solidão (solidão também é
palavra de amor, como ensina Carlos Drummond de Andrade), os sonhos de
infância. De uma infância numa cidadezinha do interior baiano, onde jaz
adormecido um coração repleto daquela “esplendida e régia riqueza”. U coração
que pulsa na arte de Adilson Santos – e lembra em nós nosso próprio coração.
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