sábado, 15 de março de 2014

O REALISMO MÁGICO DE ADILSON SANTOS

Pintores baianos


Ruy Espinheira Filho
Adilson Santos pinta a infância em O Coração Adormecido de Poções. Mas não pinta crianças, nem brincadeiras infantis: a infância que ele nos transmite é, na verdade, seu mundo interior. O mundo do
coração da infância – com suas noites profundas, luas recurvas e espectrais, ruas silenciosas (sobem de seus quadros) uma forte sugestão de silêncio), árvores, casas humildes, uma igrejinha (sempre a mesma, a nos fitar do fundo do Tempo, esquinas de vento e frio, objetos fantásticos, seres mitológicos, belas, solenes e enigmáticas figuras humanas.
“Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo” – dizia Rainer Maria Rilke em sua primeira carta ao jovem Franz Xavier Kappus. – “Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações?”
A pintura de Adilson Santos me remete as palavras do poeta. Porque ele nos oferece exatamente isto: os encantamentos, os espantos, a solidão (solidão também é palavra de amor, como ensina Carlos Drummond de Andrade), os sonhos de infância. De uma infância numa cidadezinha do interior baiano, onde jaz adormecido um coração repleto daquela “esplendida e régia riqueza”. U coração que pulsa na arte de Adilson Santos – e lembra em nós nosso próprio coração.






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