quinta-feira, 20 de março de 2014

PÉROLAS DAS TERRAS DAS MIL E UMA NOITES

Extraído do livro As mais Belas Páginas da Literatura Árabe, de Mansour Challita –, Edição da Associação Cultural Internacional Gibran

O ESCRAVO

Dez vezes abandonei-a, e dez vezes voltei.
Agora, ela sabe que não partirei mais.

E, contudo, não a quero.
Se ela morresse amanhã, eu seria feliz, seria livre!
Conheceste, acaso, a tortura de soluçar sobre um corpo da mulher aviltado por outras carícias?
Conheceste a vergonha de não poder arrancar-se do lado de uma mulher porque seu corpo é maravilhoso?
Hoje, bati-lhe; e, como se me desafiasse ainda, ardente, transfigurada, com um luz tão bela nesses olhos divinos, atirei-me sobre sua boca como quem se mata, e jamais beijo algum foi mais voluptuoso.
Quando a ameaço, estira-se preguiçosamente.
Quando ameaço seus amantes, põe-se a cantar uma canção jocosa.
Quando falo em matar-me, contenta-se em perguntar; “E quem cuidará de tuas rosas?
E vivo minha vergonha, esperando que esse corpo incomparável murche, como as minhas rosas.

MEDITAÇÃO


Aquele que se deita sobre um tapete de cem dinares dorme, muitas vezes, menos profundamente do que o cameleiro que repousa a cabeça sobre um cavalete de madeira.
Aquele que se deleita numa fonte de mármore não conhecerá jamais a alegria do mendigo que encontra uma tigela cheia.
Aquele que acaricia uma mulher querida, ignora a voluptuosidade de esperar a volta da infiel.

O CORAÇÃO SANGRENTO


Riste de minhas lágrimas!
Sabes que és a primeira diante da qual já chorei?
Acaricia-te com minha dor, goza de teu triunfo, não percas um instante, porque esta noite penetrarei em tua alcova, iluminado pelo meu punhal, e, à aurora, atirarei teu coração aos corvos!
Terá palpitado em minha mão: uma razão para leva-la.  Terá atravessado o azul: a chuva o purificará. Terá perfumado a areia: o vento apagara tua merca.
Corvos negros, chegai do horizonte para combater pela presa: um coração de mulher?
Lançar-vos-lo-ei de uma janela... depois de ter encerrado minha dor dentro dele.

O MENDIGO

Se estás cansado de ser amado por tuas riquezas, veste um velho albornoz escuro, raiado de negro, e sai, descalço, pela noite.
Teu coração poderá ser igual aos incensários que os mendigos agitam nas encruzilhadas; poderás cantar ternas canções: não haverá mulher que te faça uma esmola de amor. Todas passarão e dirão: “Para que? Este pobre diabo nem ao menos tem chinelos,”
Que o homem rico faça a experiência do albornoz escuro.
Poderá considerar-se feliz aquele que, ao regressar à sua morada, encontre uma bem-amada pronta a lhe dar uma esmola de amor, mesmo oor causa de suas riquezas. 




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