Vítima da traição e da Inquisição
Giordano
Bruno (Nola, Reino de Nápoles, 1548 — Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação
da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício)
por heresia. É também referido como Bruno de
Nola ou Nolano.
Filho
do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino, seu nome de batismo era
Filippo Bruno. Adotou o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana,
aos 15 anos de idade.
No
seminário, estudou Aristóteles e Tomás de Aquino,
predominantes na doutrina Católica da época, doutorando-se em Teologia.
Suas
ideias avançadas, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia da
Igreja. Em 1576 foi acusado de heresia e levado a Roma para ser julgado. Poucos meses depois,
abandonou o hábito e em 1579 deixou a Itália.
Iniciou-se,
então, o período de peregrinação de sua vida. Em Gênova, ainda em 1579, aparentemente, adotou o Calvinismo, o que negaria mais tarde, ao ser julgado
em Veneza. Acabou
sendo excomungado pelos
calvinistas e expulso de Gênova. Viajou sucessivamente para França (Toulouse, Paris ), Suíça e Inglaterra. Em Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a
proteção do embaixador francês, e frequentou o círculo de amigos do poeta
inglês Sir Philip Sidney. Em 1585, Bruno retornou a Paris, indo em seguida para Marburgo,Wittenberg, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde conseguiu publicar vários de seus
escritos.
Em
Roma, o julgamento de Bruno durou sete anos durante os quais ele foi preso, por
último, na Torre de
Nona. Alguns documentos
importantes sobre o julgamento estão perdidos, mas outros foram preservados e
entre eles um resumo do processo, que foi redescoberto em 1940. As
numerosas acusações contra Bruno, com base em alguns de seus livros, bem como
em relatos de testemunhas, incluíam blasfêmia, conduta imoral e heresia em
matéria de teologia dogmática e envolvia algumas das doutrinas básicas da sua
filosofia e cosmologia. Luigi Firpo lista estas acusações feitas contra Bruno
pela Inquisição Romana:
sustentar opiniões contrárias à fé católica e falar contra ela a seus ministros;
sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a Trindade, a divindade de Cristo e
a encarnação;
sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre Jesus como
Cristo;
sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a virgindade de Maria, mãe de Jesus;
sustentar opiniões contrárias à fé católica tanto sobre a Transubstanciação quanto a Missa;
reivindicar a existência de uma pluralidade de mundos e suas
eternidades;
acreditar em metempsicose e na transmigração da alma humana em brutos, e
envolvimento com magia e adivinhação.
Giovanni
Mocenigo (1558-1623), membro de um das mais ilustres famílias venezianas, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e convidou-o para ir a Veneza, a
pretexto de lhe ensinar mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que
Bruno era perito. Segundo Will Durant, Bruno
estava havia muitos anos na lista dos procurados pela Inquisição,
ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza gozava da fama
de proteger tais foragidos, e o filósofo sentiu-se encorajado a cruzar
os Alpes e regressar. Como Mocenigo quisesse usar
as artes da memória com fins comerciais, segundo alguns, ou esperasse obter de
Bruno ensinamentos de ocultismo para aumentar seu poder, prejudicar seus concorrentes
e inimigos, segundo outros, Bruno se negou a ensiná-lo. Segundo Durant,
Mocenigo, católico piedoso, assustava-se com" as heresias que o loquaz e
incauto filósofo lhe expunha", e perguntou a seu confessor se devia
denunciar Bruno à Inquisição. O sacerdote recomendou-lhe esperar e reunir
provas, no que Mocenigo assentiu; mas quando Bruno anunciou seu desejo de
regressar a Frankfurt, o nobre denunciou-o ao Santo Ofício.
Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da Inquisição para
levarem-no preso, acusado de heresia. Bruno foi trasferido para o cárcere do Santo
Ofício de San Domenico de Castello, no dia 23 de maio de 1592.
No
último interrogatório pela Inquisição do Santo Ofício,
não abjurou e, no dia 8 de fevereiro de 1600, foi condenado à morte na fogueira. Obrigado a ouvir a sentença ajoelhado, Giordano Bruno
teria respondido com um desafio: Maiori forsan
cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam ("Talvez
sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la").
A
execução de sua sentença ocorreu no dia 17 de fevereiro de 1600. Na ocasião
teve a voz calada por um objeto de madeira posto em sua boca.
Foi
trágico o desfecho do processo contra Giordano Bruno (séc. XVI), acusado de
panteísmo e queimado vivo por defender com exaltação poética a doutrina da
infinitude do Universo e por concebê-lo não como um sistema rígido de seres,
articulados em uma ordem dada desde a eternidade, mas como um conjunto que se
transforma continuamente.
Um
dos pontos chaves de sua cosmologia é a tese do universo infinito e povoado por uma infinidade de estrelas, como o Sol, e por outros planetas, nos quais, assim como na Terra, existiria vida inteligente. Sua
perspectiva se define a partir das idéias de Nicolau da Cusa, Copérnico e Giovanni
Battista della Porta.
As suas ideias sobre a relatividade anteciparam as de Galileu: num universo infinito, qualquer perspectiva de
qualquer objeto é sempre relativa à posição do observador, há infinitos
referenciais possíveis e não existe nenhum privilegiado em relação aos
demais. Além de defender a existência de planetas extrassolares, pode
ter introduzido algumas idéias do que seria depois a Teoria da Evolução de Darwin
Seu
livro Spaccio de la Bestia Trionfante era um ataque à religião
e mostrava o ateísmo do seu autor.
Segundo John Gribbin,
em seu livro Science: A History (1543-2001), Bruno filiou-se
ao hermetismo,
baseado em escrituras egípcias,
da época de Moisés.
Entre outras referências, esse movimento utilizava os ensinamentos atribuídos
ao deus egípcio Thoth,
cujo equivalente grego era Hermes (daí hermetismo), conhecido pelos
seguidores como Hermes Trismegisto. Bruno teria abraçado a teoria de
Copérnico porque ela se encaixava bem na ideia egípcia de um universo centrado no sol.
Deus
seria a força criadora perfeita que forma o mundo e que seria imanente a ele. Bruno defendia a crença nos poderes
humanos extraordinários, e enfrentou abertamente a Igreja Católica e
seus preceitos.
Giordano
Bruno foi o grande defensor da ideia de infinito.
"Nós
declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer razão, conveniência,
possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um limite." (Giordano
Bruno, Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos, 1584).
Bruno
era hilozoísta (pensava
que tudo tem vida) e panpsiquista (pensava que tudo tem uma natureza
psíquica, uma alma).
"A
Terra e os astros (...), como eles dispensam vida e alimento às coisas,
restituindo toda matéria que emprestam, são eles próprios dotados de vida, em
uma medida bem maior ainda; e sendo vivos, é de maneira voluntária, ordenada e
natural, segundo um princípio intrínseco, que eles se movem em direção às
coisas e aos espaços que lhes convêm" (A ceia de cinzas).
"Todas
as formas de coisas naturais têm almas? Todas as coisas são animadas? pergunta Dicson. Theophilo, porta-voz
de Bruno, responde: Sim, uma coisa, por minúscula que seja, encerra em
si uma parte de substância espiritual, a qual, se encontra o sujeito [suporte]
adequado, torna-se planta, animal (...); porque o espírito se encontra em todas
as coisas, e não há mínimo corpúsculo que não o contenha em certa medida e que
não seja por ele animado." (Causa, Princípio e Unidade,
1584).
"E
o que se pode dizer de cada parcela do grande Todo, átomo, mônada, pode se dizer do universo como
totalidade. O mundo abriga em seu coração a Alma do mundo" (idem).
"O
mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus , ser
infinito, possa ter se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e
limitado?" (idem)
"Não
é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que ela está do nosso
lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais intimamente em nós do que estamos
em nós mesmos." (A
ceia de cinzas).
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