O movimento
musical brasileiro que encantou o mundo
O MOVIMENTO DA BOSSA NOVA
João Gilberto
Bossa Nova é um
movimento da música popular brasileira do final
dos anos 50 lançado
por João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e jovens cantores e/ou compositores de classe média da
zona sul carioca, derivado do samba e com
forte influência do jazz.
De início, o termo
era apenas relativo a um novo modo de cantar e
tocar samba naquela época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do
moderno samba carioca urbano. Com o passar dos anos, a Bossa Nova tornou-se um
dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira, conhecido em todo
o mundo, um grande exemplo disso é a música Garota de Ipanema composta
em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim.
A palavra bossa apareceu
pela primeira vez na década de 1930, em Coisas
Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O
samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A
expressão bossa nova passou a ser utilizada também na década seguinte para
aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas
durante a música para encaixar falas.
Tom Jobim
Alguns críticos
musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do
Pós-Guerra, de músicos como Stan Kenton, combinada
ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na
bossa nova, especialmente do cool jazz e bebop. Embora
tenha pouca influência de música estrangeira como o Jazz, a Bossa Nova possui
elementos de samba sincopado. Além disso, havia um fundamental
inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950
com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência
sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que
fizeram a Bossa Nova.
Um embrião do
movimento, já na década de 1950, eram as
reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe
média carioca em
apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na
Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes
encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo
se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos
compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre
outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre
outros.
Lúcio Alves
Primeiro movimento
musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram
realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a
bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco
das Garrafas.
No final de 1957, numa destas apresentações, no Colégio
Israelita-Brasileiro, teria havido a ideia de chamar o novo gênero - então
apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre
samba e jazz -,devido a um recado escrito num quadro-negro,
provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para
uma apresentação de samba-sessions por uma turma "bossa-nova".
Vinicius de Moraes, principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com Tom Jobim em 1958 e que consagrou o estilo.
Movimento que ficou
associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista
da presidência de Juscelino Kubitschek (1955-1960) -, a
bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em Agosto
de 1958, um compacto simples do
violonista baiano João Gilberto (considerado
o papa do movimento), contendo as canções Chega de
Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor).
Meses antes, João
participara de Canção do Amor Demais, um álbum lançado em Maio
daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla
Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca Elizeth Cardoso. De acordo
com o escritor Ruy Castro (em
seu livro Chega de saudade, de 1990), este LP
não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um
dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas
composições do gênero - entre as quais, Luciana, Estrada
Branca, Outra Vez e Chega de Saudade-, como
também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes
dissonantes e inspirados no jazz norte-americano
- influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.
Outras das características
do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então,
abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma
de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia,
"desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar
baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da
narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar
da valorização da 'grande voz".
Em 1959, era
lançado o primeiro LP de João Gilberto, Chega de saudade, contendo
a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas
brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade. Além
de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom
Jobim e Vinícius de Moraes. Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito
bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956,
para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de
não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o
famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do Bando da Lua, para
fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das
belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você",
já prenunciando os elementos melódicos da Bossa Nova.
Além de Chega
de saudade, os dois compuseram Garota de Ipanema, outra
representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais
conhecida em todo o mundo, depois de Aquarela do Brasil (Ary Barroso), com mais
de 169 gravações, entre as quais de Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com
Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros. É de Tom Jobim também, junto
com Newton Mendonça, as canções Desafinado e Samba
de uma Nota Só, dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical
brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.
Nara Leão
Em meados da década
de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada
por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime e
estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista, este grupo fez uma
crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua
reaproximação com compositores de morro, como o sambista Zé Ketti. Um dos
pilares da bossa, Carlos
Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que
promoveu parcerias com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e
baião e xote nordestinos como João do Vale. Nesta
fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o
antológico LP "Os Afro-sambas", de Vinicius de Moraes e Baden Powell.
Entre os artistas
que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da
bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo, Marcos Vasconcelos, Dori
Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre
outros...
Um dos maiores
expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius
de Moraes compôs, com Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida
por Elis
Regina no I Festival de Música Popular Brasileira (da
extinta TV Excelsior), realizado no Guarujá naquele
mesmo ano. Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que
abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 -
época em que surgiu um pop rock nacional
renovado.
A MPB nascia com
artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda, que apareciam com
frequência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles
tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do II Festival de
Música Popular Brasileira, realizado em São Paulo em 1966,Disparada,
de Geraldo, e A Banda, de Chico, podem ser consideradas marcos
desta ruptura e mutação da bossa em MPB.
O fim cronológico
da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma
grande referência para gerações posteriores de artistas, do jazz (a
partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de Desafinado pela
dupla Stan Getz e Charlie Byrd) a uma
corrente pós punk britânica (de
artistas como Style Council, Matt Bianco e Everything but the Girl).
No rock brasileiro, há de se
destacar tanto a regravação da composição de Lobão, Me
chama, pelo músico bossa-novista João Gilberto, em 1986,
além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, Faz
parte do meu show, gravada em 1988, com arranjos fortemente inspirados na
Bossa Nova.
Seu legado é
valioso, deixando várias joias da música nacional, dentre as quais Chega de Saudade, Garota de Ipanema, Desafinado, O
barquinho, Eu Sei Que Vou Te Amar, Se Todos Fossem
Iguais A Você, Águas de março, Outra Vez, Coisa
mais linda, Corcovado, Insensatez, Maria
Ninguém, Samba de uma nota só, O pato, Lobo
Bobo, Saudade fez um Samba.
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