A primeira revolta de cunho social no Brasil
A Revolta
dos Malês foi uma mobilização de escravos de origem islâmica, a qual
registrou-se na noite de 25 para 27 de janeiro de 1835 na cidade deSalvador,
capital da então Província da Bahia, no Brasil.
Constituiu
numa sublevação de caráter social, de escravos africanos.
À etnia nagô (também conhecidos como iorubás) coube o papel preponderante: nagôs islamizados não só constituíram a maioria
dos combatentes, como a maioria dos líderes.
Mais de 80 por cento dos réus escravos em 1835 eram nagôs, sendo eles apenas 30
por cento dos africanos. Outras etnias africanas presentes em Salvador na
época também desempenharam papel no movimento, como a etnia haussá (hauçá). Os negros nascidos no Brasil, e por isso
chamados crioulos, não participaram da revolta, que foi feita
exclusivamente por africanos.
O
movimento organizou-se em torno de propostas radicais para libertação dos
demais escravos africanos que fossem muçulmanos, sendo que a tomada do governo constituía
um dos principais objetivos dos rebeldes. "Malê" é o termo que se
utilizava para referir-se aos escravos muçulmanos.
A
identidade étnica e religiosa desempenharam papel crucial para deslanchar o
movimento. A maioria dos muçulmanos que viviam na Bahia era nagô. Embora outros grupos, como os haussá também fossem islamizados, coube aos nagô o predomínio no movimento. Eram nagôs os seguintes líderes: os escravos Ahuna,
Pacifico Licutan, Sule ou Nicobé, Dassalu ou Damalu e Gustard. Também nagô era
o liberto Manoel Calafate. Os outros eram o escravo tapa Luís Sanim e o liberto
haussá Elesbão do Carmo ou Dandará, que negociava com fumo.
Planejada
por elementos que possuíam experiência anterior de combate, na África, de
maneira geral, os malês propunham o fim do catolicismo -
religião que lhes era imposta -, o assassinato e confisco dos bens de todos os
brancos e mulatos e a implantação de uma monarquia islâmica, com a escravidãodos
não muçulmanos (brancos, mulatos e negros).
De
acordo com o plano de ataque, assinado por um escravo de nome Mala Abubaker, os
revoltosos sairiam da Vitória (atual bairro da Barra),
para Itapagipe
(Salvador), onde se reuniriam ao restante das forças. Tinham como objetivo
tomar o governo, e com isso professar suas crenças religiosas, conquistando
seus direitos. O passo seguinte seria a infiltração dos engenhos do Recôncavo e
a libertação dos escravos.
Ao
mesmo tempo, as autoridades também se organizaram com rapidez, conseguindo
repelir os ataques aos quartéis de Salvador, colocando em fuga os revoltosos.
Ao procurar sair da cidade, um grupo de mais de quinhentos revoltosos, entre
escravos e libertos, foi barrado na vizinhança do Quartel de Cavalaria em Água
dos Meninos, onde se deram os combates decisivos, vencidos pelas forças
oficiais, mais numerosas e bem armadas.
No confronto morreram sete integrantes das
tropas oficiais e setenta do lado dos revoltosos. Duzentos e oitenta e um,
entre escravos e libertos, foram detidos no Forte do Mar (Forte de São Marcelo) e levados aos
tribunais. Suas condenações variaram
entre a pena de morte para quatro dos principais líderes, os trabalhos forçados, o degredo e
os tacos.
À
época, os africanos foram proibidos de circular à noite pelas ruas da capital e
de praticar as suas cerimônias religiosas.
Apesar
de rapidamente controlada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às
autoridades e às elites o
potencial de contestação e rebelião que envolvia a
manutenção
do regime vigente, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo de D. Pedro II.
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