Vistas a cantar e se pentear com pentes de ouro, as mouras prometem seus tesouros a jovens dispostos a desencantá-las com certas oferendas (geralmente de pão ou leite), de preferência no dia de São João. Vale notar que, em tempos pagãos, pão era oferecido aos mortos e leite às fontes e às serpentes. Às vezes, as mouras tomam a forma de mulher-serpente (e nesse caso devem ser desencantadas com um beijo) ou têm asas e vivem em um lugar mítico conhecido como "mourama".
As lendas descrevem as mouras encantadas como jovens donzelas de grande beleza ou encantadoras princesas e, segundo Alexandre Parafita, “perigosamente sedutoras”. As mouras aparecem frequentemente cantando e penteando os seus longos cabelos, louros como o ouro ou negros como a noite, com um pente de ouro e prometem tesouros a quem as libertar do encanto.
Tudo isto parece ter muito pouco a ver com os mouros históricos - mesmo que se queira pensar nas djinns das Mil e Uma Noites. Parece possível que os portugueses, depois de expulsarem os mouros propriamente ditos, tenham confundido seu nome com o de entidades muito mais antigas.
No folclore basco, existe a deusa Mari e os Mairu, gigantes que teriam construído os dólmens e outros monumentos pré-históricos. Nas línguas celtas, mori pode ser lago, mar ou pântano, morwen ou mahra, espírito e mori-morwen, um espírito das águas análogo às janas. Nas ilhas Britânicas, nomes como Muir, Mor, Mhor, More e mesmo Moor (que pode também significar "mouro"), cognatos do celta mori, estão frequentemente associados a monumentos megalíticos.
Outra possibilidade é que as "mouras encantadas" sejam, na verdade, descendentes das Moiras da mitologia grega - Cloto, Láquesis e Átropos, as deusas do destino, temidas pelos próprios olímpicos, que fiam com sua roca a vida dos mortais, medem-na com uma régua e decidem seu fim com a tesoura.
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