segunda-feira, 1 de setembro de 2014

PREPARE UM TESTÍCULO DE BOI NORDESTINO

 Por HELÔ SAMPAIO




Eh! Meu povo, o “qué” que a gente vai fazer, hein? Salvador é uma cidade de Verão: é chover que a gente derrete. Baiano só sai de casa se não tiver jeito. E essa chuva tem maltratado a nossa cidade: virou uma poça d’água. Até faz um friozinho! Frio em Salvador da Bahia!? Ninguém acredita. Parece piada. Fiz até uma foto, estes dias, e mandei pra Diego, lá em Toronto, pra provar que Salvador também tem garoa e chuva.
Eu até tive que tirar as teias de aranha de um velho baú para desencavar um casaco que eu trouxe da Europa, bater no danado pra tirar o mofo, o bolor e o cheiro de naftalina, prá desfilar com ele toda prosa e gostosa, aproveitando esse friozinho safadinho antes que ele vá embora. Eu já quase não tinha mais esperança de estrear o meu casaco europeu aqui.
Agora me diga, meu bonito, se não existe alguma coisa errada com este país? Pense bem: São Paulo está vivendo um drama com a falta de água. É “Sumpaulo”, meu fio, sem água nem pra lavar a cara. Alagoas há poucos dias estava inundada, com enchente, nadando pra todo lado. Sergipe fez frio dia desses, que quase neva; que nem Salvador estes dias, quando a temperatura baixou um tiquinho, mas, para nós, invernou geral. A gente não devia trabalhar nesses dias. Só tomar vinho, saborear um fondue ou um caldo verde acompanhada de um “chamêgo” bonito; e depois correr para debaixo do cobertor. Isso é que é vidão!
Mas ninguém acredita quando dizemos que está frio na Bahia. O diacho é que ficamos desmoralizados, pois quando a gente está se empolgando com o frio, põe uma meia, um casaquinho e sai pra rua... o solzão aparece, o calorzão bate e em pouco tempo a produção ‘invernosa’ vai pro ralo. O casaco vira um trambolho na mão, mudamos do caldo verde para caldo de sururu, trocamos o fondue pela casquinha de siri, e o vinho pela “loirésima” gelada. A “chiqueza” desce por água abaixo. A mudança dos petisco não importa, pois são igualmente saborosos. Mas um friozinho faz bem até pra gente presepar um pouquinho, com umas roupinhas mais quentinhas e aconchegantes. Ou não é?
Agora, mudando de pau pra cacete, já viu que anão entrou na moda? O Brasil foi para a Copa com a fama de gigante, temido até pelos grandes. Caiu pelas tabelas e saiu achincalhado, apequenado, nanico. O técnico mudou de Felipão para Dunga (alguma semelhança com o anão da Branca de Neve?). Tomamos sete gols (quantos eram mesmo os anõezinhos da bela?). Outro dia, nós nos metemos com a guerra dos outros, e um ‘carinha’, porta-voz de Israel, disse que o nosso Brasil era um anão diplomático.
Já o FMI diz que somos um país ‘vulnerável’ com queda no preço das commodities, prevendo o crescimento negativo da economia, ou seja, pra baixo, que nem rabo de cavalo. Uma rede bancária está preocupada com o câmbio, e não adianta passar  “mantega”. Afinal nós crescemos para baixo, somos anões com este tamanhão todo? Oh! Dúvida cruel!
Ah! Eu nem conto pra vocês a vergonha quando passei na Dorival Caymmi ontem. É que eu vinha para a Setur, cantarolando no carro, pensando em abobrinhas. De repente, quando levantei a vista, tomei um choque: vi um outdoor que me fez baixar os olhos e esconder a cara embaixo do volante. “Oxente”! Como é que pode colocar um outdoor assim, no meio da rua, sugerindo saliências, afrontando o pudor das moças puras e virgens que nem eu!? Com o “nomão” bem grande lá em cima: Pau da Rola. Leilão Pau da Rola! E leiloam isso? Em minha terra, só falar esse nome faz com que nós, moçoilas pudorentas, fiquemos coradas que nem uma cenoura (lá vem outro símbolo fálico. Vamos mudar para manga-rosa). 


Fiquei danada por não ter ninguém no carro para eu presepar. E já tem 15 anos que o pau da rola é leiloado. Não pensem que eu deixei de ser moça pudica, casta e pura, não. Até para falar isso, eu estou ruborizada. Mas dia 16 de agosto vou estar às 20h no Parque de Exposições para ver quem vai arrematar o pau da rola mangalarga. (Cá prá nós, amei este pau da rola. E ainda colocaram uma rolinha bem “simplezinha” e lindinha na crina do cavalo).
Com um assunto versando sobre um tema tão pujante, Tânia Feitosa, minha colega da Setur, me convidou para almoçar e preparou, especialmente pra mim, um prato especial. Essa Tânia sabe onde as corujas piam ou onde o pau da rola comeu. Ponha o avental, minha bonitinha, e vamos executar a receita da Tânia, tendo cuidado ao manipular os ingredientes. Olha o bilhetinho dela: “Helo, segue a receita do prato que você comeu lá em casa. E adorou”.
Eeeeuuu? Adoreeei? Tânia pirou. Sou moça fina, bem. Comi pra não fazer desfeita e lambi os dedos porque gosto de agradar a amiga, mestre cuca. Mas fico acanhada até para falar o nome do prato, pois sou moça de família. He-he! 
Testículos de Boi Nordestino
Ingredientes
-- 12 unidades de testículos bovinos
-- 6 colheres (sopa) de azeite de dendê
-- 1 vidro de leite de coco
-- Sal a gosto
-- Tempero verde
-- 4 dentes de alho
-- Pimenta do reino preta, a gosto
-- 500 g de camarão seco
Modo de preparar
-- Aferventar os testículos para retirar a pele. Colocar suco de limão ou vinagre para tirar o cheiro forte.
-- A seguir, ferver. Escorrer a água e cortar em pequenas rodelas. Misturar com o sal, os temperos verdes e a pimenta e deixar marinando por 12 horas.
-- Depois, levar ao forno com o leite de coco; acrescentar o azeite de dendê e o camarão seco. Adicionar salsa picada ou coentro e os tomates em rodelas, sem sementes. Servir com feijão de corda e arroz branco, mas observar como as pessoas ‘fundam dentro’ do ingrediente principal


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