Por
Vitor Hugo Soares
É grande jornalista baiano, colaborador do Blog do Noblat e da Tribuna
da Bahia. Possui um Blog pessoal.
Na sua principal
reportagem política de quarta-feira, 15, o jornal espanhol El Pais (Edição do
Brasil) definiu com precisão o quadro eleitoral brasileiro, às vésperas da
votação, no segundo turno: um País polarizado como nunca, desde a
redemocratização, irá às urnas no dia 26 para decidir o dilema de reeleger a
petista Dilma Rousseff, ou escolher Aécio Neves, do PSDB, seu novo presidente.
Na quinta-feira,
16, a nação "viu com espanto" o mais feroz e contundente debate entre
os dois candidatos finalistas, transmitido pelo SBT. A frase citada, esclareço,
é copiada do falecido Walmir Palma, notável repórter policial da Bahia. Palma
cunhou a expressão para designar aquele tipo renitente e chato de leitor que
chegava à antiga redação de A TARDE, na Praça Castro Alves, com um exemplar do
jornal baiano debaixo do braço, nas horas mais impróprias e tensas do
fechamento da edição. Começava a desfiar sua queixa ao infeliz repórter
designado para ouvi-lo, com a frase invariável: "Li com
surpresa"...
Ontem, 17, o País
amanheceu lotado de "vi e li com surpresa". Isso depois de assistir
ao vivo o debate na TV, ou ler sobre ele e suas incríveis cenas de bastidores,
na intensa repercussão nos jornais e redes sociais. Textos, vídeos, fotografias
da candidata petista, ainda zonza depois da refrega com o tucano. Sem conseguir
articular a resposta a um pedido de avaliação do debate, Dilma disse à repórter
estar passando mal, sendo levada para sentar-se e receber um copo com água para
se recompor.
Por fim, a imagem
acabrunhante para um participante de debate político, seus apoiadores,
assessores e eleitores: Dilma, ainda grogue pela dureza dos golpes da refrega,
que causou "queda brusca de pressão", precisa de amparo para deixar o
estúdio.
Mal comparando (ou
bem?), parecia o pugilista que sai do ringue não totalmente refeito do
"nocaute técnico" imposto pelo adversário. Situação vexatória que, provavelmente, fará a candidata rever nos
debates que faltam antes da votação (Record e Globo), a estratégia de
aplicar golpes abaixo da linha da cintura dos adversários, para vencer a
qualquer custo.
O que mais
importa aqui, no entanto, é registrar um fato inexorável: a disputa Aécio x
Dilma chegou aos seus momentos mais efervescentes, cruciais e imprevisíveis.
Aquele instante que o mestre da política e do parlamento, Ulysses Guimarães,
afirmava ser o mais importante para todo homem público. A hora que separa o
estadista do reles chefete de província, do provocador barato de palanque ou da
propaganda "gratuita" na TV. Hora em que, na imagem histórica
fantástica e poderosa de Ulysses, o político está a exemplo do conquistador
romano Júlio Cesar, na margem do Rio Rubicão.
Precisa decidir se
atravessa o rio. Se vai adiante, nas suas conquistas, ou se detém e recua,
acovardado frente ao desafio desconhecido e ao medo dos golpes no escuro. É o
instante do primeiro e mais importante mandamento do Decálogo do Estadista,
gestado pelo saudoso, bravo e indomável comandante das refregas contra a
ditadura e pela redemocratização no Brasil: A CORAGEM.
"Há momentos
em que o homem público tem que decidir. Sem coragem não o fará. Cesar não foi
ao Rubicon para pescar, disse André Malraux. Se Pedro Primeiro fosse ao
Ipiranga para beber água, suas estátuas não estariam nas praças públicas do
Brasil. O medo tem cheiro. Os cavalos e cachorros sentem-no, por isso derrubam
ou mordem os medrosos. Mesmo longe, chega ao povo o cheiro corajoso de seus
líderes. A liderança é um risco, quem não assume não merece esse nome",
proclamou Ulysses ao justificar o mandamento primeiro e básico de seu famoso
Decálogo político.
Ainda na madrugada
da sexta, depois de virulento comício em Manaus, o ex-presidente Lula,
dirigente maior do petismo, saiu em defesa da afilhada Dilma. Ele que, na
véspera, em palanque no Pará, havia chamado Aécio Neves de "o cara
embriagado que se recusou a fazer exame do bafômetro ao ser flagrado pela Lei
Seca no Rio de Janeiro", considerava "grosseiro" o comportamento
do tucano diante da petista no debate do SBT.
Prefiro ficar com o
sábio conselho da minha saudosa mãe, dona Jandira, política ferrenha e
seguidora fiel até a morte de Ulysses e Tancredo: "Quem procura,
acha".
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