Se Platão é sublime
sonhador, Aristóteles é genial homem de ciência; se Platão é o pai da ideologia
do espírito humano, Aristóteles é a poderosa mentalidade criadora da lógica e
organizadora da ciência.
Por Luiz Carlos Facó
Quando
estudante, alcancei como exigência curricular o estudo da Filosofia. Com o
passar do tempo, depois das muitas reformas pelas quais passou o ensino
brasileiro, aquela obrigatoriedade foi extinta levando os estudantes a uma
ignorância total sobre essa ciência, tão essencial ao conhecimento humano.
No entanto,
desde algum tempo, programas de televisão, sacudidos pela imperiosa necessidade
da compreensão de todos sobre o ideário filosófico, têm, com muita lucidez,
retomado de forma auspiciosa e brilhante, o assunto. Isso, sem dúvida, traduz a
esperança de que se revejam os postulados em que se baseou a insensatez daquela
estapafúrdia decisão, corrigindo os malefícios que ela trouxe à comunidade
estudantil e à população.
Aproveito o
efeito dessa onda, bolsa ou o que seja, senão modismo, benfazeja, e a reboque
dela, cuido em falar das discrepâncias e dos pontos de comunhão entre Platão e
Aristóteles.
A Grécia, de
outrora, escreveu páginas fantásticas, antológicas em todos os campos do
conhecimento humano. Principalmente do das Artes e Filosofia. Já Roma firmou-se
como mestra da Força e do Direito.
Fídias ou
Praxisteles, Platão ou Aristóteles, Cesar ou Augusto, Ulpiano ou Papiano são os
expoentes maiores dessa cultura exponencial, incandescente, que entremostrava,
naqueles dois torrões, berços de toda civilização ocidental.
Platão,
genial pensador, idealista profundo, deu-nos como testemunho da sua grandeza a
República, um acervo de ideologias medievais ou modernas. A teologia e
metafísica, psicologia e ética, ciência e pedagogia, política e artes convivem
nela, constituindo-se numa g=fonte permanente de inspiração. Nessa obra foram
buscar conhecimentos e saber Rousseau e Nietzsche, Bérgson e Freud (Will
Durant, História da Filosofia, p.39).
“assim é que
nela se encontra a correlação entra a prole e os meios de subsistência”,
assunto que foi palco da Malthus no Ensaio sobre a População; a utopia
socialista, que Campanella urdiu na Cidade do Sol; a comunidade das mulheres,
que Thomas More vaticina na Utopia; o exercício do poder circunvagado por
Auguste Conte na Política Positiva; a educação libertária considerada no Emílio
por Jaques Rousseau; as ideias propiciadoras do bem coletivo, da filantropia,
sobremodo pacifistas, esgotadas em Guerra e Paz de Leon Tolstoi, enfim todas as
doutrinas que têm favorecido ou infelicitado o homem encontram suas fundações,
pilares indestrutíveis, em Platão.
Émerson, considera-o
a própria Filosofia. Emílio Pague dele diz: “o mais prodigioso dos pensadores,
porque reuniu a sagacidade psicológica, o valor dialético o poder da abstração
a uma grande imaginação criadora.”
Platão,
dizem-nos os historiadores, belo e atleta, arquitetou e conseguiu ungir a
aliança da filosofia e da beleza durante a sua vida octogenária. Teve a própria
morte tranquila e calma. Uma passagem serena para o mundo desconhecido (Will
Durant, op. Cit. p. 74). Platão colocou em prática o governo da sabedoria.
Assim é que assistiu ao déspota de Siracusa, tentativa desastrada que dois mil
anos depois Voltaire repetiu com Frederico da Prússia.
Em oposição
ou em campo adverso, como um time de futebol enfrentando oponente muito
vigoroso e competente no controlar a bola e na tática do jogo, surgiu
Aristóteles, antigo discípulo do primeiro, apartado do mestre com a célebre
divisa: Amicus Platô, magis amica veritas.
O fomentador do Liceu escarneceu o mestre da Academia, enquanto Platão, aluno
de Sócrates, perpetuou-lhe a obra em cintilantes e magníficas páginas que hão
atravessado eras.
A República
opôs Aristóteles. A política em que se troca o princípio da liberdade pela
autoridade, a independência de cada um pelo autoritarismo ou soberania estatal.
Ao subjetivismo, à plástica e ao liberalismo de Platão, contrapõem-se o
objetivismo, a autoridade e o realismo de Aristóteles. É que Platão viveu numa
época de puro helenismo, enquanto Aristóteles escreveu na Grécia dominada por
Felipe da Macedônia. Era em que o canto sonoro da liberdade fora trocado pelo
rufar dos tambores dos conquistadores, pelas armas empunhas condições externas
que, associadas às diferenças de temperamento individual daqueles dois
aureolados, produziram o maior idealista e o maior realista no campo da
Filosofia.
À comunidade
das mulheres de Platão, o Philosophus certificou ou estabeleceu a sociedade
conjugal com quase duas dezenas de anos de diferença de idade entre os
nubentes, observando o poder procriador dos sexos. Se Platão é sublime
sonhador, Aristóteles é genial homem de ciência; se Platão é o pai da ideologia
do espírito humano, Aristóteles é a poderosa mentalidade criadora da lógica e
organizadora da ciência. Já se disse que a Física e a Metafísica de Aristóteles
se fizeram orientadoras do desenvolvimento intelectual do mundo civilizado. Uma
cristalina verdade, que não se pode desvirtuar ou esconder, sequer tergiversar,
dês que inexistem para tal argumentação sólidas razões para não endossá-la,
como princípio exato.
Nas obras
desses assombrosos Titãs da antiga Grécia, se alicerçam a ciência e a filosofia
antigas ou modernas, sendo Platão representante incondicional da beleza
helênica a Aristóteles, o grande mestre da sabedoria grega.
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