O termo Índia britânica é a
denominação não oficial para o domínio colonial do Império Britânico sobre o subcontinente indiano, aqui entendido como a área geográfica que inclui
os territórios atuais de Índia, Paquistão, Bangladesh (ex-Paquistão
Oriental) e Mianmar (antes
chamado "Birmânia"). Pode ser designado também pelo termo Raj
britânico, do hindustâni rāj, "reino". No tempo,
corresponde a um período desde 1858, quando os
direitos da Companhia Britânica das Índias
Orientais foram transferidos para a coroa britânica, até 1947, ano em
que o Reino
Unido passou a soberania sobre
aquele território para os recém-criados Índia e Paquistão.
Do ponto de vista formal, o termo "Índia
britânica" aplicava-se apenas às porções do subcontinente governadas
diretamente pela administração britânica em Deli e,
anteriormente, Calcutá. A maior
parte do território do subcontinente sob influência britânica naquela época não
era governada diretamente pelos britânicos: os chamados "Estados principescos" eram nominalmente independentes, governados
pelos seus marajás, rajás, thakurs e nababos, quem reconheciam
o monarca britânico como seu suserano feudal por meio de tratados.
Áden passou
a integrar a Índia britânica a partir de 1839; a Birmânia, a partir
de 1886. Ambos tornaram-se colônias separadas do Império Britânico em 1937.
Embora o Sri Lanka (antigo
Ceilão) possa ser considerado parte do subcontinente indiano, não integrava a
Índia britânica, pois era governado como uma colônia diretamente de Londres e
não pelo vice-rei da
Índia.
O Estado Português da Índia e a Índia Francesa eram
formadas por pequenos enclaves costeiros governados por Portugal e França,
respetivamente. Foram integrados à Índia após a independência indiana.
Robert Clive após a Batalha de Plassey. A batalha começou o domínio da Companhia das Índias Orientais na Índia.
Em 31 de dezembro de 1600, a
Rainha Isabel I da Inglaterra outorgou uma
carta real à Companhia Inglesa das Índias
Orientais para comerciar com o oriente. Os primeiros navios da companhia
chegaram à Índia em 1608, aportando
em Surat, no que é
hoje Guzarate.
Quatro anos mais tarde, comerciantes ingleses derrotaram
os portugueses numa
batalha naval e com isso ganharam a simpatia do imperador mogol Jahangir. Em 1615, o
Rei Jaime I enviou
um embaixador à corte mogol, negociando-se então um tratado de comércio pelo
qual a companhia poderia erguer postos comerciais na Índia em troca de
bens europeus. A
companhia comerciava itens como algodão, seda, salitre, índigo e chá.
Em meados do século XVII, a companhia
havia estabelecido postos comerciais nas principais cidades indianas,
como Bombaim, Calcutá e Madras, ademais
da primeira feitoria em Surat, erguida em 1612. Em 1670, o Rei Carlos II outorgou à companhia o direito de adquirir
território, formar um exército, cunhar moeda e exercer jurisdição em áreas sob
seu controle.
No final do século XVII, a companhia havia se
tornado um "país" no subcontinente indiano, com considerável poder militar, e administrava
três "presidências" (administrações coloniais regionais).
Os britânicos estabeleceram uma base territorial no
subcontinente pela primeira vez quando tropas financiadas pela companhia
derrotaram o Nababo bengalês Siraj Ud Daulah na
batalha de Plassey, em 1757. As
riquezas bengalesas foram expropriadas, o comércio local foi monopolizado pela
companhia e a Bengala tornou-se
um protetorado sob controle direto britânico. A fome de 1769 a 1773, causada
pela exigência de que os fazendeiros e artesãos bengaleses trabalhassem por
remuneração irrisória, matou dez milhões de pessoas. Catástrofe semelhante ocorreu
quase um século depois, depois que o Reino Unido estendeu
o seu controle sobre o subcontinente, quando 40 milhões de indianos morreram de
fome em meio ao colapso da indústria local.
Na virada para o século XIX, o
governador-geral Lorde Wellesley começou
a expandir os domínios da companhia em grande escala, ao derrotar Tipu Sahib,
anexar Mysore, na Índia
meridional, e remover a influência francesa do subcontinente. Em meados daquele século, o governador Dalhousie lançou
a expansão mais ambiciosa da companhia, ao derrotar os siques nas
Guerras Anglo-Siques (o que lhe permitiu anexar o Panjabe) e
subjugar a Birmânia na Segunda Guerra Anglo-Birmanesa. Dalhousie
também tomou pequenos Estados principescos como Satara, Sambalpur, Jhansi e Nagpur, com base
na chamada "doutrina da preempção", segundo a qual a companhia
poderia anexar qualquer principado cujo governante morresse sem herdeiros do
sexo masculino. A anexação de Oudh em
1856 foi a última aquisição territorial da companhia, pois o ano seguinte viu a
eclosão da revolta dos sipaios.
Em maio de 1857, soldados
nativos (hindus e muçulmanos) do exército da Índia britânica, conhecidos como
sipaios, rebelaram-se em Meerut, marcharam
sobre Délhi e
ofereceram seus serviços ao imperador mogol. Assim, o
norte e o centro da Índia mergulharam numa insurreição que durou um ano,
dirigida contra a Companhia Britânica das Índias Orientais. Muitos regimentos
nativos e reinos indianos juntaram-se à revolta, enquanto que outras unidades e
reinos indianos apoiaram os britânicos.
Visita do Governador-geral da Índia,Lord Canning, ao marajá de Jammu e Caxemira, Ranbir Singh, em 9 de março de 1987.
Em Londres, criou-se
o cargo de Secretário de Estado para a Índia. O governador-geral - chamado
de vice-rei quando
agia na qualidade de representante junto aos Estados principescos, que eram
nominalmente soberanos -, sediado em Calcutá, passou a
chefiar a administração da Índia britânica. Eram-lhe subordinados os
governadores das províncias. O Serviço Civil da Índia foi, durante décadas,
reservado aos britânicos, até que na década de 1910 admitiram-se
alguns poucos indianos.
Em 1858, o
vice-rei anunciou que os tratados anteriores
celebrados com os Estados principescos seriam honrados, renunciando então à
"doutrina da preempção". Cerca de 40 por cento do território indiano
e 20 a 25 por cento da população permaneceram sob o controle dos 562 príncipes,
com notável diversidade religiosa (muçulmanos, hindus, siques etc.) e étnica. Sua
propensão à pompa e circunstância tornou-se proverbial (como atestam os
sentidos figurados das palavras "marajá", "nababo" e
"principesco" em português), enquanto que os seus territórios, que variavam
em dimensões e riqueza, viram-se ultrapassados pelas transformações sociais e
políticas que ocorreram em partes da Índia diretamente administradas pelos
britânicos.
A Índia pós-1857 sofreu um período de calamidade
sem precedentes com uma série de fomes: na segunda metade do século XIX, algo
como 25 episódios de fome ocorreram em regiões como Tâmil Nadu, Biar e Bengala, causando
entre 30 e 40 milhões de mortes. As fomes resultaram de secas naturais e de
políticas econômicas e administrativas britânicas, como a transformação de
terras agrícolas locais em latifúndios estrangeiros, restrições ao comércio
interno, alta tributação de cidadãos indianos para financiar expedições
mal-sucedidas no Afeganistão, medidas inflacionárias, e
exportações de safras indianas de produtos básicos para o Reino Unido. A
indústria local indiana também foi dizimada após a revolta de 1857. As fomes
continuaram até a independência em 1947, como a Fome Bengalesa de 1943-44, que
matou entre três e quatro milhões de indianos.
Datam do fim do século XIX as primeiras medidas
britânicas para permitir maior envolvimento de indianos no governo do
subcontinente, como o Indian Councils Act de 1892 e o Government
of India Act de 1909, que colocaram indianos em cargos de
aconselhamento ao vice-rei e de representação legislativa. Aos poucos,
adotou-se o princípio eletivo para o preenchimento dos cargos legislativos
centrais e provinciais, embora a elegibilidade fosse restrita às classes altas
indianas. Entretanto, nem o governador-geral, nem os governadores provinciais
passaram a ser responsáveis perante os legislativos locais.
Em 1885, formou-se o Partido do Congresso Nacional Indiano, para
buscar ampliar a participação indiana no governo. Em 1906, criou-se a Liga Muçulmana, com
objetivo similar.
A importante contribuição da Índia aos esforços
do Império Britânico durante a Primeira Guerra Mundial estimulou os
indianos a exigir maior voz no governo. O Partido do Congresso Nacional Indiano
e a Liga Muçulmana acordaram propor uma reforma constitucional que incluía o
conceito de eleitorados separados e a exigência de autogoverno. Em 1919, o
governo britânico ampliou a autoridade dos conselhos legislativos central e
provinciais, mas o governador-geral continuou a ser responsável perante Londres apenas.
As reformas de 1919 não satisfizeram as exigências
políticas indianas. Os britânicos reprimiram a oposição e reinstituíram as
restrições à imprensa e ao movimento. Uma aparente violação das regras sobre
ajuntamento de pessoas levou ao massacre de Jalianwala Bagh em Amritsar, em abril
de 1919. Aquela tragédia galvanizou dirigentes políticos como Jawaharlal Nehru (1889–1964)
e Mohandas Karamchand "Mahatma" Gandhi (1869–1948)
e seus seguidores a pressionar por mudanças.
Em 1935, uma revisão da situação constitucional
indiana manteve a separação dos eleitorados e estabeleceu a autonomia das
províncias, transformando os conselhos legislativos em assembleias legislativas
eleitas (apenas alguns poucos assentos continuaram a ser preenchidos mediante
indicação), perante as quais eram responsáveis todos os ministros.
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