Foi uma brilhante poeta
baiana. Íntegra, corajosa, desafiadora. Sobre ela, leia aqui, Casulo Azul,
Crônica de Luiz Carlos Facó.
É HORA DE ANOITECER
É hora de
anoitecer, Ave Maria!
É hora dos
loucos, da agonia.
É hora de
sair do sereno
E afastar as
muriçocas,
Hora de
banho e de aconchego
E do nó na
garganta indefinível.
O tempo para
um pouco indeciso
Mas o dia
morre sem perdão.
PEQUENO ESPAÇO
Pequeno
momento de paz, pequeno espaço,
Em que
preenchemos tanto seus segundos
Que já não
cabe qualquer dúvida, qualquer susto.
Adia-se a
audiência com os cuidados
Enquanto as
mãos tecem ideias boas na cabeça.
ESPERO
A noite é
grande, é maior que eu.
E a
distância prende o instante perpétuo.
Espero.
É muda a
paisagem que me observa da janela.
Não há
pecado mais justo que o cansaço.
Registro.
EU MEREÇO
Eu mereço
Cada passo
desta dor que me embaraça.
Embaralho
fato a fato computado
Em inúteis
anotações dentro de mim.
Somo,
desconto, conto, aumento pontos,
Resta nada.
O nada que
mereço e construí.
Pela pele
antes estivemos lado a lado
Perto o mais
perto da distância um do outro
Que pé ante
pé tentamos penetrar.
Pele ante
pele, travou-se o corpo a corpo.
Ficam no
silêncio da noite que se impõe
Cinzas nos
cinzeiros, restos de café,
O frio a
habitar a casa vazia.
O vazio que
aconchega o corpo quente.
PEITO ABERTO
Gosto de ser
secreta.
Por isso
deposito sentimentos em plena rua.
Solene ante
o ato acumulado
Pecados
postos à visitação pública.
Prende-se
nas vitrines avenidas
Que disfarce
não há melhor que a verdade.
Por isso, de
tão tímida,
Atiro pela
janela que se abre
Para as
tantas distâncias de outros mundos,
O peito
aberto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário