Colaboração de José Bezerra Lima Irmão - é advogado, escritor,
autor do ensaio Lampião – a raposa das Caatingas
Amigo Facó:
Li o seu belíssimo conto “Cadê
meus bagos?” Maravilha! Uma peça literária do mais alto valor!
Claro que se trata de um conto, porém
aproveitando alguns personagens da vida real.
O chamado “Padre Santo” foi vigário de Santo Antônio da Glória
(antiga Curral dos Bois), atual Glória, nas barrancas do São Francisco. Seu nome real era Emílio de Moura Ferreira Santos, conhecido
como Padre Santo, que de “santo” não tinha nada – gerou uma vasta prole com a
governanta da casa paroquial.
Padre Santo era amigo do chefe
político local, o legendário coronel Petro (Petrolino de Alcântara Reis). Petro
era um homem baixo, barrigudo, moreno. Estava sempre de chapéu, até dentro de
casa.
Era um sujeito conversador, contador de “causos”. Para tudo tinha um ditado. Gostava de citar provérbios e frases latinas decoradas, com o que impressionava os catingueiros, que o tinham como homem de cultura, embora tivesse apenas o curso primário. Era abastecido de frases e provérbios pelo inseparável amigo, o Padre Santo.
Era um sujeito conversador, contador de “causos”. Para tudo tinha um ditado. Gostava de citar provérbios e frases latinas decoradas, com o que impressionava os catingueiros, que o tinham como homem de cultura, embora tivesse apenas o curso primário. Era abastecido de frases e provérbios pelo inseparável amigo, o Padre Santo.
No dia 20 de outubro de 1929, domingo, Lampião levou seus cabras
para uma festa, com missa, foguetório e muito povo, na casa de Vicente
Malaquias, na fazenda Poço Comprido, município de Santo Antônio da Glória
(atual Glória). O padre Emílio de Moura Ferreira já estava lá. A missa foi
celebrada no alpendre da casa de Vicente.
Foi um dia de rara felicidade naqueles
ermos. Eram todos amigos. Vicente
Malaquias era coiteiro de confiança.
Terminado o ofício religioso, Lampião,
Virgínio, Ezequiel e outros cangaceiros do seu estado-maior foram convidados
para almoçar com o vigário. Depois do almoço, o vigário perguntou se algum dos
presentes queria se confessar. O cangaceiro Ângelo Roque, cuja família era
conhecida daquele sacerdote, resolveu confessar-se. O reverendo, antes da
absolvição, aconselhou:
– Não mate mais os macacos, meu filho.
Nos mandamentos de Deus está proibido. Quando pegar um, você cape ele e solte
capado, mas não mate...
Lampião não quis se confessar, mas
proseou um pouco com o vigário, enquanto os cabras se divertiam, bebendo e
dançando com as moças. O padre aconselhou-o:
– Virgulino, você precisa deixar essa
vida pecadora de cangaceiro...
– Isso é impussive, pade Imilo –
respondeu o Capitão. – Cumo vou largá essa vida se o guverno nun me dexa
sussegá? Mais tenho certeza de qui os macaco nun me mata porque eu sô um pé de
dinhero... Hoje im dia a vida só é boa pra sordado e pra bandido!
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