sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ACONTECEU NA BAHIA

Livro: o BLOG DO FACÓ recomenda

o movimento artístico e outras histórias


Por Mecenas Marcos Salles

“Em seu novo livro “Aconteceu na Bahia” – o movimento artístico e outras histórias” – Mecenas Sales foge da poesia para entrar na prosa. De uma forma bem humorada, ele conta histórias em que participa nos anos de 1950 até fins de 1970.
Foi nessa época que, na Bahia, aconteceu uma revolução cultural em que se destacavam todas as artes, passando pela escultura, tapeçaria, música, dança e teatro. Em 1959, com a chegada da televisão em Porto Alegre, (TV PIRATINI), e mais tarde, em 1960 na Bahia (TV Itapoan), de cujas inaugurações o autor participou, a divulgação desse movimento cultural foi fundamental para o lançamento de artistas que se destacaram no Brasil e no mundo.

Nesse livro, o leitor entra em um túnel do tempo e participa da época romântica das serenatas bem como uma Bahia pacífica onde se podia andar pelas ruas na, sem medos de assaltos ou roubos.”
Não aconteceu na Bahia (Salvador), mas está no livro uma história muito interessante. O blog do Facó escolheu-a para mostrar a intimidade do autor com os grandes nomes da MPB, e a sua narrativa leve, cativante, que leva o leitor a desvendar os muitos mistérios que se escondem entre as brumas do passado.
Ei-la:
“Maysa Matarazzo, já considerada um monstro sagrado das rádios e gravadoras, , chegou a Porto Alegre com a fama de abusar um pouco da bebida antes dos programas.
Ênio Rockenback, era produtor do programa em que ela se apresentaria e eu, o suíte. Após a chegada da cantora para ensaiar, Ênio pediu para que se ela quisesse sair, avisassem a ele. Isso para evitar sua ida ao cafôfo de D. Maria, onde eram vendidos salgados e bebida, por sinal bem chinfrins. Era inverno e o “Cafôfo” tinha uma frequência bastante elevada no frio.
Meia hora antes do programa procuramos Maysa em todos os cantos. Fomos encontrá-la atrás de um cenário... havia trazido na bolsa uma garrafinha de whisky e a bebera toda. A solução foi pedirmos que ela colocasse a cabeça em baixo da torneira com água fria e servir um café bem forte. Ao que ela obedeceu. Nós a colocamos sentada em um banquinho do cenário, que, aliás, representava o interior de um bar.
Maysa cantou, mais lindo que nunca com sua voz divina, músicas como “Risque”, “Meu mundo caiu”, “Ne me quitte pas”, canções de dor de cotovelo que eram o seu forte e o fraco de quem ouvia. Era uma mulher de beleza extraordinária! Fiz o programa todo em close, explorando os belos olhos e a sua expressão séria e sofrida. Cabelos molhados, água ainda a escorrer pelo rosto, foi um dos programas mais bonitos que lembro de ter feito na TV Piratini.
Quando terminava a programação, já após meia-noite, era nosso costume ir jantar no Treviso, um restaurante boêmio no Mercado Municipal, onde era servida a melhor macarronada da madrugada. Lá se reuniam boêmios e artistas de todas as estações de rádio, jornalistas e gente da noite. Certa noite, fomos após o encerramento da TV, um grupo onde se encontravam Ênio, Nelson Vaccari, Maurício, Lupicínio Rodrigues, Leny Eversong, seu marido, e alguns outros amigos. Enquanto comíamos a macarronada, Lupicínio escrevia na toalha de mesa que era de papel. Mais tarde olhou para Leny Eversong e disse.
Gostaria que tu escutasses essa música que fiz. Ela tem a tua cara.”
Paramos todos para escutar, e o Lupe, cantarolou para ela:
“Deixa o sereno da noite
molhar teus cabelos que
eu quero enxugar, amor.
Vou buscar água da fonte,
lavar os teus pés.
Perfumar e beijar, amor.
É assim que começam os romances
e assim começamos nós dois.
Pouca gente repete essas frases
um ano depois.
Dez anos estás ao meu lado,
dez anos vivemos brigando,
mas quando eu chego cansado, teus
braços estão me esperando.
Esse é o exemplo que damos
aos jovens recém-namorados.
Que é melhor brigar juntos
do que chorar separados.
Essa música havia sido feita para sua última esposa, Cerenita e acredito, ainda não tinha sido gravada.
Nem sei se a Leny Eversong chegou a gravar, mas a noite foi memorável.
Lupicínio era uma pessoa especial. Boêmio, amigo e humilde. Possuía cas noturna no Menino de Deus, onde amigos constantemente iam beber, jantar, conversar e não pagar. Era o que ele mais gostava, receber os amigos. Como era de se esperar, faliu. Com uma facilidade incrível de compor música e letra, suas canções são famosas até hoje, na voz de grandes cantores nacionais e internacionais.”

Mecenas Marcos Salles nasceu em Salvador, Bahia. Trabalhou no Jornal Diário de Notícias e no Suplemento do jornal A Tarde. Foi Pioneiro da TV Piratini em Porto Alegre e TV Itapoan em Salvador, onde atuou desde sua inauguração como produtor, diretor e apresentador.
Fotografo amador, premiado em diversos países, com trabalhos publicados em jornais e revistas, inclusive nas edições brasileiras da Revista Geográfica Universal. Ganhador da cobiçada viagem a Paris no concurso da Kodak/Air France e da medalha FIAP (Federation Internacional D’Árt Phototographique).
Formado em computação nos Estados Unidos da América, foi Vice Presidente do Citibank na área de Tecnologia e Operações para a América Latina, Vice Presidente da Credicard S/A, Presidente da Brascard e da Sentek Consulting nos Estados Unidos.
Atualmente mora em Salvador, onde se dedica a escrever e aos hobbies da música e da fotografia.
Mecenas tem um livro publicado em 2006, por sinal belíssimo, Poesia Virtual onde combina fotografia com poesia fazendo de suas fotos a imagem dos poemas e do texto, a legenda de suas fotos.

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