Kamikaze ou Camicaze (em japonês: 神風, kami significando "deus" e kaze,
"vento",
comumente traduzido como "vento divino") era o nome dado aos pilotos
de aviões japoneses carregados de explosivos cuja missão era realizar ataques
suicidas contra navios dos Aliados nos
momentos finais da campanha do Pacífico na Segunda Guerra Mundial.
O nome
oficial era Tokubetsu Kōgekitai (Unidade de Ataque
Especial), também conhecidos pela abreviação Tokkōtai ou Tokkō.
As unidades da marinha eram chamadas de Shinpu Tokubetsu Kõgekitai (Unidade
de Ataque Especial Vento Divino), em alusão à tempestades que salvaram o Japão
do ataque mongol em duas ocasiões (1247 e 1281), portanto os pilotos suicidas
iriam salvar novamente o Japão de novos mongóis: os estadunidenses. O termo "kamikaze" era usado
apenas pelos americanos.
Cerca de
2 525 pilotos morreram nesses ataques, causando a morte de 4 900 soldados aliados e
deixando mais de 4 mil feridos. O número de navios afundados é controverso. A propaganda japonesa
da época divulgava que os ataques conseguiram afundar 81 navios e danificar
outros 195. A Força Aérea Americana alega que 34 barcos afundaram e 368 ficaram
danificados.
A prática
de tais ataques suicidas foi inserida em uma época em que os militares do Império Japonês estavam em crise. No Ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941 os japoneses tinham a
vantagem de possuir os Mitsubishi A6M Zero, caças ágeis e manobráveis que representavam uma
ameaça aos norte-americanos, mas em 1943 com a introdução do F6F Hellcat a
situação mudou, pois esses caças americanos possuíam uma tecnologia superior a
qualquer outro caça japonês, com o uso do radar, novidades
táticas e em maiores quantidades, os Estados Unidos conquistou o espaço aéreo.
Na Batalha do Mar das Filipinas nos dias 19 e
20 de junho de 1944, o Império Japonês teve a baixa de cerca de 600 aviões; na Batalha de Formosa entre
10 a 20 de outubro de 1944, mais 500 aviões japoneses foram perdidos.
Em 19 de
outubro de 1944, o vice-almirante Takijiro Onishi convocou
uma reunião formal com vários oficiais e apresentou-lhes seus planos,
defendendo o que considerava a única forma pelo qual um pequeno contingente
pudesse atacar com grande eficácia, organizando ataques suicidas com os caças Mitsubishi A6M Zero armados com 250 kg de bombas para atacar
porta-aviões inimigos. Assim foi feito, porém nenhum dos oficiais que preparam
tais planos se ofereceu para a missão.
Às 10h47min
de 25 de outubro de 1944 ocorreu o primeiro ataque kamikaze. Em uma esquadrilha
de cinco Mitsubishi A6M Zero na Ilha de Samar (Filipinas),
o líder Yukio Seki atingiu
o porta-aviões USS St. Lo. Após 30 minutos, o incêndio atingiu o paiol
principal do navio que se destruiu, causando a morte de 140 estadunidenses.
Seki, quando foi entrevistado pelo jornalista Onoda Masashi numa preparação à
propaganda kamikaze, declarou: "Se é uma ordem, eu vou. Mas não irei
morrer pelo imperador ou pelo Império Japonês. Vou morrer por minha amada
esposa. Se o Japão perder ela pode acabar estuprada pelos norte-americanos.
Estou morrendo por quem mais amo, para protegê-la."3 Os
kamikazes foram considerados pela religião xintoísta oficial
do Estado, espíritos guardiães da pátria.
A maior parte dos kamikazes eram estudantes
recrutados de universidades. O governo anunciava que a decisão de se tornar um
suicida era voluntária. No entanto, não era isso que ocorria. Durante o
treinamento, espancamentos brutais eram feitos frequentemente por qualquer
motivo. No dia em que os soldados eram chamados para anunciar se queriam ser
voluntários, ouviam um discurso patriótico e a importância de se sacrificar
pelo imperador. Em seguida, os que se voluntariavam davam um passo a frente,
pouquíssimos desafiavam a pressão das autoridades. Nesses
jovens havia a consciência da qual suas mentes desde criança já aprendiam tal
ideologia, bem como um sentimento de culpa enquanto seus compatriotas morriam.
O historiador William Gordon (Universidade Wesleyan) afirma que membros do Exército e da Marinha
"eram apontados como membros de esquadrões suicidas sem sequer ter a
chance de se tornarem voluntários.
Eram dados
aos kamikazes instruções para como procederem, sendo os alvos principais os
porta-aviões. Durante o momento de mergulhar com o avião não deveriam fechar os
olhos, pois poderiam errar o alvo, indo parar na água. No dia do voo fatal,
escreviam poesias, ganhavam um brinde de saquê, levavam a
bandeira, amarravam a hachimaki (faixa)
e talvez também usavam o sennibari (cinto). Em época de florada carregavam ramos
de cerejeira. Ainda levavam uma espada e uma pistola para o caso de fracassarem
e poderem se suicidar. Além do modelo Mitsubishi A6M Zero, outros aviões foram
usados. Algumas vezes obtinham ajuda de escoltas regulares, mas geralmente
tinham de enfrentar os caças estadunidenses que detectavam seus aviões pelo
radar, e tentavam resistir até poder colidir no convés de um navio.
A ideologia
promovida pelo Estado mostrava o culto à morte, um incentivo aos pilotos. Os
diários dos pilotos mostrava que eram perturbados com a ideia da morte, e
alguns até mesmo contrários ao sistema político do Império. No Japão, era
divulgado pela imprensa e o governo apenas o que pudesse servir como
propaganda, incluindo relatos e testamentos demonstrando o espírito japonês, a
devoção pelo imperador e poemas de morte mencionando a sakura (flor
da cerejeira), símbolo nacional. A antropóloga Emiko Ohnuki-Tierney (Universidade do Wisconsin-Madison) nega
comparações com homens-bomba islâmicos, defendendo que
eram recrutados como parte dos soldados daquela nação que recebiam ordens para
morrer e não tinham como alvo civis. Nos Estados Unidos, as primeiras
reportagens sobre os kamikazes vieram em abril de 1945 após a censura
ocasionada pelos militares. A imprensa moldou a imagem de fanáticos.
Durante
toda a guerra apenas 11,6% dos 3,3 mil aviões acertaram o alvo, e 27,5%
retornaram a base (seja por falta de combustível, por não encontrar o inimigo,
pelo mal tempo ou qualquer outro motivo). Os que regressavam eram humilhados
pelos oficiais até uma outra ocasião em que voassem novamente. No total, cerca
de 47 navios estadunidenses foram afundados de acordo com William Gordon, três
deles eram porta-aviões, todos de escolta, pequenos e pouco importantes.
De acordo com a Força Aérea dos Estados Unidos,
4 900 marinheiros morreram em decorrência dos ataques, e 4 800
ficaram feridos. A partir de julho de 1945 as ações diminuíram, os
kamikazes aguardavam uma possível invasão americana, e pretendiam afundar cerca
de 400 navios em caso de aproximação. A invasão não ocorreu, mas de fato o
planejamento de ataque suicida poderia ter dado certo, pois os aviões partiriam
de um distância mais próxima e os modelos Yokosuka MXY-7 Ohka movidos a jato em vez de foguete podiam
decolar na terra e tinham maior autonomia. Os aliados por sua vez ameaçaram o
Japão de "completa e total destruição" caso não se rendessem,
conforme firmado na Declaração de Potsdam entre Estados Unidos, Grã-Bretanha e
China. Em 6
de agosto, acreditando que os japoneses não se renderiam até a morte, a bomba atômica foi testada em Hirosima
e três dias depois em Nagasaki. No dia 15 de
agosto, o imperador Hirohito anunciou a rendição.
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