POLÍTICA
Blog do Josias (de Souza),
um dos melhores articulistas político do país.
Impopular e politicamente desarticulada, Dilma Rousseff faz lembrar o
rei shakespeariano Ricardo III. Trata-se daquele soberano que, vendo-se a pé e
cercado por inimigos, gritou: “Meu reino por um cavalo!” Sitiada no Congresso,
Dilma II ajusta o apelo às suas necessidades: “Qualquer coisa por um reino!” E
descobre o quanto um PMDB contrariado pode ser cruel.
“O Congresso tem a obrigação de derrubar o veto de Dilma à correção de
6,5% na tabela do Imposto de Renda”, afirmou o deputado Lúcio Vieira Lima
(PMDB-BA). Outro deputado, Danilo Forte (PMDB-CE), indagou: “Por que os
trabalhadores têm que pagar novamente a conta do ajuste fiscal? Atualizar a
tabela do Imposto de Renda sem repor a inflação significa tirar dinheiro do
bolso de quem vive de salário. Não podemos concordar.”
Nesta sexta-feira (20), Dilma reafirmou que proporá
ao Congresso um reajuste da tabela do IR abaixo da inflação: apenas 4,5%,
contra uma taxa inflacionária de 6,41% em 2014. Conforme já noticiado, o
Congresso ameaça derrubar o veto de Dilma ao reajuste de 6,5% que deputados e
senadores haviam aprovado em dezembro. “Não cabe no Orçamento”, vociferou Dilma.
“Não foi o Congresso que colocou o país na crise, foi o governo”, dá de
ombros Lúcio Vieira Lima. “Não adianta dizer que a crise é mundial. O governo
tinha de fazer a parte dele. Deveria ter reduzido o seu déficit, por exemplo.
Não pode agora jogar a conta toda no colo da sociedade. Não com a nossa ajuda.
O PMDB tem de capitanear a derrubada desse veto.”
Danilo Forte endossa o companheiro de legenda: “Enquanto o governo não
der o exemplo, não tem moral para exigir sacrifícios à sociedade. Dilma precisa
extinguir uns dez ministérios e acabar com pelo menos 5 mil cargos
comissionados. Com isso, ela recuperaria a credibilidade. Dizem que ela quer
voltar para as ruas. Antes, precisa mostrar o que pretende fazer. Do contrário,
será vaiada.”
Lúcio e Danilo integram a ala do PMDB que se autoproclama independente.
Cavalgando esse núcleo, Eduardo Cunha alistou a infantaria parlamentar que o
conduziu à presidência da Câmara. Em reunião marcada para a manhã de
terça-feira (24), a bancada de deputado do PMDB decidirá até que ponto deseja
exercitar sua independência em relação ao governo.
Na noite da véspera, o vice-presidente Michel Temer, oferecerá um jantar
para o ministro Joaquim Levy (Fazenda). Fará isso por iniciativa própria, não
como parte da estratégia política do Planalto. Sob bombardeio do petismo, o
ex-diretor do Bradesco e ex-eleitor do tucano Aécio Neves dividirá a mesa com o
anfitrião e outras quatro lideranças do PMDB: os presidentes do Senado e da
Câmara, Renan Calheiros (AL) e Eduardo Cunha (RJ); e os líderes nas duas Casas,
senador Eunício Oliveira (CE) e deputado Leonardo Picciani (RJ).
Espera-se que Levy ofereça argumentos capazes de convencer a cúpula do
PMDB da inevitabilidade da aprovação de duas medidas provisórias que as
centrais sindicais consideram tóxicas: a 664 e a 665. Juntas, dificultam o
acesso dos trabalhadores ao seguro desemprego, ao abono salarial, à pensão por
morte e ao auxílio doença. Estima-se que resultarão numa economia de R$ 18
bilhões. Quanto ao reajuste da tabela do Imposto de Renda, os dirigentes do
PMDB receiam que talvez seja tarde para reverter a aversão aos 4,5% propostos
por Dilma. Na hipótese de prevalecer a taxa de 6,5%, o custo será de R$ 7
bilhões.
Lúcio Vieira Lima esgrime um motivo adicional para derrubar o veto de
Dilma. Recorda que o PMDB e outros partidos governistas foram tachados de
chantagistas quando votaram favoravelmente à emenda que reajustava a tabela do
IR em 6,5% —uma proposta de autoria do líder do DEM, deputado Mendonça Filho
(PE).
“Dizia-se na imprensa que só ajudamos a aprovar para pressionar por
cargos na reforma ministerial e no segundo escalão. Se não derrubarmos o veto,
restituindo os 6,5%, vamos validar esse raciocínio. O Congresso acaba passando
a impressão de que fez uma chantagem.”
De resto, Lúcio declarou que é hora de o PMDB olhar para as ruas, não
para os palácios. “Percebo que há no partido uma consciência maior sobre a
necessidade de modificar o modo de fazer política. O papel que a Opinião
Pública exerce sobre os mandatos dos parlamentares é cada vez maior. Não dá
para ficar dando de ombros para a população”, disse Lúcio.
“Hoje, o sentimento que a gente recolhe nas ruas é de insatisfação com o
governo e do PT'', acrescenta Danilo Forte. “O grande capital do PMDB pode ser
sua independência. O partido está inclusive celebrando essa linha no programa
que irá exibir em rede nacional na quinta-feira da semana que vem. Em inserções
de apresentação, o Michel Temer afirma que, sempre que tiver de optar, o PMDB
sempre vai ficar do lado do Brasil. Mais claro do que isso é impossível.
Empurrada por Lula, Dilma rompeu um silêncio de 60
dias para reagir ao bombardeio que atinge o seu governo. Após uma cerimônia
pública, achegou-se gostosamente aos repórteres. Saiu atirando. Mirou em
Fernando Henrique Cardoso. Mas acertou o próprio pé.
“Olhando os dados que vocês mesmos divulgam nos jornais, se em 96 ou 97
tivessem investigado e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso
desse funcionário da Petrobras que ficou durante quase 20 anos
[beneficiando-se] de corrupção”, disparou Dilma. “A impunidade, e isso eu disse
durante a minha campanha, a impunidade leva água para o moinho da corrupção.”
Dilma referia-se a Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras.
Delator premiado, ele contou aos procuradores da Operação Lava Jato que começou
a receber propinas da holandesa SBM em 1997. Nessa época, governava o país FHC.
Barusco também declarou em depoimento que a “petrorroubalheira” foi
“institucionalizada” a partir de 2004, sob Lula.
Dilma feriu o próprio pé ao insinuar que, há 18 anos, FHC tinha a
obrigação de saber que Barusco, à época um assaltante solitário, embolsava
propinas na Petrobras. Na prática, a entrevistada admitiu que a corrupção seria
bem menor no Brasil se ela e seu padrinho político não tivessem fechado os
olhos para a ação da quadrilha que transformou a maior estatal do país num
escândalo sem precedentes.
Líder da oposição na Câmara, o deputado tucano
Bruno Araújo deu crédito a Dilma. Tomando-a ao pé da letra, concluiu: “A
presidente Dilma assume publicamente que prevaricou”. De fato, Dilma dá as
cartas no setor petroleiro há 12 anos. Por que não agiu? Por que permitiu que
seu partido, o PT amealhasse algo como US$ 200 milhões em “petropropinas”, segundo estimou o mesmo Barusco?
Se essa Dilma que agora se dedica a dar entrevistas tivesse assumido o
Ministério de Minas e Energia em 2003, uma das coisas que se poderiam esperar
seria uma rápida investigação dos Baruscos que o tucanato abafou. Uma boa
higienização da Petrobras certamente estaria na agenda de prioridades da
ministra nomeada por Lula.
A corrupção é como um esporte coletivo. O sujeito
pode ser um craque dos desvios, mas não vence o jogo sozinho. Há toda uma
estrutura para preparar os lances —o clepto governo, o
padrinho patrimonialista, o partido com fins lucrativos, os predadores
internos, os inimigos externos… Afinal, todo o time em campo, ajeitando a
jogada. O criminoso apenas comete o crime.
Se Dilma tivesse chefiado a Casa Civil de Lula, o
PT, o PMDB e o PP jamais teriam enfiado Costas, Machados, Cerverós,
Duques e outros truques$ nos postos de direção da Petrobras.
Dilma perceberia o excesso de patriotismo do petismo e dos aliados. E tomaria
todas as providências para manter a joia da coroa estatal a salvo dos piratas.
Imagine-se as “mumunhas” que Dilma teria abortado se, além de comandar a
Casa Civil, tivesse presidido o Conselho de Administração da Petrobras. Ela
jamais teria avalizado a compra superfaturada de uma refinaria tecnologicamente
defasada na cidade texana de Pasadena. Certamente chamaria a Polícia Federal ao
dar de cara com aquele relatório que o Cerveró redigiu em cima da perna.
Se Dilma fosse presidente da República, não teria pestanejado. No
primeiro dia do mandato inaugural, teria mandato ao olho da rua os diretores
desonestos. Eles não teriam usufruído da oportunidade de continuar roubando por
mais um ano e meio. Seriam expurgados por justa causa. Dilma não permitiria que
saíssem sob elogios do Conselho de Administração pelos “bons serviços
prestados''.
Os familiares de Dilma deveriam pedir,
urgentemente, um teste de DNA. Não há mais dúvidas: a atual inquilina do
Planalto é uma impostora. Se Dilma estivesse no comando, não atiraria contra o
próprio pé dessa maneira. Dilma não forneceria munição para o tucanato. Ela não
levantaria tantas bolas para FHC e Aécio Neves
cortarem.
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