Por
Joaci
Góes
Quando, no futuro, se analisar o momento que estamos vivendo, a greve
dos caminhoneiros, que ora atravanca a economia de estados que representam 80%
da economia brasileira, incluída a Bahia, aparecerá como sintoma revelador do
que está por vir, como sinal explícito da intensa insatisfação popular que toma
conta do País, em razão do estarrecimento geral diante do descaramento de
funcionários públicos, titulares do poder, empresários parasitas e partidos políticos
cujo único propósito é o de manter nas mãos as rédeas do governo. Esses grupos
se associaram para realizar o maior assalto contra o bolso do contribuinte de
que se tem notícia em qualquer parte do mundo.
Segundo um número crescente de observadores da cena econômica e política
nacional, o escândalo da Petrobrás, até agora o maior, pode ficar pequeno
quando for aberta a Caixa de Pandora que revelará episódios ainda mais
gritantes, a exemplo do BNDES, cuja finalidade predominante tem sido a de
baratear os custos do dinheiro de grandes grupos, sem a contrapartida esperada
em termos de elevação de produtividade da economia, a exemplo do que aconteceu
na Coréia do Sul.
O protesto ubíquo que está programado para ocorrer no próximo dia 15 de
março dará uma idéia da intensidade da indignação da sociedade brasileira,
escorchada com 40% de tudo o que produz transformado em impostos, parte dos
quais, como se fica sabendo, embolsado pelos bandidos/espertalhões que se
aproveitam da ingenuidade e ignorância da maioria de nossa infeliz população,
que vota como se possuída da Síndrome de Estocolmo, aquele fenômeno psicológico
que desenvolve no torturado a necessidade de amar o seu torturador, como meio
de preservar a autoestima.
Entre as profissões que respondem pelo desenvolvimento brasileiro, o
caminhoneiro ocupa posição de relevo, merecendo figurar como tema mais
frequente nas criações literárias e fílmicas, das quais, até agora, o seriado
Carga Pesada, da TV Globo, tendo Antonio Fagundes e Stênio Garcia como personagens
centrais, é a mais conhecida. Jorge Amado não teve tempo de escrever o
prometido romance sobre esta singular figura da vida brasileira.
Habituados à rotina de insegurança, desconforto emocional e incertezas,
os caminhoneiros fascinam pela tolerância e paciência diante da adversidade. O
ânimo guerreiro que ostentam neste instante, comprometendo grandes segmentos da
produção do País, decorre menos dos ascendentes custos de sua atividade,
inviabilizando-a, e muito mais da irresignabilidade despertada pelo ominoso
assalto que estonteia o mundo.
Registre-se o constrangimento de membros honrados dos partidos
envolvidos, cuja biografia merece o respeito geral, em face da escolha entre
calar, pelo discutível dever de companheirismo partidário e o indeclinável
dever de honradez perante os eleitores, a família, os amigos e, sobretudo, a
própria consciência moral. Alguns começam a mudar de agremiação, enquanto
outros continuam a ferver na indefinição shakespeariana do “ser ou não ser”. A
posteridade está de olho neles.
Com algumas exceções que confirmam a regra, entre elas políticos baianos
como Arthur Maia, Antônio Imbassahy e Jutahy Magalhães, a verdade é que grassa
a percepção geral de que as oposições brasileiras não têm atuado com o rigor
que o momento requer daí resultando o sentimento da indispensabilidade da
calorosa e afirmativa reação da voz das ruas para exigir a exemplar punição dos
malditos.
Fora daí, é seguir o receituário de Stanislaw Ponte Preta: “Restaure-se
a moralidade, ou locupletemo-nos todos”.
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