Colaboração
de Fernando Alcoforado*
A vitória
do Syriza nas últimas eleições da Grécia sinaliza na direção de que é possível reverter a
situação vivida pelos povos do mundo inteiro de serem governados pelos detentores
do capital financeiro que impôs sua vontade em escala mundial a partir de 1990
quando foi implantado o modelo neoliberal na quase totalidade dos países do mundo. A
postura assumida pelos novos dirigentes gregos difere do posicionamento dos governantes
brasileiros a partir de 1990 durante os governos Fernando Collor, Itamar Franco,
Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff que aceitaram de forma pusilânime
as imposições do capital financeiro nacional e internacional de introduzir o modelo
neoliberal no Brasil que contribuiu para provocar uma verdadeira devastação na
economia
brasileira de 1990 a 2014 configurada: 1) no crescimento econômico pífio; 2) no
descontrole da inflação, sobretudo no governo Dilma Rousseff; 3) nos gargalos existentes
na infraestrutura econômica e social; 4) na desindustrialização da economia brasileira;
5) na desnacionalização da economia brasileira; 6) na explosão da dívida pública
interna e externa; 7) no agravamento da crise financeira do setor público; 8)
no fracasso
da política social governamental; 9) no aumento das desigualdades regionais; e, 10) no
agravamento da situação do meio ambiente.
Cabe
observar que o neoliberalismo tem como princípios básicos: 1) mínima participação
do Estado nos rumos da economia nacional; 2) política de privatização de empresas
estatais; 3) não intervenção do governo no mercado de trabalho; 4) livre circulação
de capitais internacionais e ênfase na globalização; 5) abertura da economia para a
entrada de multinacionais; 5) adoção de medidas contra o protecionismo econômico;
6) desburocratização do Estado com a adoção de leis e regras econômicas mais
simplificadas para facilitar o funcionamento da economia; 7) diminuição do
tamanho do
Estado para torná-lo mais eficiente; 8) não interferência do Estado nos preços de
produtos e serviços que devem ser determinados pelo mercado com base na lei da
oferta e procura; 9) controle da inflação pelo Estado através de políticas monetárias
com base em metas de inflação; 10) adoção pelo Estado da política de câmbio
flutuante; e, 11) obtenção de superávit fiscal para pagamento da dívida
pública. O baixo
crescimento econômico do Brasil e a elevação desmesurada da dívida pública federal,
sobretudo durante os governos FHC, Lula e Dilma Rousseff demonstram a
inviabilidade
do modelo neoliberal implantado no País.
O programa
econômico do Syriza, partido vencedor das últimas eleições na Grécia, já era
conhecido há vários meses tendo como objetivos acabar com a política de austeridade
imposta pelo FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia com base no
receituário neoliberal, renegociar a dívida e impulsionar o crescimento
econômico nacional.
O novo governo grego, liderado por Alexis Tsipras, líder do Syriza vencedor das
últimas eleições, anunciou na reunião do Conselho de Ministros suas primeiras medidas:
1) parar a privatização do porto de Pireu e de Tessalónica e da companhia de
eletricidade
DEI; 2) aumentar o salário mínimo; 3) reintegrar milhares de funcionários públicos;
e, 4) aumentar as pensões dos pensionistas mais pobres. Tsipras prometeu não criar mais
do que 10 ministérios. Em seu discurso de abertura, ele reafirmou formalmente
o seu compromisso de negociar o alívio da dívida, que deseja encontrar "uma
solução justa, viável e mutuamente útil" com os credores da Grécia. O
montante da dívida
equivale a 175% do produto interno bruto (PIB), cerca de 300 bilhões de euros. Os
credores, em vez de um alívio, admitem discutir seu reescalonamento. Alexis Tsipras,
líder do Syriza, eleito primeiro ministro, salientou que o povo grego queria
"mudanças
radicais" e sublinhou que a luta contra o desemprego, que afeta 25% da força de
trabalho, seria a prioridade da sua ação.
Muito
dificilmente, o PT e os partidos que dão sustentação ao governo Dilma Rousseff agirão da
forma que atuaram os novos dirigentes gregos porque não reúnem condições políticas
para realizarem as mudanças econômicas e sociais que contribuam para superar a
crise atual e atendam os interesses da nação. A falta de condições políticas para
adotar as mudanças econômicas exigidas na quadra atual ficou materializada na submissão
da presidente Dilma Rousseff ao capital financeiro nacional e internacional com a
escolha de sua equipe econômica e a adoção da política econômica de austeridade seguindo o
receituário neoliberal que levou a Grécia ao desastre econômico e social. A
falta de
condições políticas para realizar as mudanças econômicas ficou materializada também com
a compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional comprovada pelo
processo do Mensalão durante o governo Lula e, mais recentemente, com a corrupção
sistêmica que envolveu a Petrobras.
A falta de
condições políticas se agravará no futuro próximo colocando em xeque a governabilidade
dos atuais detentores do poder com a continuidade do péssimo desempenho
da economia brasileira do qual resultará a queda da renda das famílias, dos lucros dos
empresários e da arrecadação do governo mesmo com a adoção do arrocho tributário
anunciado pelo governo. No plano social, a governabilidade será colocada em xeque
porque a piora no desempenho da economia brasileira com a perspectiva de crescimento
zero ou negativo em 2015 e 2016 fará com que haja aumento do
desemprego
com o consequente incremento das tensões sociais das quais resultarão a multiplicação
de greves e dos movimentos sociais em defesa de seus interesses. A falta de
condições políticas para realizar as mudanças econômicas que atendam os
interesses da nação e
garantam a governabilidade dos atuais detentores do poder está também comprometida
diante de duas graves crises como a do colapso no abastecimento de água,
principalmente dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e a de apagões no
suprimento de energia elétrica do País as quais afetarão ainda mais o
desempenho
da economia brasileira em 2015 e 2016 e poderão fazer com que a ira da população
contra os governantes do Brasil atinja níveis insuportáveis.
A falta de
condições políticas para realizar as mudanças econômicas que atendam os interesses
da nação e garantam a governabilidade dos atuais detentores do poder está também
comprometida porque o governo Dilma Rousseff já demonstrou não reunir força
política, não possuir competência suficiente e não ter liderança para propor à nação um
projeto nacional de desenvolvimento que contribua para reverter a situação atual. O
tempo conspira contra o governo Dilma Rousseff cuja tendência é a de piora da situação
atual e de queda na aceitação de seu governo por parte da população brasileira. Todo este
conjunto de fatores pode contribuir para que haja o crescimento do
movimento
pelo impeachment de Dilma Rousseff. Diante desta perspectiva, a nação brasileira
tem que construir uma nova alternativa de poder no Brasil com a constituição de um novo
partido que seja a antítese dos partidos que ocuparam o poder após o regime
militar e demonstram serem incapazes de promover o desenvolvimento econômico
e social do país em benefício da grande maioria de sua população, além de muitos
deles serem coniventes com a corrupção sistêmica que toma conta das instâncias de poder
nacional.
O novo
partido a ser constituído no Brasil deveria aderir ao modelo de social democracia
nos moldes dos países escandinavos que permitiu avanços econômicos, sociais e
políticos simultâneos com o Estado, mesmo a serviço do capital, atuando como mediador
dos conflitos entre os interesses do capital e da Sociedade Civil. No Brasil a social
democracia resultante do aperfeiçoamento do modelo escandinavo operaria com um tripé
estruturado com base em um Estado neutro, Sociedade Civil Organizada ativa e Setor
Produtivo (estatal e privado) eficiente e eficaz. O Estado neutro buscaria
compatibilizar
os interesses do Setor Produtivo (estatal e privado) com os da Sociedade Civil
mediando seus conflitos em várias instâncias dos poderes executivo e
legislativo que,
quando não se obtém o consenso, a decisão final ficaria a cargo da população
que decidiria
democraticamente através de plebiscito e/ou referendo.
Um governo
no Brasil sob a liderança de um partido social democrata com as características
acima descritas deveria adotar um projeto nacional desenvolvimentista de abertura
seletiva da economia brasileira contemplando a adoção imediata da renegociação
do pagamento da dívida externa e da dívida interna pública visando a redução
dos encargos para elevar a poupança pública para investimento. Deveria ser adotada em
curto prazo uma política econômica que priorize: 1) a redução drástica do gasto
público de custeio; 2) o controle do fluxo de entrada e saída de capitais para
evitar
a evasão
de divisas e restringir o acesso de capitais especulativos no país; 3) a
redução acentuada
das taxas de juros para incentivar os investimentos nas atividades produtivas; 4) a
importação seletiva de matérias-primas e produtos essenciais do exterior para reduzir os
dispêndios em divisas do País; 5) a adoção da política de câmbio fixo em substituição
à de câmbio flutuante em vigor para proteger a indústria nacional e controlar
a inflação; 6) a reintrodução da reserva de mercado em áreas consideradas estratégicas
para o desenvolvimento nacional; 7) a reestatização de empresas estatais
privatizadas
consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional; e, 8) a adoção de uma
política tributária capaz de assegurar os recursos de que o Estado necessitaria para
investir em educação, saúde, previdência social e nos setores de
infraestrutura, entre
outros e onerar o mínimo possível a população e os setores produtivos. Percebe-se
pelo exposto, que o projeto nacional desenvolvimentista de base social democrata
permitiria fazer com que o Brasil assumisse os rumos de seu destino, ao contrário
do projeto neoliberal em vigor que faz com que o futuro do País seja ditado
pela
forças do mercado todas elas comprometidas com o capital internacional.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas
energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997),
De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São
Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona, (http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development-
The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(P&A Gráfica e Editora, Salvador,
2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), entre outros.
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