quinta-feira, 5 de março de 2015

A MATEMÁTICA NO PRINCÍPIO DO GÊNESIS

  (NR/ este é um dos artigos, tematicamente, mais interessante já postado por este Blog). Reúne criatividade, concisão e ensinamento

Por
Marcio Luis Ferreira Nascimento

A matemática encontra-se no dia a dia de todos nós, e em lugares surpreendentes. Um dos mais curiosos certamente situa-se nas Escrituras Sagradas. Por exemplo, o rei Salomão (c. 1009 - 922 a.C.) construiu o Mar de Fundição, conforme I Reis 7, versículo 23 (e em II Crônicas 4, versículo 2): “Fez também o mar de fundição, redondo, de dez côvados de uma borda até a outra, e de cinco de alto; e um fio de trinta côvados era a medida de sua circunferência”. O côvado era uma medida muito utilizada na antiguidade, baseado no comprimento do antebraço, da ponta do dedo médio até o cotovelo, equivalente a aproximadamente 50 cm.

Na matemática ensinada nas escolas, a relação entre a circunferência e seu diâmetro é de fato um pouco maior que três (na verdade vale 3,14159..., um número irracional, denominado de pi), o que mostra um alto grau de conhecimento matemático na época de Salomão. Por quê? Provavelmente  foi de certa forma a melhor maneira de ensinar como construir algo ‘redondo’, i.e., circular, aos antigos - bastava considerar o triplo do valor do diâmetro para se ter idéia da circunferência. Tal regra básica é muito útil, se pensarmos num modo de instrução para pessoas simples há mais de três mil anos. Vale também lembrar que o primeiro cálculo rigoroso de pi (ainda que não exato...) foi realizado pelo grande matemático grego Arquimedes de Siracusa (c. 287-212 a.C.), que viveu mais de setecentos anos depois de Salomão.



Deixando a história de lado, um dos mais curiosos aspectos matemáticos da Bíblia foi apresentado pelo jornalista Martin Gardner (1914 - 2010) quando da sua célebre coluna mensal “Mathematical Games” (‘Jogos Matemáticos’), publicada na mais antiga e renomada revista de divulgação científica ainda em atividade (Scientific American 238, fevereiro de 1978). Neste particular volume apresentou de maneira brilhante um novo modo de contagem denominado “Princípio Kruskal”, com aplicações em computação e criptografia, em homenagem ao físico-matemático americano Martin David Kruskal (1925 - 2006). Considere os primeiros versículos do Gênesis:

Primeiro versículoNo princípio criou Deus o céu e a terra.
Segundo versículoE a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
Terceiro versículoDisse Deus: Haja luz; e houve luz.

Gardner propôs basicamente o seguinte: “selecione qualquer uma das nove palavras do primeiro versículo do Gênesis: ’No princípio criou Deus o céu e a terra’. Conte o número de letras da palavra escolhida. Passe para a próxima palavra tantas palavras depois do número de letras determinado.” Por exemplo: “No” tem 2 letras, conte duas palavras, até chegar em “criou”. “Criou” tem 5 letras: pule cinco palavras, e assim por diante. Continue a contar as palavras de acordo com a regra até alcançar o terceiro versículo do Gênesis. Em qual palavra recairá a contagem?

Gardner concluiu: “não importa qual escolha você faça, se você contar deste modo sempre recairá na palavra DEUS.” E perguntou: “será que isto acontece naturalmente ou faz parte de algum plano divino?”. Tal reflexão cabe muito bem em qualquer início de ano...
  


Importante ressaltar que Gardner apresentou este modo de contagem em inglês, baseado numa versão bastante comum da Bíblia, que curiosamente também funciona em língua portuguesa, conforme exemplo acima. Portanto, existem versões em línguas distintas em que é possível verificar este princípio de contagem – no princípio do Gênesis.

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