(NR/ este é um dos artigos, tematicamente, mais
interessante já postado por este Blog). Reúne criatividade, concisão e
ensinamento
Por
Marcio
Luis Ferreira Nascimento
A matemática encontra-se no dia a dia de todos nós,
e em lugares surpreendentes. Um dos mais curiosos certamente situa-se nas
Escrituras Sagradas. Por exemplo, o rei Salomão (c. 1009 - 922 a.C.)
construiu o Mar de Fundição, conforme I Reis 7, versículo 23 (e em II Crônicas
4, versículo 2): “Fez também o mar de fundição, redondo, de dez côvados de uma
borda até a outra, e de cinco de alto; e um fio de trinta côvados era a medida
de sua circunferência”. O côvado era uma medida muito utilizada na antiguidade,
baseado no comprimento do antebraço, da ponta do dedo médio até o cotovelo,
equivalente a aproximadamente 50 cm.
Na matemática ensinada nas escolas, a relação entre
a circunferência e seu diâmetro é de fato um pouco maior que três (na verdade
vale 3,14159..., um número irracional, denominado de pi), o que
mostra um alto grau de conhecimento matemático na época de Salomão. Por quê?
Provavelmente foi de certa forma a melhor maneira de ensinar como
construir algo ‘redondo’, i.e., circular, aos
antigos - bastava considerar o triplo do valor do diâmetro para se
ter idéia da circunferência. Tal regra básica é muito útil, se pensarmos num
modo de instrução para pessoas simples há mais de três mil anos. Vale também
lembrar que o primeiro cálculo rigoroso de pi (ainda que não
exato...) foi realizado pelo grande matemático grego Arquimedes de Siracusa (c.
287-212 a.C.), que viveu mais de setecentos anos depois de
Salomão.
Deixando a história de lado, um dos mais curiosos
aspectos matemáticos da Bíblia foi apresentado pelo jornalista Martin Gardner
(1914 - 2010) quando da sua célebre coluna mensal “Mathematical Games”
(‘Jogos Matemáticos’), publicada na mais antiga e renomada revista de
divulgação científica ainda em atividade (Scientific American 238,
fevereiro de 1978). Neste particular volume apresentou de maneira brilhante um
novo modo de contagem denominado “Princípio Kruskal”, com aplicações em
computação e criptografia, em homenagem ao físico-matemático americano Martin
David Kruskal (1925 - 2006). Considere os primeiros versículos do Gênesis:
Primeiro versículo: No
princípio criou Deus o céu e a terra.
Segundo versículo: E
a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o
Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
Terceiro versículo: Disse
Deus: Haja luz; e houve luz.
Gardner propôs basicamente o seguinte: “selecione
qualquer uma das nove palavras do primeiro versículo do Gênesis: ’No princípio
criou Deus o céu e a terra’. Conte o número de letras da
palavra escolhida. Passe para a próxima palavra tantas palavras depois do
número de letras determinado.” Por exemplo: “No” tem 2 letras, conte duas
palavras, até chegar em “criou”. “Criou” tem 5 letras: pule cinco palavras, e
assim por diante. Continue a contar as palavras de acordo com a regra até
alcançar o terceiro versículo do Gênesis. Em qual palavra
recairá a contagem?
Gardner concluiu: “não importa qual escolha você
faça, se você contar deste modo sempre recairá na palavra DEUS.” E
perguntou: “será que isto acontece naturalmente ou faz parte de algum plano
divino?”. Tal reflexão cabe muito bem em qualquer início de ano...
Importante ressaltar que Gardner apresentou este
modo de contagem em inglês, baseado numa versão bastante comum da
Bíblia, que curiosamente também funciona em língua portuguesa, conforme exemplo
acima. Portanto, existem versões em línguas distintas em que é possível
verificar este princípio de contagem – no princípio do Gênesis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário