Colaboração
de Fernando Alcoforado*
As
turbulências que vêm ocorrendo em vários países do mundo ao longo da história demonstram
que eles são constituídos por sistemas políticos, econômicos e sociais caóticos,
imprevisíveis e sensíveis às condições iniciais se caracterizando pela incapacidade
de prever seus estágios futuros porque uma pequena mudança nas condições
iniciais do sistema pode ocasionar grandes implicações em seu
comportamento
futuro. Pode-se afirmar que cada país e o sistema-mundo operam de acordo com
a Teoria do Caos que é uma das leis mais importantes do Universo presente na
essência de quase tudo o que nos cerca. Segundo a Teoria do Caos ou a Ciência
da Complexidade, o caos é uma "mistura" de desordem e ordem que
nascem de novas estruturas, chamadas estruturas "dissipativas".
A Teoria
do Caos sugere que o Universo tem um ciclo de ordem, desordem, ordem, e assim
sucessivamente. De modo que uma leva a outra e assim por diante, talvez indefinidamente.
Uma das principais implicações da Teoria do Caos tem a ver com o “feedback”
(retorno) gerado em situações caóticas. Enquanto sistemas fechados têm um “feedback”
negativo, sistemas abertos evoluem caoticamente pelo feedback positivo. O “feedback”
negativo tende a corrigir um desvio, levando o sistema ao seu estado original.
Tais processos se opõem à mudança, uma vez que sempre olham para trás para voltar
a um estado anterior. Por outro lado, o “feedback” positivo promove a mudança, a
formação de novas estruturas, mais sofisticadas, mais adaptáveis, mais sutis, inovadoras.
Na medida em que implica a criação de uma nova estrutura, os processos são
irreversíveis, ao contrário do “feedback” negativo, que tendendo para o estado original,
é reversível.
No
“feedback” negativo procuramos corrigir os desvios para retornar ao caminho original.
No “feedback” positivo, pequenas mudanças podem induzir a grandes mudanças
que levam a novas metas desconhecidas, talvez melhor, embora não possamos
prever exatamente onde é que chegaremos. Enquanto a ciência clássica centrada
na estabilidade, no determinismo, enfatiza o processo de “feedback” negativo que
tende a reduzir a mudança, retornando o sistema à sua posição de equilíbrio, o “feedback”
positivo promove a mudança e a instabilidade. Exemplo: a inovação tecnológica
cria um novo negócio e a presença deste, por sua vez, estimula a geração de mais
inovações.
Os fatos
da vida demonstram que a evolução requer instabilidade para que pequenos eventos
sejam ampliados que só é possível em uma situação de não equilíbrio. A evolução
requer a instabilidade, a irreversibilidade e a possibilidade de dar sentido a pequenos
eventos para que uma mudança estrutural ocorra. Uma vez que o processo resulta na
criação de uma estrutura complexa, a estrutura de dissipação, um novo ciclo de
desequilíbrio ocorre e o caos recomeça onde ocorrem novas instabilidades ou flutuações
(Figura 1). Para Prigogine (químico russo, Nobel de Química de 1977 pelos seus
estudos em termodinâmica de processos irreversíveis com a formulação da teoria das
estruturas dissipativas), todos os sistemas contêm subsistemas
constantemente flutuantes.
Às vezes, uma única variação em um deles pode ser tão poderosa como resultado
de um “feedback” positivo, que quebra toda a organização existente. Nesse momento,
chamado momento singular ou ponto de bifurcação, é inerentemente impossível
saber para onde vai evoluir o sistema (estado de improbabilidade): desintegrar-se
em caos ou saltar para um novo nível de organização superior e
diferenciado
e, uma nova estrutura dissipativa.
Fonte:
Ervin Laszlo. O Ponto do Caos. São
Paulo: Editora Cultrix, 200. A Figura 1
mostra que um sistema dinâmico como o sistema econômico do Brasil quando
está sujeito a “flutuações” é levado a um ponto de bifurcação a partir do qual
o sistema alcança uma nova estabilidade dinâmica (avanço revolucionário ou para
outro patamar mais avançado) ou entra em colapso, segundo Ervin Laszlo (O
Ponto do Caos.
São Paulo:
Editora Cultrix, 200). No ponto bifurcação o sistema tem que ser reestruturado
ou entrará em colapso. Esta é a situação vivida pela economia do Brasil, que
enfrenta uma crise profunda. Para enfrentar a crise, o governo Dilma Rousseff adota um
“feedback” negativo procurando corrigir os desvios para retornar ao caminho original
quando deveria adotar o “feedback” positivo com a promoção de mudanças, a formação
de novas estruturas, mais sofisticadas, mais adaptáveis, mais sutis e inovadoras
para superar a crise atual e retomar o desenvolvimento do País em novas bases.
A Teoria
do Caos ou a Ciência da Complexidade apresenta uma perspectiva interessante do
ponto de vista de sua aplicação à economia principalmente na explicação de fenômenos
que parecem ter um comportamento disruptivo. Por trás da aparente desordem na
economia, há uma dinâmica que pode ser explicada através de técnicas matemáticas
e estatísticas apropriadas, típicas desta teoria. Em sistemas dinâmicos, como a
economia, que mudam constantemente ao longo do tempo, pequenas alterações em um
determinado momento, pode ser a causa de grandes mudanças no futuro. A crise mundial
que eclodiu em 2008 nos Estados Unidos produziu várias consequências que se manifestam
até hoje. Considerando que a economia capitalista é um sistema dinâmico, não
linear e complexo, a dificuldade de planejar e antecipar problemas, exige a
consideração das perspectivas de desenvolvimento de longo prazo. Significa que
é preciso planejar a economia reconhecendo que o caos e a complexidade estão
presentes e que deve lidar com este cenário da melhor maneira possível. Uma das
grandes dificuldades de o Brasil superar a crise que devasta o País reside no
fato de adotar o modelo neoliberal que rejeita o planejamento governamental.
O Brasil,
como organização econômica, social e política, está em desintegração. Os sinais de
desintegração são evidentes em todas as partes do País. O modelo econômico neoliberal
em vigor mostra claros sinais de esgotamento porque apresenta declínio no crescimento
econômico com tendência à estagflação, aumento das taxas de inflação, elevadíssima
carga tributária, endividamento crescente, precariedade da infraestrutura de
transporte e energia, falência dos serviços públicos de educação e saúde, desindustrialização,
gargalo logístico e queda vertiginosa na balança comercial. Além disso, todo o
sistema político e administrativo do País está contaminado pela corrupção e a
máquina administrativa do Estado é ineficiente e ineficaz. Todos estes sinais
tendem a aprofundar a crise econômica brasileira alimentando a emergência de
colapso do sistema econômico, político e social nacional.
O caos e a
complexidade do ambiente de negócios no Brasil fazem com que os governos,
as empresas e as pessoas sintam a sensação de estarem sendo arrastadas por um
furacão que permeia toda a vida política, econômica e social. Isto quer dizer
que, para compreender e gerir um sistema econômico e social complexo devemos
pensar de forma complexa e agir utilizando conceitos e práticas, no mínimo,
comparáveis à complexidade desse sistema. Esta não é a prática dos gestores da
economia brasileira que ainda utiliza métodos obsoletos de administração do sistema
econômico. As ciências econômicas clássicas que, no passado, nos ofereceram uma
série de métodos para entender a realidade e construir modelos econômicos e
organizacionais já não atendem as necessidades da era contemporânea. Não
devemos continuar adotando modelos econômicos e organizacionais em que tudo a
eles relacionados seja tratado de forma isolada e desconectada do todo.
* Fernando Alcoforado,
75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário e
consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial,
planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil
e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case
of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany,
2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e
Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes
do
Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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