Colaboração
de Fernando Alcoforado*
O Brasil, como organização
econômica, social e política, está em desintegração. Os Sinais de desintegração são
evidentes em todas as partes do País. O modelo econômico Neoliberal em vigor há 24 anos
mostra claros sinais de esgotamento porque o Brasil apresenta declínio no crescimento
econômico com tendência à estagflação, aumento das taxas de inflação, elevadíssima
carga tributária, endividamento público crescente, precariedade da infraestrutura de
transporte e energia, falência dos serviços públicos de educação e saúde,
desindustrialização, gargalo logístico e queda vertiginosa na balança comercial. Além disso, todo o
sistema político e administrativo do País está contaminado pela corrupção e a
máquina administrativa do Estado é ineficiente e ineficaz. Todos estes sinais
negativos tendem a aprofundar em 2015 a crise econômica brasileira alimentando a emergência
de colapso do sistema econômico, político e social nacional.
É sabido que o nível de bem estar
desfrutado pela população de um país determina o índice de governabilidade existente
em um dado momento. Em outras palavras, quanto maior é o estado de bem estar
social maior é a estabilidade política de um país. Por isso, para poder governar, todo governo
deve buscar a melhoria do bem estar material da população. E, para melhorá-lo, o
governo precisa promover o desenvolvimento econômico para gerar emprego e a
distribuição da renda. A estagnação econômica que tende a se agravar no Brasil, além
de elevar o desemprego e afetar negativamente a distribuição da renda, pode reduzir
as receitas do Estado e exigir cortes no orçamento do governo brasileiro como já está
ocorrendo. Com os cortes no orçamento, o governo
Dilma Rousseff fica impossibilitado
de realizar investimentos em benefício da população para elevar o seu nível
de bem estar social.
A incapacidade do governo
brasileiro e das instituições políticas em geral de oferecer respostas eficazes para superação
da crise econômica em que se debate a nação brasileira e debelar a corrupção
desenfreada em todos os poderes da República na atualidade tende a contribuir para
o aumento da violência política no Brasil. Sem a solução desses problemas, o País
poderá ficar convulsionado como aconteceu na década de 1960 do século XX quando setores
da extrema-direita arquitetaram o golpe de estado que derrubou o presidente João
Goulart. O caos poderá se instalar novamente no Brasil com o incremento das manifestações
da população, a volta dos adeptos dos “Black Blocs” às ruas e a presença das
milícias petistas para combater seus opositores defendida irresponsavelmente pelo
ex-presidente Lula em discurso recente na ABI quando declarou guerra contra seus
oponentes políticos. As manifestações programadas para 15 de março contra o governo
Dilma Rousseff pode ser o início da escalada da violência política no Brasil se as
milícias petistas tentarem abafa-las com violência. Da mesma forma que as SA (milícias
nazistas) e grupos paramilitares comunistas
surgiram e se confrontaram com
extrema violência na Alemanha durante a República de Weimar após a 1ª Guerra Mundial, o
mesmo pode acontecer no Brasil no momento atual. Além dos “Black Blocs” que,
para alguns se trata de fascistas e para outros de anarquistas, poderemos ter na
manifestação da população em 15 de março contra o governo Dilma Rousseff a presença
de milícias petistas, denominadas por Lula na ABI como o “exército” de Stédile, líder
do MST, para combater seus inimigos políticos com o uso da violência nos moldes das
milícias chavistas que estão aterrorizando a Venezuela.
A violência que venha a ser
praticada pelos “Black Blocs” e pelas milícias petistas na manifestação de 15 de
março próximo poderia criar um ambiente de convulsão social que ofereceria a
justificativa necessária para que seja patrocinado um novo golpe de estado no Brasil
visando a manutenção da ordem política, econômica e social.
O sociólogo alemão Ralf Dahrendorf,
que acompanhou os terríveis anos nazistas de Berlim, escreveu em 1985 um livro
chamado A Lei e a Ordem (Editora Instituto Liberal, 1997), quando afirmou que
a anarquia, definida como ausência generalizada de respeito às normas sociais, costuma
anteceder aos regimes totalitários. No estado de anarquia, as normas reguladoras do comportamento
das pessoas perdem sua validade. As violações de normas simplesmente não são mais
punidas como ocorre hoje no Brasil. Neste contexto, todas as sanções parecem
ter desaparecido. O “contrato social”, entendido
aqui como normas aceitas e mantidas
através de sanções impostas pelas autoridades competentes, é rasgado, restando o
vácuo em seu lugar. Tudo passa a ser visto como permitido, já que nada mais parece
ser punido.
Não há como dissociar esta situação
descrita por Dahrendorf do grave momento atual do Brasil onde a impunidade é
crescente e os valores básicos da civilização estão completamente enfraquecidos.
Sabe-se que, no Brasil, apenas 10% dos crimes praticados são elucidados.
Políticos cometem crimes à luz do dia, nada acontece, e os próprios eleitores ainda votam
neles novamente. Condenados do “Mensalão”, por exemplo, vão à prisão, mas logo
depois são libertados. A crença de que as leis não
funcionam mais é generalizada no
Brasil. O Brasil já está vivenciando, infelizmente, a anarquia descrita por Ralf
Dahrendorf. Algo precisa ser feito urgentemente, porque vivemos uma crise econômica e uma
crise de valores morais com a falência das instituições necessárias para a
manutenção da lei e da ordem que estão a exigir uma reforma do Estado e uma reforma
política radical.
A continuidade da situação vivida
atualmente pelo Brasil no âmbito do Estado e da Sociedade Civil é insustentável abrindo
caminho para um tempo de catástrofe no País. A crise que atinge a economia
brasileira que ameaça levá-la ao colapso soma-se à crise hídrica que atinge, sobretudo São
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e a crise do setor elétrico com a ameaça de “apagões”
tende a produzir tensões sociais e radicalização política
irresistíveis. Quatro futuros alternativos podem resultar no Brasil com a evolução da crise econômica,
social e político-institucional: 1) o impeachment de
Dilma Rousseff com a comprovação de
seu envolvimento na corrupção da Petrobras; 2)
a renúncia de Dilma Rousseff diante
da rejeição nacional pela sua permanência no poder e sua substituição pelo
vice-presidente Michel Temer; 3) a renúncia conjunta de Dilma Rousseff e Michel Temer e a
formação de um governo provisório de união nacional que teria a incumbência de
convocar uma nova Assembleia Constituinte e, após esta, novas eleições gerais no
País; e, 4) a deposição dos atuais detentores do poder pelas Forças Armadas para ordenar a
vida nacional convulsionada.
Os três primeiros caminhos só
ocorrerão se tornar irresistível o movimento de massas pela remoção de Dilma
Rousseff e seus aliados do poder. O quarto caminho ocorrerá inevitavelmente se nenhum dos 3
primeiros caminhos não se viabilizar e a convulsão social se estabelecer no Brasil.
Percebe-se, pelo exposto, que vivemos momentos decisivos na história do Brasil. O
povo brasileiro precisa se posicionar para evitar o futuro que representa a
continuidade de Dilma Rousseff e seus aliados no poder porque representaria a completa
desorganização do País e a bancarrota da economia brasileira e
também para evitar que uma
intervenção militar conduza o País à uma ditadura de consequências imprevisíveis. O
futuro alternativo três acima descrito representaria o melhor caminho a ser trilhado com a
formação de um governo provisório de união nacional que teria a incumbência de
convocar uma nova Assembleia Constituinte para reordenar a vida nacional após a
qual seriam realizadas novas eleições gerais no País. Este seria o caminho para evitar
uma luta fratricida ou uma guerra civil no Brasil.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário
e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial,
planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil
e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development-
The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken,
Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena-
Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba,
2012), entre outros.
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