quinta-feira, 5 de março de 2015

MEUS PRIMEIROS PROFESSORES

Por
Consuelo Pondé de Sena


Não esqueço da infância alegre e despreocupada, alheia ao mundo circundante, do qual não me julgava fazer parte.
Por isso, para ir me socializando, entrei no Jardim de Infância, do Colégio Santa Clara, de propriedade de minha tia paterna, Mara do Carmo Pondé.
Àquela altura, o estabelecimento existiu na casa de sua família, onde a jovem e brilhante professora, diplomada pela Escola Normal da Bahia também vivia, ao lado de minha avó, Vitalina Mendes Pondé e os irmãos solteiros. Do Jardim de Infância só me recordo de um garotinho louro, Augusto Silvany, a quem apelidei “pintinho”, porque adorava, como até hoje gosto, de cabelos fulvos.
Percebendo que a tarefa de ensinar lhe estragaria a mocidade e retiraria a possibilidade de tentar um trabalho mais rentável e compensador, tia Titá, como era conhecida em família, fechou a escolinha e foi ser funcionária pública, passando a exercer a função de arquivista, após ter se credenciado no Arquivo Nacional (DF). Foi aluna brilhante de Jaime Cortesão.
De lá voltou muito capacitada, porque era culta e aplicada, como poucas mulheres do seu tempo. Tendo estudado em Alagoinhas, onde meu avô, Pedro Faustino de Souza Pondé era Juiz de Direito, já lia e falava o francês com facilidade. Aprendera com o pai, diplomado em Direito pela Faculdade do Recife.

Depois dessa escola, não sei porque cargas d’água, passei uns meses na Escola de D. Georgetta, que se situava no andar térreo da casa do pároco do Desterro, Anibal Matta, irmão do grande advogado Edgard Matta, portanto, tio do Acadêmico, Professor João Eurico Matta.
Depois, não sei porque, talvez porque era levada da breca, fui estudar com a professora Gasaldina Belluci, irmã do Des. Dermeval Belluci, cuja senhora mãe era D. Joaninha.
D. Joaninha comerciava merenda para os “peraltas”. Vendia um fubá de milho, com amendoim torrado, uma maravilha, para meu apetite voraz. Não sei por que razão, brincalhona e moleca que era, espalhei entre meus coleguinhas que aquele fubá amarelinho não era de milho, mas se tratava  das raspas da parede da sala de aula, com amendoim torradinho.
Convincente, meus colegas se arrepiaram com a minha deslavada mentira e deixaram de merendar na escola. Não sei dizer se fui obrigada a deixar de lá estudar, mas o fato é que não voltei mais àquela escola no ano seguinte.  Retornei ao Colégio de D. Anfrísia, que muito me agradava, apesar do temor muito acentuado de muitas alunas, temerosas do rigor da nobre educadora.
Lá tive como professoras: D. Bernadeth, Soledade, Teodora, cujo nome de solteira desconheço, e lá fui eu, sempre “serelepe”, apesar do rigor do estabelecimento.
Eu era muito afoita e não tinha medo de D. Anfrísia. Com frequência era mandada ao seu gabinete, mas, em lugar de tomar um belo de um carão, conversava com aquela diretora sobre outros assuntos e era, logo mais, dispensada. Ela me entretinha com belas lições de geografia e história e eu aprendia sempre mais do que os meus colegas. Por isso, não a esqueço, tendo sido ela, apesar do “carrancismo” uma mulher admirável. Diria mesmo, inesquecível.

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