Colaboração
de Fernando Alcoforado*
A
governabilidade de um país só é alcançada quando o governo possui maioria parlamentar
para implementar suas políticas e conta com o apoio da grande maioria da população
e das diversas classes sociais. As derrotas do governo Dilma Rousseff na sucessão
da Câmara dos Deputados que elegeu Eduardo Cunha, desafeto da presidente, a aprovação
pelo Senado Federal da PEC da “bengala” que impossibilitou a atual presidente de
indicar 4 novos integrantes do Supremo Tribunal Federal até 2018 e o recente
programa de TV do PMDB que não fez referência à suprema mandatária da nação
demonstram que ela terá grande dificuldade para reunir a maioria parlamentar
necessária para aprovar os projetos do governo. O frágil apoio que o governo
Dilma Rousseff possui no Congresso Nacional poderá virar pó a depender da força
da manifestação popular contra o governo que ocorrerá em todo o País em 15 de
março.
O governo
Dilma Rousseff parece não mais possuir as condições necessárias para governar o
Brasil, não apenas pelo fato de não contar com o apoio da maioria parlamentar
no Congresso Nacional, mas também pelo fato de não mais possuir o apoio da
maioria da nação que lhe possibilitou vencer as últimas eleições presidenciais.
Segundo a
pesquisa Datafolha divulgada em 7 de fevereiro de 2015, o índice de eleitores
que avaliaram o governo Dilma Rousseff como "ótimo" ou
"bom" foi de apenas 23%. Para 46% dos eleitores ouvidos pelo
instituto, Dilma mentiu durante a campanha eleitoral do ano passado. A pesquisa
Datafolha mostra ainda que 47% dos brasileiros consideram Dilma Rousseff
desonesta, 54% a consideram falsa e 50%, indecisa. 77% dos entrevistados acreditam
que a presidente Dilma Rousseff sabia do esquema de corrupção na Petrobras.
Para haver
governabilidade, o governo precisa contar com maioria no Parlamento para aprovação
de seus projetos legislativos, deve possuir credibilidade perante a população e
atender, sobretudo, as demandas das diversas classes sociais para obter o apoio
da Sociedade Civil que não estão também acontecendo. Recentemente, a imprensa
vem noticiando comentários de pessoas com acesso a lideranças do PSDB e também
de membros do PT, insinuando que poderia haver uma aproximação entre as duas
forças políticas para garantir uma maior estabilidade no atual momento de
crise. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) divulgou nota neste
sábado, (7/3), desmentindo
a informação além de afirmar que não aceitaria conchavo com o governo na
tentativa de salvar o que não deve ser salvo.
Cabe
observar que a sociedade se divide em possuidores e não detentores dos meios de
produção. No Brasil, o Estado, através de suas empresas estatais, e a burguesia industrial,
comercial e financeira são detentores dos meios de produção. A burguesia é constituída
no Brasil por dois grupos: 1) grandes empresários do setor produtivo e empresários
ligados ao setor financeiro, etc. tendo um contingente de 9 mil; e, 2) empresários
pequenos e médios cujo contingente é de 5,7 milhões. A crise que afeta o
Brasil no
momento já está trazendo imensos prejuízos à burguesia devido à estagnação econômica
e a escalada da inflação. A burguesia tenderia a se opor ao governo Dilma Rousseff
pela incompetência demonstrada na condução da economia nacional, pelo risco de perda de continuidade do processo de
acumulação do capital e pela ameaça de realização de prejuízos de suas empresas
no futuro.
As classes
sociais não detentoras dos meios de produção dizem respeito à pequena burguesia,
ao proletariado urbano e rural e ao lumpemproletariado que são classificadas como
classes subalternas. A pequena burguesia é composta pela classe média alta (executivos
de empresas privadas nacionais, executivos de empresas multinacionais, altos
burocratas do governo e executivos de empresas estatais), classe média
tradicional (funcionários públicos e profissionais liberais) e intelectuais
(advogados de grandes escritórios, professores universitários, acadêmicos,
jornalistas, artistas, cineastas, etc.) cujo contingente é de 108 milhões de
habitantes. O proletariado urbano e rural são os trabalhadores da indústria,
agropecuária, comércio e serviços que totalizam 46 milhões de habitantes no
Brasil e o lumpemproletariado, chamado também de "povão", é constituído
de 40,3 milhões de pessoas.
Cabe
observar que a pequena burguesia diz respeito à classe média ou camadas médias urbanas.
A pequena burguesia tende a aumentar sua oposição ao governo atual porque serão
afetadas enormemente pelo desemprego em consequência da política de austeridade
do governo Dilma Rousseff e pela perda de seu poder aquisitivo devido à escalada
da inflação. O proletariado é aquele que não tem nenhum meio de vida exceto sua
força de trabalho. O desemprego resultante da estagnação da economia brasileira
e a perda do poder aquisitivo do proletariado devido à escalada da inflação
farão com que o governo Dilma Rousseff perca seu apoio independentemente do
posicionamento dos sindicatos e centrais sindicais pelegas.
O
lumpemproletariado que é a parcela da população situada socialmente abaixo do
proletariado formada por frações miseráveis, não apenas destituídas de recursos econômicos,
mas também desprovidas de consciência política e de classe, sendo, portanto,
suscetíveis de servir aos interesses da burguesia e ao clientelismo político partidário
é o último bastião de apoio do governo Dilma Rousseff. O lumpemproletariado,
chamado também de "povão", base de sustentação social dos
governos
do PT, tenderia a apoiar o governo Dilma Rousseff porque continuará sendo beneficiado
com os programas sociais “Bolsa Família” e “Minha Casa, Minha Vida”. Finalmente,
é preciso deixar bem claro que, na fase atual de desenvolvimento do capitalismo
no Brasil, a governabilidade só será assegurada se seus governantes garantirem
a continuidade do processo de acumulação capitalista em benefício da burguesia
e se houver crescente redistribuição da renda em benefício das classes
subalternas
(pequena burguesia, proletariado urbano e rural e lumpem proletariado). Pelo
exposto, a ingovernabilidade, que é o domínio da desordem, será inevitável no
governo Dilma Rousseff porque ela não terá condições de assegurar a
continuidade do processo de acumulação capitalista e da redistribuição da renda
em benefício das classes subalternas.
Segundo
Antonio Gramsci, filósofo italiano, o Estado não se apresenta apenas como um
aparato político-militar pelo qual a classe dominante (burguesia) organiza a
coerção sobre as demais classes sociais. Para assegurar a governabilidade, o
Estado deve conquistar o apoio das classes dominantes e também das classes
sociais subalternas através do convencimento, da persuasão, da conquista.
(GRAMSCI, Antonio. Escritos Políticos Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2004). O governo Dilma Rousseff não exercerá a governabilidade
porque está perdendo o apoio das classes dominantes e da maioria das classes
sociais subalternas. Configura-se, desta forma, o divórcio entre o Estado e a
Sociedade Civil.
O povo
brasileiro está diante de duas opções: 1) manter Dilma Rousseff, o PT e seus aliados no
poder em respeito ao que estabelece a Constituição e, em consequência, aceitar
que o País continue ingovernável e seja levado à bancarrota; e, 2) buscar a renúncia
de Dilma Rousseff e Michel Temer e constituir um governo provisório de união
nacional que teria por missão convocar uma Assembleia Constituinte para reforma do
Estado e da Administração Pública no Brasil e realizar novas eleições gerais.
A opção 1
tenderia com o evoluir do tempo a incrementar as tensões sociais que poderiam
se tornar incontroláveis pelo governo Dilma Rousseff e daí resultar em intervenção
das Forças Armadas para manter a ordem política e social de consequências imprevisíveis.
Certamente, a opção 2 é melhor do que a opção 1 porque as tensões sociais
poderiam ser atenuadas com a perspectiva do reordenamento político
institucional e o estabelecimento de novos rumos econômicos e sociais para o
Brasil.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo,
1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel,
São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento
do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State
of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken,
Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio
Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do desenvolvimento
Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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