Literatura
Um vienense na
literatura Brasileira. Nascido Otto Karpfen na Áustria, foi um dos melhores
presentes que o nazismo deu ao Brasil. Chegou aqui aos 40 anos. Não sabia nada
de português e era capaz de chamar a cidade que escolheu para viver (Rio de
Janeiro) de Fluss von Januar. Quatro anos depois, já lançava um livro em
português perfeito. Era feio e gago, mas gago em doze idiomas.
Otto Maria Carpeaux (Viena, 9 de março de 1900 – Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1978), nascido
Otto Karpfen, foi um ensaísta, crítico literário e jornalista austríaco naturalizado brasileiro.
Foi filho único de Max Karpfen, um profissional liberal judeu, e de
Gisela Schmelz Karpfen, católica. Nascido
na capital do Império Austro-Húngaro, em 9 de março de 1900, onde
cursou o ginasial, Otto Maria Carpeaux (então Otto Karpfen) ingressou na faculdade
de direito por
sugestão familiar, abandonando-a um ano depois. Entre os anos de 1920 e 1930
estudou no Instituto de Química da Universidade de Viena, mas nunca exerceu a
profissão. Nessa época frequentava os círculos literários de Viena e
conferências públicas de Karl Kraus. Também
estudou filosofia (doutorou-se
em 1925), matemática (em Leipzig), sociologia (em Paris), literatura comparada (em Nápoles) e política (em Berlim); além de
dedicar-se à música.
Entregou-se
intensamente à literatura e ao
jornalismo político, carreiras que deixou em Viena com passagens como redator
da revista semanal Berichte zur Kultur und Zeitgeschichte articulistas
do jornal Neue Freie Presse.
Em março de 1930 casou-se
com Helena Carpeaux que o acompanhou por toda a vida. Abandonou o judaísmo em 1933, converteu-se à religião católica e acrescentou Maria e Fidelisa
o seu nome, este último por pouco tempo. Tornou-se homem de
confiança de dois primeiros-ministros em Viena, Engelbert Dollfuss e Kurt Schuschnigg,
respectivamente os últimos primeiros-ministros antes da Aústria ser incorporada
ao Reich alemão.
Com a queda deste último, foi obrigado a seguir para o exílio.
Em princípios
de 1938, foge com
a mulher para Antuérpia (Bélgica), onde ainda trabalha como jornalista na Gazet
van Antwerpen, maior jornal belga de língua holandesa.
Diante da
escalada nazista, Carpeaux
se sente inseguro e foge com a mulher, em fins de 1939, para
o Brasil. Durante a viagem de navio, estoura a guerra
na Europa. Recusando qualquer ligação com o que estava acontecendo no Reich, muda seu sobrenome germânico Karpfen para
o francês Carpeaux.
Ao desembarcar, nada conhecia da literatura brasileira, nada sabia do idioma e não tinha conhecidos. Na
condição de imigrante, foi enviado para uma fazenda no Paraná, designado
para o trabalho no campo.
O cosmopolita e
erudito Carpeaux ruma para São Paulo.
Inicialmente passa dificuldades; sem trabalho, sobrevive à custa da venda de
seus próprios pertences, inclusive livros e obras de arte. Poliglota, o homem que já sabia inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, flamengo, catalão, galego,
provençal, latim e servo-croata, em um ano
aprendeu e dominou o português, com muita facilidade devido ao conhecimento do
latim e de outras línguas derivadas do latim.
Em 1940, tentou ingressar no jornalismo nacional, mas não
consegue. É então que escreve uma carta a Álvaro Lins a
respeito de um artigo sobre Eça de Queiroz. A
resposta veio em forma de um convite, em 1941, para
escrever um artigo literário para o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Seu artigo é publicado e assim ganhou um emprego.
Iniciava uma publicação regular. Até 1942, Carpeaux escrevia os artigos em francês, que eram
publicados em tradução. Mostrando sua grande inteligência e erudição,
divulgou autores estrangeiros pouco ou mal conhecidos entre o público
brasileiro e tornou-se um grande crítico literário. Nesse mesmo ano de 1942, Otto Maria Carpeaux naturalizou-se brasileiro.
Ainda nesse ano, publica o livro de
ensaios Cinzas do Purgatório.
Entre 1942 e 1944 Carpeaux foi diretor da Biblioteca da Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1943, publica Origens e Fins.
De 1944 a 1949 foi diretor da Biblioteca da Fundação Getúlio Vargas. Em 1947 publica
sua monumental História da Literatura Ocidental – o mais
importante livro do gênero em língua portuguesa – no qual analisa a obra de
mais de oito mil escritores, partindo de Homero até
mestres modernistas, este último sendo o estudo de sua
predileção. Em 1950, torna-se
redator-editor do Correio da Manhã. Em 1951,
publica Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, obra
singular na literatura nacional - reunindo, em ordem cronológica, mais de 170
autores de acordo com suas correntes, da literatura colonial até nossos dias.
Sua produção crítica literária é intensa, escrevendo em jornais semanalmente.
Em 1953,
publicou Respostas e Perguntas e Retratos e Leituras.
Em 1958,
publicou Presenças, e em 1960, Livros
na Mesa.
Carpeaux foi forte opositor do Regime Militar, redigindo
artigos acerca da retrógrada autoridade da então nova ordem militar,
participando de debates e eventos políticos. Contudo, escreveu editoriais em Jornais de 1964 pró-golpe (Basta! e
Fora! foram os títulos deles), Nesse período foi também, ao lado de Antônio Houaiss, coeditor
da Grande Enciclopédia Delta-Larousse.
José Roberto Teixeira Leite, outro
homem de vasta erudição, que conheceu Carpeaux quando vivia no Rio de Janeiro,
descreve a figura do sábio austríaco: Carpeaux
foi um dos homens mais feios que conheci... sua aparência neanderthalesca, todo mandíbulas
e sobrancelhas, fazia a delícia
dos caricaturistas: parecia, sem tirar nem
por, um troglodita, mas troglodita de ler Homero e Virgílio no original,
de se deliciar com Bach e Beethoven e de
diferenciar entre Rubens e Van Dyck. E acrescenta que Carpeaux era totalmente gago, o
que o afastou da cátedra e das universidades para confiná-lo em bibliotecas,
gabinetes e redações.
Cultivou amizade
com grande número de intelectuais de sua época, bem como algumas inimizades.
Não raro, Carpeaux foi identificado como um homem generoso, paciente mas
intransigente quando provocado por fatos e juízos que julgasse absurdos ou
equivocados.
Sua obra em língua
portuguesa é vastíssima e soberbamente rica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário