segunda-feira, 16 de março de 2015

OTTO MARIA CARPEAUX

Literatura

  
Um vienense na literatura Brasileira. Nascido Otto Karpfen na Áustria, foi um dos melhores presentes que o nazismo deu ao Brasil. Chegou aqui aos 40 anos. Não sabia nada de português e era capaz de chamar a cidade que escolheu para viver (Rio de Janeiro) de Fluss von Januar. Quatro anos depois, já lançava um livro em português perfeito. Era feio e gago, mas gago em doze idiomas.
  
Otto Maria Carpeaux (Viena9 de março de 1900 – Rio de Janeiro3 de fevereiro de 1978), nascido  Otto Karpfen, foi um ensaístacrítico literário e jornalista austríaco naturalizado brasileiro.
Foi filho único de Max Karpfen, um profissional liberal judeu, e de Gisela Schmelz Karpfen, católica. Nascido na capital do Império Austro-Húngaro, em 9 de março de 1900, onde cursou o ginasial, Otto Maria Carpeaux (então Otto Karpfen) ingressou na faculdade de direito por sugestão familiar, abandonando-a um ano depois. Entre os anos de 1920 e 1930 estudou no Instituto de Química da Universidade de Viena, mas nunca exerceu a profissão. Nessa época frequentava os círculos literários de Viena e conferências públicas de Karl Kraus. Também estudou filosofia (doutorou-se em 1925), matemática (em Leipzig), sociologia (em Paris), literatura comparada (em Nápoles) e política (em Berlim); além de dedicar-se à música.
Entregou-se intensamente à literatura e ao jornalismo político, carreiras que deixou em Viena com passagens como redator da revista semanal Berichte zur Kultur und Zeitgeschichte articulistas do jornal Neue Freie Presse.



Em março de 1930 casou-se com Helena Carpeaux que o acompanhou por toda a vida. Abandonou o judaísmo em 1933, converteu-se à religião católica e acrescentou Maria e Fidelisa o seu nome, este último por pouco tempo. Tornou-se homem de confiança de dois primeiros-ministros em Viena, Engelbert Dollfuss e Kurt Schuschnigg, respectivamente os últimos primeiros-ministros antes da Aústria ser incorporada ao Reich alemão. Com a queda deste último, foi obrigado a seguir para o exílio.
Em princípios de 1938, foge com a mulher para Antuérpia (Bélgica), onde ainda trabalha como jornalista na Gazet van Antwerpen, maior jornal belga de língua holandesa.
Diante da escalada nazista, Carpeaux se sente inseguro e foge com a mulher, em fins de 1939, para o Brasil. Durante a viagem de navio, estoura a guerra na Europa. Recusando qualquer ligação com o que estava acontecendo no Reich, muda seu sobrenome germânico Karpfen para o francês Carpeaux.
Ao desembarcar, nada conhecia da literatura brasileira, nada sabia do idioma e não tinha conhecidos. Na condição de imigrante, foi enviado para uma fazenda no Paraná, designado para o trabalho no campo.
O cosmopolita e erudito Carpeaux ruma para São Paulo. Inicialmente passa dificuldades; sem trabalho, sobrevive à custa da venda de seus próprios pertences, inclusive livros e obras de arte. Poliglota, o homem que já sabia inglêsfrancêsitalianoalemãoespanholflamengocatalãogalego
provençallatim e servo-croata, em um ano aprendeu e dominou o português, com muita facilidade devido ao conhecimento do latim e de outras línguas derivadas do latim.
Em 1940, tentou ingressar no jornalismo nacional, mas não consegue. É então que escreve uma carta a Álvaro Lins a respeito de um artigo sobre Eça de Queiroz. A resposta veio em forma de um convite, em 1941, para escrever um artigo literário para o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Seu artigo é publicado e assim ganhou um emprego. Iniciava uma publicação regular. Até 1942, Carpeaux escrevia os artigos em francês, que eram publicados em tradução. Mostrando sua grande inteligência e erudição, divulgou autores estrangeiros pouco ou mal conhecidos entre o público brasileiro e tornou-se um grande crítico literário. Nesse mesmo ano de 1942, Otto Maria Carpeaux naturalizou-se brasileiro. Ainda nesse  ano, publica o livro de ensaios Cinzas do Purgatório.


Entre 1942 e 1944 Carpeaux foi diretor da Biblioteca da Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1943, publica Origens e Fins.
De 1944 a 1949 foi diretor da Biblioteca da Fundação Getúlio Vargas. Em 1947 publica sua monumental História da Literatura Ocidental – o mais importante livro do gênero em língua portuguesa – no qual analisa a obra de mais de oito mil escritores, partindo de Homero até mestres modernistas, este último sendo o estudo de sua predileção. Em 1950, torna-se redator-editor do Correio da Manhã. Em 1951, publica Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, obra singular na literatura nacional - reunindo, em ordem cronológica, mais de 170 autores de acordo com suas correntes, da literatura colonial até nossos dias. Sua produção crítica literária é intensa, escrevendo em jornais semanalmente.
Em 1953, publicou Respostas e Perguntas e Retratos e Leituras. Em 1958, publicou Presenças, e em 1960Livros na Mesa.
Carpeaux foi forte opositor do Regime Militar, redigindo artigos acerca da retrógrada autoridade da então nova ordem militar, participando de debates e eventos políticos. Contudo, escreveu editoriais em Jornais de 1964 pró-golpe (Basta! e Fora! foram os títulos deles), Nesse período foi também, ao lado de Antônio Houaiss, coeditor da Grande Enciclopédia Delta-Larousse.
Em 3 de fevereiro de 1978, morre no Rio de Janeiro de ataque cardíaco.
José Roberto Teixeira Leite, outro homem de vasta erudição, que conheceu Carpeaux quando vivia no Rio de Janeiro, descreve a figura do sábio austríaco: Carpeaux foi um dos homens mais feios que conheci... sua aparência neanderthalesca, todo mandíbulas e sobrancelhas, fazia a delícia dos caricaturistas: parecia, sem tirar nem


por, um troglodita, mas troglodita de ler Homero e Virgílio no original, de se deliciar com Bach e Beethoven e de diferenciar entre Rubens e Van Dyck. E acrescenta que Carpeaux era totalmente gago, o que o afastou da cátedra e das universidades para confiná-lo em bibliotecas, gabinetes e redações
Cultivou amizade com grande número de intelectuais de sua época, bem como algumas inimizades. Não raro, Carpeaux foi identificado como um homem generoso, paciente mas intransigente quando provocado por fatos e juízos que julgasse absurdos ou equivocados.

Sua obra em língua portuguesa é vastíssima e soberbamente rica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário