sexta-feira, 13 de março de 2015

QUEM BOTOU ESTE TROÇO AQUI?



Por
Joaci Góes

Um viandante que caminhava em noite tempestuosa, bateu à porta de uma casa à beira da estrada erma e pediu abrigo. Depois de autorizar o estranho a pernoitar na varanda, o casal cedeu aos imperativos da caridade e acolheu o estrangeiro no recinto do lar modesto.
Ao amanhecer, depois de estranhar que o inesperado visitante se escafedera sem se despedir, os anfitriões se deram conta de que o leitãozinho que cevavam com gosto, também desaparecera. As fundas e frescas pegadas ressaltadas pela chuva recente deixaram muito claro o que acontecera. Com a ajuda de amigos, o hospedeiro cavalgou em busca do ladrão ingrato que, certamente, estugara o passo para fugir a mais do que previsível perseguição que se iniciaria “apenas raiasse sanguínea e fresca a madrugada”.
Não demorou e os corcéis alcançaram o salteador que, apanhado com a boca na botija, reagiu indignado: - Quem foi que botou este porco em meu ombro?
Em outro episódio, igualmente conhecido, o adúltero reagiu indignado ao ser flagrado pela esposa, com outra, em exercícios cívicos, na cama do casal:- Quem foi que botou esta mulher aqui?
Vêm de longe as bizantinas buscas para responder a questões do tipo: Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Ou, então, A vida imita a arte ou a arte imita a vida?

Do mesmo modo, ficaremos sem saber se, originariamente, a vida real inspira ao povo histórias como as acima narradas, ou se copia o que a mente humana, no seu fecundo poder criativo, é capaz de conceber.
A reflexão vem a propósito da unânime reação dos já apontados como envolvidos nos escândalos denunciados na Operação Lava Jato: todos os acusados, sem uma exceção sequer, proclamaram  a sua honrosa, completa e total inocência, em nome de tudo que há de mais sagrado em suas vidas: pais, filhos, netos, e a Santíssima Trindade.
Enquanto a sociedade brasileira aguarda, em clima de inédita expectativa, os desdobramentos do longo processo de apuração de responsabilidades, algumas evidências podem ser destacadas:
1-   Estamos diante do maior escândalo de que se tem notícia no mundo, em qualquer época, diante do qual o que conduziu ao impeachment de Fernando Collor e o Mensalão, de tão pequenos, deveriam ter sido remetidos para os tribunais de pequenas causas;
2-   Os bilhões de reais distribuídos a título de propina representam, apenas, 3% do valor do assalto à Petrobrás, sob a forma de superfaturamento. Uma vez conhecido ou estimado o valor do propinoduto, devemos multiplica-lo por 33, para chegarmos ao valor do desfalque que levou nossa maior empresa à bancarrota;
3-   Com poucas exceções, os nomes até agora arrolados nos inquéritos não passam de arraia miúda em relação aos principais responsáveis, ainda por serem anunciados;
4-   Entre os que vierem a ter sua responsabilidade comprovada, há os que não passam de trombadinhas diante dos mais graúdos. O filósofo alemão, Ludwig Andreas Feuerbach, um dos precursores de Marx, ensinou que a quantidade altera a qualidade. Dessa lição decorre que furtar uma boiada é mais grave do que furtar, apenas, um boi.
Este momentoso processo porá à prova a higidez das instituições brasileiras: ao seu término, atingiremos nossa maturidade republicana ou regrediremos ao status de banana‘s Republic, ao lado das coirmãs bolivarianas, como Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Equador, Cuba e, possivelmente, a outrora feliz Argentina.
Tudo na direta dependência da voz das ruas.

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