Por
Joaci
Góes
Um
viandante que caminhava em noite tempestuosa, bateu à porta de uma casa à beira
da estrada erma e pediu abrigo. Depois de autorizar o estranho a pernoitar na
varanda, o casal cedeu aos imperativos da caridade e acolheu o estrangeiro no
recinto do lar modesto.
Ao
amanhecer, depois de estranhar que o inesperado visitante se escafedera sem se
despedir, os anfitriões se deram conta de que o leitãozinho que cevavam com
gosto, também desaparecera. As fundas e frescas pegadas ressaltadas pela chuva
recente deixaram muito claro o que acontecera. Com a ajuda de amigos, o
hospedeiro cavalgou em busca do ladrão ingrato que, certamente, estugara o
passo para fugir a mais do que previsível perseguição que se iniciaria “apenas
raiasse sanguínea e fresca a madrugada”.
Não
demorou e os corcéis alcançaram o salteador que, apanhado com a boca na botija,
reagiu indignado: - Quem foi que botou este porco em meu ombro?
Em
outro episódio, igualmente conhecido, o adúltero reagiu indignado ao ser
flagrado pela esposa, com outra, em exercícios cívicos, na cama do casal:- Quem
foi que botou esta mulher aqui?
Vêm
de longe as bizantinas buscas para responder a questões do tipo: Quem veio
primeiro, o ovo ou a galinha? Ou, então, A vida imita a arte ou a arte imita a
vida?
Do
mesmo modo, ficaremos sem saber se, originariamente, a vida real inspira ao
povo histórias como as acima narradas, ou se copia o que a mente humana, no seu
fecundo poder criativo, é capaz de conceber.
A
reflexão vem a propósito da unânime reação dos já apontados como envolvidos nos
escândalos denunciados na Operação Lava Jato: todos os acusados, sem uma
exceção sequer, proclamaram a sua
honrosa, completa e total inocência, em nome de tudo que há de mais sagrado em
suas vidas: pais, filhos, netos, e a Santíssima Trindade.
Enquanto
a sociedade brasileira aguarda, em clima de inédita expectativa, os
desdobramentos do longo processo de apuração de responsabilidades, algumas
evidências podem ser destacadas:
1-
Estamos diante do maior escândalo de que se tem notícia no mundo, em qualquer
época, diante do qual o que conduziu ao impeachment de Fernando Collor e o
Mensalão, de tão pequenos, deveriam ter sido remetidos para os tribunais de
pequenas causas;
2-
Os bilhões de reais distribuídos a título de propina representam, apenas, 3% do
valor do assalto à Petrobrás, sob a forma de superfaturamento. Uma vez
conhecido ou estimado o valor do propinoduto, devemos multiplica-lo por 33,
para chegarmos ao valor do desfalque que levou nossa maior empresa à
bancarrota;
3-
Com poucas exceções, os nomes até agora arrolados nos inquéritos não passam de
arraia miúda em relação aos principais responsáveis, ainda por serem
anunciados;
4-
Entre os que vierem a ter sua responsabilidade comprovada, há os que não passam
de trombadinhas diante dos mais graúdos. O filósofo alemão, Ludwig Andreas
Feuerbach, um dos precursores de Marx, ensinou que a quantidade altera a
qualidade. Dessa lição decorre que furtar uma boiada é mais grave do que furtar,
apenas, um boi.
Este
momentoso processo porá à prova a higidez das instituições brasileiras: ao seu
término, atingiremos nossa maturidade republicana ou regrediremos ao status de
banana‘s Republic, ao lado das coirmãs bolivarianas, como Venezuela, Nicarágua,
Bolívia, Equador, Cuba e, possivelmente, a outrora feliz Argentina.
Tudo
na direta dependência da voz das ruas.
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