MÚSICA: MPB
Ídolo da geração hippie
anos 70, suas músicas viraram hino da contracultura baiana. Baiano, fez sucesso
no Brasil e no mundo, depois de ter passado fome por dois anos no Rio de
Janeiro.
Raul Santos Seixas (Salvador, 28
de junho de 1945 — São Paulo, 21 de
agosto de 1989) foi um cantor e compositor brasileiro,
frequentemente considerado um dos
pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da
CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é chamado de "Pai do Rock Brasileiro" e "Maluco
Beleza". Sua obra musical é
composta por 17 discos lançados em seus 26 anos de carreira e seu
estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião,
e de fato conseguiu unir ambos os gêneros em músicas como "Let
Me Sing, Let Me Sing"5 . Seu álbum de estreia, Raulzito
e os Panteras (1968), foi produzido quando ele integrava o grupo Os
Panteras, mas só ganhou notoriedade crítica e de público com as músicas
de Krig-ha, Bandolo! (1973), como "Ouro de Tolo",
"Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que
o creditou de "contestador e místico", e isso se deve aos ideais
que vindicou, como a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974),
influenciado por figuras como o ocultista britânico Aleister Crowley.
Raul se
interessava por filosofia (principalmente metafísica e ontologia), psicologia, história, literatura e latim e
algumas crenças dessas correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que
possuía uma recepção boa ou de curiosidade por conta disso. Ele
conseguiu gozar de uma audiência relativamente alta durante sua vida, e mesmo
nos anos 80 continuou produzindo álbuns que venderam bem, como Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987)
e A Panela do Diabo (1989), esse último em parceria com Marcelo
Nova, e sua obra musical tem aumentado
continuamente de tamanho, na medida em que seus discos (principalmente álbuns
póstumos) continuam a ser vendidos, tornando-o um símbolo do rock do país e um
dos artistas mais cultuados e queridos entre os fãs nos últimos quarenta anos.
Em outubro de 2008, a revista Rolling
Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores Artistas da Música
Brasileira, cujo resultado colocou
Raul Seixas figurando a posição 19ª, encabeçando nomes como Milton
Nascimento, Maria Bethânia, Heitor Villa-Lobos e outros. No ano anterior, a mesma revista promoveu a
Lista dos Cem Maiores Discos da Música Brasileira, onde dois de seus álbuns
apareceram Krig-ha, Bandolo! de 1973 atingiu a 12ª
posição e Novo Aeon ficou em 53º lugar , demonstrando que o vigor
musical de Raul Seixas continua a ser considerado importante hoje em dia.
Raul Santos Seixas nasceu às 8 horas da manhã
em 28 de Junho de 1945 numa família de classe média baiana
que vivia na Avenida Sete de Setembro, Salvador.10 Seu
pai, Raul Varella Seixas, era engenheiro da estrada de ferro e sua
mãe, Maria Eugênia Santos Seixas, se dedicava às atividades domésticas. No
próximo mês ele foi registrado no Cartório de Registro Civil de Salvador com o
nome do pai e do avô paterno. Em 16 de setembro do mesmo ano, batizaram-no na
Igreja Matriz da Boa Viagem. Em 4 de dezembro de 1948, Raul
Seixas ganhou um irmão, o único, Plínio Santos Seixas, com quem teria um bom
relacionamento durante sua infância. Os estudos de Raul Seixas começaram
em 1952, onde frequentou o curso primário estudando com a professora Sônia
Bahia. Concluído o curso em 1956, fundou o Club dos Cigarros com
alguns amigos. O trágico percurso escolar de Raul Seixas se iniciaria
em 1957, quando ele ingressou no ginásio Colégio São Bento, onde foi
reprovado na 2ª série por três anos. Um dos motivos da reprovação, segundo
alguns biógrafos, é que ele, em vez de ir assistir as aulas, ouvia rock
and roll — em seus primórdios — na loja Cantinho da Música.11 No
mesmo ano, em 13 de Julho, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o
amigo Waldir Serrão. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, é através de
Serrão que Raul Seixas começou a sair de casa e a manter uma vida social mais
ampla. Segundo Raul, o encontro com Waldir foi fantástico: "me
preparei todo, botei a gola pra cima, botei o topete, engomei o cabelo,
e fiquei esperando ele, mascando chiclete". O Elvis Rock Club
era como uma gangue, que procurava brigas na rua, fazia arruaça,
roubava bugigangas e quebrava vidraças. Embora Raul não gostasse muito
disso, "ia na onda, pois o rock (pelo menos a meu ver)
tinha toda uma maneira de ser".
Então, a família resolveu matricular Raul
num colégio de padres, o Colégio Interno Marista, onde ele alcançou a 3ª série
em 1960, mas acabou repetindo o estágio em 1961. Ao que tudo
indica, nessa época Raul Seixas começou a se interessar pela leitura. O
pai de Raul Seixas amava os livros e possuía uma vasta biblioteca em
casa. Tão logo decifrou o mistério das letras, o garoto pôs-se a ler os
volumes que encontrava na biblioteca do pai Raul. Sendo assim, as
histórias que lia na biblioteca fermentavam sua imaginação e, com os cadernos
do colégio, fazia desenhos, criava personagens, enredos, para depois vender ao
irmão quatro anos mais novo, que acabava ficando interessado e comprava os
esboços. Segundo Raul, um dos personagens principais dessas histórias era
um cientista maluco chamado "Melô" (algo como "amalucado"),
que viajava para diversos lugares imaginários como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis
Ao Cubo, Oceanos de Cores. Segundo Raul, Melô era sua "outra parte, a
que buscava as respostas, o eu fantástico, viajando fora da lógica em uma
maquinazinha em que só cabia um só passageiro... Melô-eu." Plínio
ficava horas ouvindo o irmão contar suas histórias, dentro do quarto dos dois,
e Raul frequentemente encenava os personagens como um ator. Ambos os
irmãos tinham algo em comum: adoravam literatura, mas odiavam a
escola. Mais tarde, já maduro, Raul Seixas diria: "Eu era um fracasso
na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que
aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda série
do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a
odiá-la." De um modo ou de outro, Raul Seixas precisava frequentar a
escola vez ou outra. Em uma determinada ocasião, o pai perguntou a Raul como
ele ia na escola e pediu seu boletim. Raul mostrou um boletim falsificado, com
todas as matérias resultando em um 10. O pai questionava se ele havia
estudado, mas Maria Eugênia interrompia, dizendo algo como "Estudou nada,
ficou aí ouvindo rock o tempo inteiro, essa porcaria desse
béngue-béngue, de élvis préji, de líri ríchi e
gritando essas maluquices." Os pais de Raul, como toda a geração da
época, estranhavam o rock e ele não era muito bem-vindo entre
as famílias.
Raulzito e
os Panteras (1968),
o debute de Raul Seixas.
Embora Raul mantivesse um gosto muito sincero pela
música, seu sonho maior era ser escritor como Jorge Amado. Na sua cidade,
escutavam Luiz Gonzaga todos os dias, nas praças, nas casas, em todos
os estabelecimentos. Enquanto isso, Raul junta-se a cena do Rock que se formava
em Salvador. "Em 54/55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me
atirava no chão imitando Little Richard." Com o passar do tempo, a
banda que chegou a ter diversos nomes, como Relâmpagos do Rock, formadas então
pelos irmãos Délcio e Thildo Gama, passa por várias formações e em
1963, passa a se chamar The Panters, banda que agora já se tornara sensação de
Salvador. A fama se espalha, e a banda é rebatizada pelo nome Os Panteras,
tendo em sua formação definitiva além de Raulzito, os integrantes Mariano
Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba. Em 1967, Raul Seixas começa um
relacionamento com Edith Wisner, filha de um pastor protestante americano. O
pai de Edith não aceita o namoro da filha. Em seis meses, completa o segundo
grau, faz cursinho pré-vestibular e passa em Direito, Psicologia e Filosofia.
Com isso, casa-se com Edith. Logo em seguida, abandona os estudos, volta a
reunir os Panteras e aceita o convite de Jerry Adriani para ir para o Rio de
Janeiro.
Em 1968, Raulzito e Os Panteras gravam seu primeiro
e único disco, Raulzito e Os Panteras. Assinando contrato com a gravadora EMI-Odeon,
após encontrarem Chico Anysio e o rei Roberto Carlos, que os
reconheceu nos corredores de uma grande gravadora. O disco no entanto não
teria sucesso de critica nem de público. Eládio Gilbraz, um dos panteras,
diria: "De um lado havia a inexperiência de quatro rapazes, recém-chegados
da Bahia, falando em qualidade musical, agnosticismo, mudança de conceitos e
sonhos. Do outro lado, uma multinacional que só falava em
"comercial". Talvez não tenha sido o disco que o grupo imaginara, mas
nosso sonho era gravar um disco. A partir daí, Raulzito e Os Panteras passariam
sérias dificuldades no Rio de Janeiro. Raul morava em Ipanema, e ia a pé até o
centro da cidade para tentar divulgar suas músicas, não obtendo
sucesso. Algumas vezes os Panteras recebiam ajuda de Jerry Adriani,
tocando como banda de apoio, o que, segundo o próprio Raul, lhe deu muita
experiência e lhe ajudou a descobrir como se comunicar, pois suas "músicas
eram muito herméticas". Raulzito passaria então fome no Rio de Janeiro (como
mais tarde escreveria em Ouro de Tolo).
Raul Seixas estava totalmente abalado pelo fracasso
com Os Panteras, e a sua volta a Salvador. Escrevia ele: "Passava o dia
inteiro trancado no quarto lendo filosofia, só com uma luz bem fraquinha, o que
acabou me estragando a vista [...] Eu comprei uma motocicleta e fazia loucuras
pela rua." No entanto a sorte começaria a mudar, um dia,
conhece na Bahia um diretor da CBS Discos. Mais tarde ele convidaria Raul
para ser produtor da gravadora. Sem pensar duas vezes, ele faz as malas, junto
a Edith, e volta para o Rio. Raul volta ao Rio para usar seus
enciclopédicos conhecimentos de música como produtor fonográfico. Nos cadernos
de composições de Raul começaria a ser alimentada uma revolução. Esta
seria a segunda chance de Raul, apostando no talento do amigo, Jerry
Adriani convence o então presidente da CBS, Evandro Ribeiro, a dar a
Raulzito um emprego de produtor. Raulzito trabalhou anonimamente por um bom
tempo.
Raul após ter entrado na CBS, fez grandes aliados e
amigos. Ainda em 1968, a dupla Os Jovens e a banda The Sunshines apostaram em
suas letras. No entanto, Raul faria um grande amigo e parceiro: Leno, da
dupla Leno e Lilian. "Raulzito sempre esteve 20 anos adiante de seu
tempo e Leno o compreendia; na verdade, sempre houve uma grande admiração
mútua". Diria Arlindo Coutinho, das relações públicas da CBS. Em seu
compacto duplo Papel Picado, lançado em 1969, Leno registrou Um Minuto Mais,
versão de Raulzito para I Will (nada a ver com a
canção de Paul McCartney). Também não se pode esquecer de Mauro Motta, outro
grande parceiro de Raul nesta fase. Jerry Adriani decide convocar Raulzito
para ser o produtor de seus discos. No álbum de 1969, aproveitou para
gravar uma de suas músicas, Tudo Que É Bom Dura Pouco. Naquela mesma época,
outros ídolos da Jovem Guarda também apadrinharam Raulzito gravando
suas letras como Ed Wilson, Renato e seus Blue Caps, Jerry
Adriani, Odair José. O ano de 1970 marcou o início de uma fase
muito ativa na carreira de Raulzito, como produtor da CBS. Primeiramente, suas
composições passaram a ser gravadas pelos artistas do cast da gravadora. Passou
o ano produzindo discos para Tony & Frankye, Osvaldo Nunes, Jerry Adriani,
Edy Star e Diana, além de escrever uma quantidade enorme de músicas para os
colegas da gravadora. Algumas de muito sucesso, como Doce amor (Jerry
Adriani), Ainda Queima a Esperança (Diana) e Se ainda existe
amor (Balthazar). Raulzito nessa época passa a ter um bom emprego de respeitado
produtor, que conseguira lançar suas composições como Hits na voz de outros
cantores e produzir grandes artistas. Mas, Raulzito não se conformava apenas com
isso, ainda mais quando conheceu o amigo e parceiro Sérgio Sampaio, passando
cada vez mais a realimentar os sonhos de quando ainda morava em Salvador, que
era ser um cantor. Ao lado de Leno, Raulzito participa do disco Vida e
Obra de Johnny McCartney, disco solo de Leno, em que ambos buscam novos
caminhos e experimentações. Juntos assinam letras e composições em parcerias.
Foi o primeiro Lp gravado em oito canais no Brasil. As letras do disco
foram censuradas que acabou não sendo lançado na época.
Outro projeto mal sucedido seria o LP Sociedade
da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, lançado em 1971, com
a parceria de Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star,
onde Raul Seixas deu inicio a produção de um projeto de ópera-rock, tendo as
letras mutiladas pela censura do Regime Militar. O Sociedade Grã Ordem
Kavernista era um disco Anárquico, inspirado em Frank Zappa e o então
cultuado Disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts
Club Band dos Beatles misturado a elementos brasileiros,
como samba, chorinho, baião. Quando lançado, o disco não obteve sucesso de
público e nem de crítica. Foi abandonado à própria sorte até mesmo pela
gravadora, cujos executivos tanto no Brasil como na matriz, nos Estados
Unidos não gostaram do resultado final. Com isso, não houve investimento
em divulgação do trabalho nas rádios e programas musicais da época. Muitas
lendas cercam esse disco que traz 11 faixas intercaladas por vinhetas. A
principal delas diz que Raul, Sérgio, Edy e Míriam gravaram as músicas às
escondidas, à noite, sem que ninguém na CBS soubesse e que por esse motivo,
Raul Seixas, então um bem-sucedido produtor da gravadora, teria sido demitido.
No entanto, segundo Edy Star, único sobrevivente dos quatro artistas, o
trabalho foi profissional e feito com o conhecimento da gravadora. E Raul não
foi demitido. Tanto que no ano seguinte, em 1972, produziu o
compacto Diabo no Corpo, de Míriam Batucada, e o LP de estreia da
cantora Diana, na própria CBS. Raul só saiu da gravadora meses depois
desse último trabalho, sendo contratado pela RCA Victor.
Krig-ha,
Bandolo! (1973),
primeiro disco de Raul Seixas com repercussão crítica e de público.
Em 1972, Raul Seixas decide participar
do Festival Internacional da Canção, sendo convencido por Sérgio
Sampaio. O cantor compõe duas músicas, "Let Me Sing, Let Me Sing",
defendida pelo próprio Raul e "Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo",
defendida por Lena Rios & Os Lobos. Ambas chegam a final, obtendo sucesso
de critica e de público. Rapidamente, Raul foi contratado pela gravadora Philips. Na
época, ele também se interessa por um artigo sobre extraterrestres publicado
na revista A Pomba e tem o seu primeiro contato com o
escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu parceiro musical.
No ano de 1973, Raul consegue um grande
sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-ha,
Bandolo!. A música possui uma letra quase autobiográfica, mas que também
debocha da Ditadura e do "Milagre Econômico". O mesmo LP,
continha outras músicas que se tornaram grandes sucessos, como:
"Metamorfose Ambulante", "Mosca na Sopa" e "Al
Capone". Raul Seixas finalmente alcança grande repercussão nacional,
graças a divulgação da imagem do cantor como ícone popular. Porém, logo a
imprensa e os fãs da época, foram aos poucos percebendo que Raul não era apenas
um cantor e compositor.
Ainda em 1973, Raul resolve homenagear algumas
músicas clássicas do rock americano e brasileiro no disco Os 24
Maiores Sucessos da Era do Rock. Raul foi, no entanto, proibido pela gravadora
de assinar seu nome no disco de covers, pois ela achou que o álbum poderia
prejudicar as vendas de Krig-ha, Bandolo!. A solução foi creditar o
álbum a uma certa banda chamada Rock Generation, com o nome de Raul
presente apenas na contracapa, como diretor de produção. O álbum não teve
qualquer tipo de divulgação e acabou inicialmente sendo esquecido nas lojas,
porém com os sucessos posteriores de Raul, alcançando grandes vendagens, a
gravadora Philips acabou por divulgar melhor o trabalho.
No ano de 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho
criam a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do
bruxo inglês Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da
Lei. O cantor foi levado pelo escritor a conhecer uma ordem filosófica baseada
na Lei de Thelema, desenvolvida por Crowley. A Sociedade Alternativa,
com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a
aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade
das Estrelas, uma comunidade onde a única lei era: “Faz o que tu queres, há
de ser tudo da lei.” Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade
Alternativa com a música de mesmo nome. A obsessão de Raul Seixas e Paulo
Coelho em construir “uma verdadeira civilização thelêmica”, evidentemente,
trouxe problemas com a Censura. A letra da música "Como Vovó já
Dizia" composta pelos dois teve de ser mudada. Logo no show de lançamento,
a polícia apreendeu o gibi/manifesto "A Fundação de Krig-Ha" e o
queimou como material subversivo. A Ditadura, então, através do DOPS (Departamento
de Ordem Política e Social) prendeu Raul e Paulo, pensando que a Sociedade
Alternativa fosse um movimento armado contra o governo.
Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados
para os Estados Unidos, com suas respectivas esposas, Edith Wisner e
Adalgisa Rios. Muitas histórias são contadas sobre a estadia de Raul Seixas nos
Estados Unidos, como seu encontro com John Lennon, mas ninguém sabe ao
certo se são verdadeiras. No entanto, o LP Gita gravado
poucos meses antes faz tanto sucesso, que forçou a Ditadura a trazê-los de
volta para o Brasil. O álbum Gita rendeu à Raul um disco
de ouro, após vender 600.000 cópias, sendo considerado o LP de maior sucesso de
sua carreira. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os Estados
Unidos com a filha do casal, Simone.
Em 1975, Raul Seixas casa-se com Glória
Vaquer, e grava o LP Novo Aeon, onde compôs junto com Paulo Coelho,
uma de suas músicas mais conhecidas, "Tente Outra Vez", que seria
creditada juntamente com Marcelo Motta, por quem eram discipulados na Astrum
Argentum (AA). O LP, porém, vendeu menos de 60 mil cópias. Ainda em 1975,
Raul lê um manifesto e canta a Sociedade Alternativa no documentário Ritmo
Alucinante, que foi um festival de rock realizado no Rio de Janeiro, gravado no
álbum Hollywood Rock, lançado no mesmo ano. Em1976, Raul supera a
má-vendagem do disco Novo Aeon com o álbum Há Dez Mil Anos
Atrás. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet. Chega então ao
fim, o seu contrato com a gravadora Philips e sua parceria com Paulo
Coelho, embora continuassem amigos (ou inimigos íntimos).
Jay Vaquer, músico e cunhado de Raul na época,
coletou material para fazer um novo disco, Raul Rock Seixas, que diziam
ser um álbum feito de resto de gravações, mas na verdade a história era outra.
Raul escolheu as músicas, e Jay começou a fazer os arranjos. Porém, antes de
Raul Seixas e Jay Vaquer terminarem de mixá-lo devido à suas ausências por
causa dos shows, a Philips lançou o disco sem avisá-los, sob o selo
da Fontana/Phonogram, mixando-o por conta própria. Segundo Jay Vaquer, isso
prejudicou o trabalho que ambos haviam planejado anteriormente, destruindo o
LP, porque finalmente seu nome estava num LP de Raul como produtor, arranjador,
e guitarrista, e seu trabalho foi muito mal representado.
Em 1977, nasce no Brasil uma nova gravadora,
a WEA, que se interessa em contratar Raul Seixas. Por volta deste período,
intensifica-se a parceria com o amigo Cláudio Roberto, com quem Raul compôs
várias de suas canções mais conhecidas. Juntos, realizaram o LP O Dia
Em Que A Terra Parou. A crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o
mesmo nível dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciam com “Maluco
Beleza”, “Sapato 36” e a faixa-título.
Naquele final de década as coisas começaram a ficar
ruins para Raul. A partir do ano de 1978, começa a ter problemas de saúde
devido ao alcoolismo lhe causando a perda de 1/3 do pâncreas. Raul passa alguns
meses numa fazenda na Bahia, para se recuperar da pancreatite. Ele
separe-se de Glória, que, assim como Edith, também voltou aos Estados Unidos,
levando a filha Scarlet. Neste ano, conhece Tania Menna Barreto, com quem passa
a viver. Lança o LP Mata Virgem que conta com a volta de Paulo
Coelho, porém, ambos chegam à conclusão, de que essa parceria já não tinha mais
como dar certo. Além disso, a má divulgação atrapalhou as vendas do disco e a
crítica também não ajudou.
No ano de 1979, Raul separa-se de Tania.
Começa então, a depressão de Raul Seixas junto com uma internação para tratar
do alcoolismo. Conhece Ângela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta
companheira. Lança seu último LP com a WEA, Por Quem os Sinos Dobram,
em parceria com o amigo Oscar Rasmussen e logo após, rescinde o contrato com a
gravadora.
Em 1980, assina novamente contrato com a CBS (desta
vez como cantor) lançando mais um álbum, Abre-te Sésamo, que contém
outros sucessos e têm as faixas "Rock das Aranha" e "Aluga-se"
censuradas. Logo depois, o contrato é rescindido. Em 1981, nasce a terceira
filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika. Em 1982, faz um show na praia
do Gonzaga, em Santos, reunindo mais de 150 mil pessoas. No mesmo ano, Raul
apresenta-se bêbado em Caieiras, São Paulo, e é quase linchado pela plateia
que não acredita que Raul é o próprio, mas um impostor. Desde 1980, Raul estava
sem gravadora e agora também sem perspectiva de um novo contrato. Mergulhado na
depressão, Raul afunda-se nas drogas. Porém, em 1983, Raul é convidado
para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois, Raul é convidado para
gravar o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da Rede Globo,
onde canta a música "Carimbador Maluco". O álbum Raul Seixas (1983),
que continha a canção, dá à Raul mais um disco de ouro. Em 1984, grava o
LP "Metrô Linha 743" pela gravadora Som Livre. Mas depois, Raul
teve as portas fechadas novamente, devido ao seu consumo excessivo de álcool e
constantes internações para desintoxicação. Também em 1984, a Eldorado lança o
disco Ao Vivo - Único e Exclusivo.
Em 1985, separa-se de Kika Seixas. Faz um show
em 1 de dezembro 1985, no Estádio Lauro Gomes, na cidade
de São Caetano do Sul. Só voltaria a pisar no palco no ano de 1988,
ao lado de Marcelo Nova. Conseguindo um contrato com a gravadora Copacabana,
em 1986 (de propriedade da EMI), grava um disco que foi lançado
somente no ano seguinte, devido ao alcoolismo de Raul. O disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! faz
grande sucesso entre os fãs, chegando a ganhar disco de ouro e estando presente
até em programas de televisão, como o Fantástico. Nesta época,
conhece Lena Coutinho, que se torna sua companheira. A partir desse ano,
estreita relações com Marcelo Nova (fazendo uma participação no disco Duplo
Sentido, da banda Camisa de Vênus). Um ano mais tarde, 1988, já separado
de Lena, faz seu último álbum solo, A Pedra do Gênesis. A convite
de Marcelo Nova, faz alguns shows em Salvador, após três anos sem pisar num
palco. No ano de 1989, faz uma turnê com Marcelo Nova, agora parceiro
musical, totalizando 50 apresentações pelo Brasil. Durante os shows, Raul
mostra-se debilitado. Tanto que só participa de metade do show, a primeira
metade é feita somente por Marcelo Nova.
Universo
Alternativo -
fantasia sobre o "Profeta" Raul Seixas.
As 50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele
que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi
intitulado de A Panela do Diabo, que foi lançado pela Warner
Music Brasil no dia 22 de agosto de 1989. Na manhã do dia 21 de agosto,
Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama, por volta das oito horas da
manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca:
seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter
tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda
fulminante. O LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo
a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também
a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua
carreira. Raul foi velado pelo resto do dia no Palácio das Convenções do
Anhembi. No dia seguinte seu corpo foi levado por via aérea até Salvador e
sepultado às 17 horas, no Cemitério Jardim da Saudade.
Festival
em Belo Horizonte, realizado em2009 em homenagem a Raul Seixas. Dois
participantes estão caracterizados segundo a fisionomia de Raul.
Depois de sua morte, Raul permaneceu entre as
paradas de sucesso. Foram produzidos vários álbuns póstumos, como O Baú
do Raul (1992), Raul Vivo (1993 - Eldorado), Se
o Rádio não Toca... (1994 - Eldorado) e Documento (1998).
Inúmeras coletâneas também foram lançadas, como Os Grandes Sucessos de
Raul Seixas de (1993), a grande maioria sem novidades, mas algumas com
músicas inéditas como As Profecias (com uma versão ao vivo de
"Rock das Aranhas") de 1991 e Anarkilópolis (com
"Cowboy Fora da Lei Nº2") de 2003. Sua penúltima mulher, Kika, já
produziu um livro do cantor (O Baú do Raul), baseado em escritos dos
diários de Raul Seixas desde os seis anos de idade até a sua morte. Em 2004, o
canal a cabo Multishow promoveu um show especial de tributo a Raul,
intitulado O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas. O show,
gravado na Fundição Progresso (Rio de Janeiro) e lançado em CD e DVD,
contou com artistas como Toni Garrido, CPM 22, Marcelo D2, Gabriel
o Pensador, Arnaldo Brandão, Raimundos, Nasi, Caetano
Veloso, Pitty e Marcelo Nova (os três últimos baianos, como
Raul). Mesmo depois de sua morte, Raul
Seixas continua fazendo sucesso entre novas gerações. Vinte anos depois de sua
morte, o produtor musical Mazzola, amigo pessoal de Raul, divulgou a
canção inédita "Gospel", censurada na década de 1970. A canção foi
incluída na trilha sonora da telenovela Viver a Vida,
da Rede Globo. Em 2013, o
cantor americano Bruce Springsteen cantou Sociedade Alternativa na abertura de
seu show no Rock In Rio 2013. Em
junho de 2014, a Record definiu a música "Tente outra vez", como tema
de abertura da novela "Vitória".
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