ESPECIAL:
Mas,
cuidado com o acarajé!
Luiz
Carlos Facó dando uma de crítico culinário
Nestes
tempos bicudos, de inflação a La Dilma, de preços altíssimos, quase atingindo
as nuvens, preparamos, para quem dispensa o chique ou o luxo, programas
(recomendações) e um alerta para se fazer ou não nesta cidade de Todos os
Santos e Orixás, gastando relativamente pouco. Não esperem das opções aqui
indicadas nada mais que o sabor bem temperado da legítima culinária baiana.
Banquete africano:
“Na língua
ioruba, a palavra ajeum significa comida (ou o próprio ato de comer) e tem
forte ligação com a noção de oferenda ao próximo. Com esse espírito, o Ajeum da
Diáspora recebe, somente aos domingos, trinta comensais para uma refeição de
inspiração africana. O restaurante funciona na casa da dona e anfitriã Angélica
Moreira, nascida no interior do estado. O prato principal é sempre, estrela no
caso, é uma galinhada de se lamber os beiços, temperada de véspera, servida ao
lado de quiabo sobre um pirão preparado com caldo de mocotó. A batida de
cachaça, tamarindo e cebolinha abre o apetite. - É comida afetiva, que minha mãe e minha
avó faziam, revela-nos toda orgulhosa a
experiente Angélica.
O almoço não
chega aos quarenta reais por pessoa, mas é um repasto supimpa.
Rua Amparo
do Tororó, 157, Salvador.
Lambreta do Dom Papito
Sem sair da
linha genuinamente regional, há outros cantinhos bem aconchegantes, onde se
pode apreciar outros sabores igualmente marcantes. É o caso da lambreta do D.
Papito. Das 600 dúzias do molusco extraído dos mangues locais, a receita mais
procurada é também a mais simples: cozida no vapor com azeite de oliva e
pimenta, em dose dupla. Sobre o preço só posso afirmar que é aceitável.
Acarajé de Cira (atenção)
Muitos
consideravam o melhor acarajé da Bahia. Sua fama ao ultrapassar os limites
regionais, contrariamente ao que se deveria esperar, perdeu a qualidade. Na
última vez que lá estive, em 1º de fevereiro deste ano, depois de enfrentar uma
fila quilométrica, ao comer o acarajé, mensurei para menos o custo benefício
daquele quitute. A massa não estava airada, fofa, era compacta, como dizemos
nós baianos, tinha parecença de “bate-estaca”. Uma pena para quem está
acostumado a apreciar o mais rico ícone da cozinha baiana, quando bem feito.
Um
derradeiro alerta aos iniciantes e veteranos viciados ou admiradores da típica
comida da Bahia: jamais se aventurem a pedir qualquer prato da comida regional
num restaurante sob a responsabilidade de chefs renomados. Eles, por vaidade, visam
continuadamente imprimir à receita original ou acrescentar algo mais ao que já
é bom, resultando, as mais das vezes, num fiasco. Procurem, por precaução, pequenos
restaurantes, lá tem comida de raiz, cuja cozinheira traz consigo a receita,
apreendida dos seus ancestrais, original. E, quase todos eles, estão no Mercado
Modelo, no Pelourinho ou em pequenos botecos, salvo raras exceções. Sejam
prudentes.
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