O jogo
dos reis, rainhas e bispos...
Xadrez é
um jogo de tabuleiro de natureza recreativa e competitiva para dois
jogadores, sendo também conhecido como Xadrez Ocidental ou Xadrez
Internacional para distingui-lo dos seus predecessores e de outras
variantes da atualidade. A forma atual do jogo surgiu no Sudoeste da Europa na
segunda metade do século XV, durante o Renascimento, depois de ter
evoluído de suas antigas origens persas e indianas. O Xadrez pertence à mesma
família do Xiangqi e do Shogi e, atualmente segundo
os historiadores do enxadrismo (ou xadrezismo ), todos
eles se originaram do Chaturanga, que se praticava na Índia no século
VI d.C.
O xadrez é um dos jogos mais populares do mundo,
sendo praticado por milhões de pessoas em torneios (amadores e profissionais), clubes, escolas,
pela internet, por correspondência e informalmente. Há uma estimativa de
cerca de 605 milhões de pessoas em todo o mundo que sabem jogar xadrez e
destas, 7,5 milhões são filiadas a uma das federações nacionais que existem em
160 países em todo o mundo.
Características de arte e ciência são
encontradas nas composições enxadrísticas e em sua teoria que abrange
aberturas, meio-jogo e finais, as fases em que subdividem o transcorrer do
jogo. Na terminologia enxadrística, os jogadores de xadrez são conhecidos como enxadristas (ou xadrezistas).
O xadrez, por ser um jogo de estratégia e tática, não envolve o
elemento sorte. A única exceção, nesse caso, é o sorteio das cores no
início do jogo, já que as brancas sempre fazem o primeiro movimento e teriam,
em tese, uma pequena vantagem por isso4 . Essa teoria
é suportada por um grande número de estatísticas, embora alguns
especialistas não aceitem a existência de tal vantagem.
A partida de xadrez é disputada em um tabuleiro de
casas claras e escuras, sendo que, no início, cada enxadrista controla
dezesseis peças com diferentes formatos e características. O objetivo da
partida é dar xeque-mate (também chamado de mate) no
adversário. Teóricos do enxadrismo desenvolveram uma grande variedade de
estratégias e táticas para se atingir este objetivo, muito embora, na prática,
ele não seja um fato muito comum, já que os jogadores em grande desvantagem ou
iminência de derrota têm a opção de abandonar (desistir) a partida, antes de
receberem o mate.
As competições enxadrísticas oficiais tiveram
início ainda no século XIX, sendo Wilhelm Steinitz considerado o
primeiro campeão mundial de xadrez. Existe ainda o campeonato internacional por
equipes realizado a cada dois anos, a Olimpíada de Xadrez. Desde o início
do século XX, duas organizações de caráter mundial, a Federação
Internacional de Xadrez e a Federação Internacional de Xadrez
Postal vêm organizando eventos que congregam os melhores enxadristas do
mundo. O atual campeão do mundo (2013) é o noruegues Magnus Carlsen e
a campeã mundial (2013) é a chinesa Hou Yifan.
O enxadrismo foi reconhecido como esporte pelo Comitê
Olímpico Internacional em 2001, tendo sua olimpíada específica
e campeonatos mundiais em todas as suas categorias.
O Dia Internacional do Enxadrismo é
comemorado todos os anos no dia 19 de novembro, data de nascimento
de José Raúl Capablanca, considerado um dos maiores enxadristas de todos
os tempos e o único hispano-americano a se sagrar campeão mundial.
No Brasil, o I Congresso Brasileiro de Cultura e Xadrez instituiu o
dia 17 de agosto como o Dia Nacional do Livro de Xadrez.
Jogo de Xadrez com tabuleiro, peças no modelo Staunton em
suas casas iniciais e um relógio de competição.
O Rei, a
peça mais importante no Xadrez.
O brâmane indiano Lahur Sessa criando o Chaturanga,
predecessor do Jogo de Xadrez (na concepção do artista brasileiro Thiago Cruz, 2007).
Existem diversas mitologias associadas à
criação do xadrez, sendo uma das mais famosas aquela que a atribui a um jovem brâmane indiano
chamado Lahur Sessa. Segundo a
lenda, contada em O Homem que Calculava, do escritor e matemático
brasileiro Malba Tahan, numa província indiana chamada Taligana havia
um poderoso rajá que havia perdido o filho em batalha. O rajá
estava em constante depressão e passou a descuidar-se de si e
do reino.
Depois que
foram feitos os cálculos, os sábios do rajá ficaram atônitos com o
resultado que a quantidade grãos havia atingido, pois, segundo eles, toda
a safra do reino durante 2.000 anos não seriam suficientes para
cobri-la. Impressionado com a inteligência do brâmane, o rajá o
convidou para ser o principal vizir do reino, sendo perdoado por Sessa de sua
grande dívida em trigo.
Diz uma
outra lenda que a criação do xadrez deve-se ao grego Palamedes, que
teria inventado o jogo de xadrez como um passatempo para distrair os príncipes
e seus soldados durante o longo período que durou o cerco imposto
pelos gregos a cidade-estado de Troia. Os gregos foram os primeiros a documentar a
existência do jogo. O poeta Homero descreve no primeiro livro da
Odisseia uma partida de xadrez entre os pretendentes da rainha Penélope, às
portas da casa do esposo Ulisses, em Ítaca. Já o dramaturgo Eurípedes,
em sua tragédia Ifigênia em Áulis, apresenta dois
personagens, Ajax e Protesilau, disputando uma partida de
xadrez.
Já uma terceira lenda atribui a invenção do jogo ao
deus Marte ou Aries que foi inspirado pela dríade Caissa.
Trata-se de uma lenda contemporânea, tendo sido criada em 1763 por
Sir William Jones, um famoso orientalista britânico, que publicou durante a
juventude, quando ainda estudava na Universidade de Oxford, um longo poema
intitulado Caíssa sobre uma encantadora ninfa dos carvalhos que
habitava nos bosques da antiga Trácia. Caíssa e sua associação à
criação do jogo de xadrez adquiriu enorme popularidade nos países anglófonos
após as citações de Petter Pratt em seu livro Studies of Chess (Londres, 1803)
e George Walker em Chess and Chessplayers (Londres, 1950).
Posteriormente, na França, a musa foi citada por La Bourdonnais, Mery,
Saint Aimant, dentre outros, em artigos escritos na La Palamède, a
primeira revista do mundo dedicada ao xadrez. Desta forma, o jogo de xadrez
também veio a ser conhecido poeticamente como a Arte de Caíssa.
Nobres egípcios jogando uma forma primitiva de xadrez, segundo a concepção
artística de Sir Lawrence Alma-Tadema, (1879).
Embora diversas civilizações antigas tenham sido
apontadas como o berço do xadrez, tais como o Antigo Egito e a China
dinástica, na atualidade a maioria dos pesquisadores concorda que o jogo tenha
se originado na Índia por volta do Século VI d.C., numa antiga
forma de xadrez com regras diferentes das atuais e denominado Chaturanga em sânscrito.
Posteriormente o Chaturanga difundiu-se na Pérsia durante
o Século VII, recebendo o nome persa Shatranj,
provavelmente com regras diferentes em relação ao jogo indiano. O Shatranj,
por sua vez, foi assimilado pelo Mundo Islâmico após a conquista da
Pérsia pelos muçulmanos, porém as peças se mantiveram durante muito tempo com
os seus nomes persas originais. Dentre os praticantes de Shatranj à época,
aqueles que mais se notabilizaram foram al-Razi, al-Adli e o historiador al-Suli e
seu discípulo e sucessor al-Lajlaj. Diversos estudos foram feitos por al-Suli
com o objetivo de compreender os princípios das aberturas e os finais de
partida, além de classificar os praticantes de Shatranj em cinco categorias
segundo a sua força de jogo.
Na passagem do primeiro milênio da nossa era, o
jogo já se tinha difundido por toda a Europa e atingido a Península
Ibérica no Século X, sendo citado no manuscrito do Século XIII,
o Libro de los juegos, que discorria sobre o Shatranj,
entre outros jogos.
Uma teoria alternativa sustenta que o xadrez surgiu
na China e se espalhou para Ásia Central e chegou à Pérsia no
século VII. O especialista em xadrez Samuel Howard Sloan afirma que o xadrez
(anterior ao chaturanga) foi criado na China em 204-203 a.C. pelo
general Han Xin, embora a maioria dos especialistas ocidentais não aceite essa
tese. Há duas referências ao xadrez na antiga literatura chinesa. A primeira
foi de uma coleção de poemas conhecida como "Chu Chi" durante a Dinastia
Chou (1046 - 255a.C.). A segunda é de um famoso livro conhecido como
"Shuo Yuan". Ambos são bem conhecidos na literatura chinesa.
Acredita-se que o xadrez chegou à Pérsia em
torno do século VII. Sua chegada lá se deu num momento oportuno, pois o islamismo estava
em seu início e começava a se expandir para a Índia. Finalmente, o xadrez
chegou ao ocidente, provavelmente levado de caravana através do deserto de
Gobi até o Uzbequistão, onde as mais antigas peças conhecidas,
inclusive um elefante "em pé" datado do século II foram encontradas.
De lá cruzou o Afeganistão, chegando à Pérsia por volta do
século VII. A língua indiana, o hindi, é substancialmente derivado do
Persa. A história daquela região nos diz que naquele período da história a
maior parte das coisas passava da Pérsia para a Índia, e não o
contrário. O xadrez também atravessou da Pérsia para a Etiópia, onde uma
forma simples de xadrez, na qual ambos os lados se movem simultaneamente e o
mais rápido possível, ainda é jogada. Suspeita-se, contudo, que o xadrez etíope
na verdade não é realmente um jogo de xadrez como nós o entendemos.
O chaturanga apareceu na Índia no século
VI. Há uma profusão de material literário disponível em sânscrito, indo
até 1500 a.C. Se o chaturanga tivesse existido antes do
século VI, é quase certo que isso teria sido mencionado em algum lugar.
Há muitos tipos de xadrez: xadrez ocidental, xadrez
turco, xadrez árabe (Shatranj), xadrez chinês (Xiangqi), xadrez japonês (Shogi),
xadrez indiano (Chaturaji), xadrez indonésio e possivelmente até xadrez etíope.
Há muitas semelhanças entre todos esses jogos, certamente todos eles têm uma
origem comum.
Enxadristas árabes disputando uma partida de xadrez, na concepção
de Ludwig Deutsch, (1896).
As peças no jogo antecessor ao xadrez eram muito
limitadas em seus movimentos: o elefante (o antecessor do moderno bispo)
somente podia mover-se em saltos por duas casas nas diagonais, o vizir (o
antecessor da dama) somente uma casa nas diagonais, os peões não
podiam andar duas casas em seu primeiro movimento e não existia ainda o roque.
Os peões somente podiam ser promovidos a vizir que era a peça mais fraca,
depois do peão, em razão da sua limitada mobilidade.
Por volta do ano de 1200, as regras do xadrez
começaram a sofrer modificações na Europa e aproximadamente em 1475, deram
origem ao jogo assim como o conhecemos nos dias de hoje. As regras modernas
foram adotadas primeiramente na Itália (ou, segundo outras fontes,
na Espanha): os peões adquiriram a capacidade de mover-se por duas casas
no seu primeiro movimento e de tomar outros peões en passant,
enquanto bispos e damas obtiveram sua mobilidade atual. A dama tornou-se a
peça mais poderosa do jogo. Estas mudanças rapidamente se difundiram por toda a
Europa Ocidental, com exceção das regras sobre o empate, cuja diversidade de
local para local somente se consolidou em regras únicas no início do Século
XIX.
Por esta época iniciou-se o desenvolvimento da
teoria enxadrística. A mais antiga obra impressa sobre o xadrez, Repetición
de Amores y Arte de Ajedrez, escrito pelo sacerdote espanhol Luís de
Lucena, foi publicado em Salamanca no ano de 1497. Lucena e
outros antigos mestres do Séculos XVI e XVII, como o
português Pedro Damiano de Odemira, os italianos Giovanni Leonardo Di
Bonna, Giulio Cesare Polerio, Gioacchino Greco e o bispo
espanhol Ruy López de Segura, desenvolveram elementos de aberturas e
defesas, tais como Abertura Italiana, Ruy López e o Gambito
do Rei, além de terem feito as primeiras análises sobre os finais.
Templários disputando uma partida de xadrez numa iluminura do Libro
de los juegos (1283).
No Século XVIII, a França passou a
ocupar o centro dos acontecimentos enxadrísticos. Os mais importantes mestres
eram o músico André Philidor, que descobriu a importância dos peões na
estratégia do xadrez, e Louis de la Bourdonnais que venceu uma
famosa série de matches contra o mais forte enxadrista britânico
da época, Alexander McDonnell, em 1834. O centro da vida enxadrística
nesse período eram as coffee houses nas maiores cidades
europeias, dentre elas o Café de la Régence em Paris e
o Simpson’s Divan em Londres.
Durante todo o Século XIX, as entidades
enxadrísticas se desenvolveram rapidamente. Diversos clubes de xadrez e vários
livros sobre enxadrismo foram publicados. Passaram a ocorrer matches por
correspondência entre cidades, tais como o ocorrido entre o London
Chess Club contra o Edinburgh Chess Club em 1824. As
composições de xadrez tornaram-se comuns nos jornais, nos quais Bernhard
Horwitz, Josef Kling e Samuel Loyd compuseram alguns dos
mais famosos problemas de xadrez daquela época. No ano de 1843, a primeira
edição do Handbuch des Schachspiels foi publicada, escrita
pelos mestres germânicos Paul Rudolf von Bilguer e Tassilo von
Heydebrand, sendo considerada a primeira obra completa sobre a teoria
enxadrística.
Benjamin Franklin disputando uma partida de xadrez, quadro do artista Edward Harrison
May (1824-1887).
O primeiro torneio moderno de enxadrismo ocorreu em
Londres em 1851. O campeão foi o alemão Adolf Anderssen,
relativamente desconhecido à época, sendo aclamado como o melhor enxadrista
do mundo. O estilo de jogo dessa época é o chamado romântico, em que os
jogadores saíam à caça do rei adversário através de ataques diretos, muitas
vezes entregando material (peças e peões) para abrir linhas de ataque e atrasar
a defesa adversária. Andersen foi um mestre do xadrez romântico, realizando
muitas combinações brilhantes com ataques de mate. Seu estilo enérgico e
brilhante tornou-o muito popular e suas partidas repletas de sacrifícios, tais
como a Imortal ou a Sempre-viva, foram consideradas
como as mais altas realizações da arte enxadrística. A Imortal é
citada por alguns autores como a mais famosa partida da história do enxadrismo.
Uma visão mais profunda sobre a estratégia
enxadrística veio com dois jovens enxadristas: Paul Morphy e Wilhelm
Steinitz.
O Imperador Germânico Oto IIjogando xadrez com uma cortesã num
a iluminura de 1320.
Rei europeu disputando
uma partida de xadrez numa iluminura do Liber de Moribus, (aprox. 1300).
O norte-americano Morphy, um extraordinário
prodígio, venceu todos seus oponentes – incluindo o próprio Anderssen, a quem
derrotou em uma série de partidas quando realizou um giro pela Europa. Sua
curta carreira se deu entre os anos de 1857 e 1863 e,
depois de uma segunda viagem vitoriosa à Europa, Morphy retornou a Nova
Orleans, sua cidade natal, e abandonou por completo o xadrez. O sucesso de
Morphy originou-se de uma combinação de ataque fulminante e profunda
estratégia.29O que o diferenciava dos demais mestres românticos era
uma apurada noção de tempo e uma habilidade ímpar para jogar posições abertas,
baseando seus ataques no cálculo exato dos lances futuros.
A concepção estratégica do xadrez foi mais tarde
reinventada pelo mestre e teórico austríaco Wilhelm Steinitz. No início de sua
carreira, Steinitz também jogava no estilo romântico, mas aos poucos
desenvolveu um novo entendimento, chamado posicional. Segundo ele, um ataque
prematuro não terá sucesso se não for baseado em fraquezas na posição
adversária. Em vez de partir para a agressão frontal, Steinitz procurava
estabelecer superioridade no centro do tabuleiro e daí se impor ao adversário.
A proposta teve pouca aceitação no início, mas o sucesso do próprio Steinitz
mostrou que o jogo posicional superava o estilo romântico, expondo as fraquezas
que os jogadores criavam ao tentar o ataque a todo custo.
Steinitz iniciou uma outra importante tradição:
após o seu triunfo sobre o proeminente mestre alemão Johannes Zukertort,
em 1886, foi considerado como o primeiro campeão mundial de xadrez. Ele
defendeu seu título com sucesso por duas vezes contra outro importante mestre
da época, o russo Mikhail Tchigorin, considerado o precursor da escola
russa. Steinitz veio perder a coroa somente em 1894 para um jovem filósofo
e matemático alemão, Emanuel Lasker, que manteve o seu título por 27 anos,
a mais longa permanência como campeão do mundo de todos os tempos. É preciso
lembrar que, nessa época, o campeonato mundial não era regulado por uma
federação nem havia regras definidas para sua disputa. O campeão aceitava ou
não um desafio, normalmente exigindo que o desafiante providenciasse a bolsa de
prêmios e as condições de jogo. Lasker beneficiou-se dessa circunstância
porque, embora tenha colocado o título várias vezes em disputa, evitou os
adversários mais perigosos: o também alemão Siegbert Tarrasch, que teve sua
melhor fase na virada do século, e o polonês Akiba Rubinstein.
Lasker foi o primeiro enxadrista a utilizar métodos
psicológicos contra seus adversários. Seu estilo era pouco compreendido na
época e ainda hoje suscita discussões. Ele nem sempre fazia o lance mais forte
disponível na posição: procurava jogar da maneira mais incômoda ao adversário e
em várias ocasiões jogou de forma provocativa, atraindo o oponente para um
ataque precipitado ou uma formação com pontos fracos. Lasker foi um mestre do
contra-ataque e fez uso brilhante dessa habilidade para se impor aos
adversários.
Mas foi o prodígio cubano, o diplomata José
Raúl Capablanca, campeão do mundo no período compreendido entre 1921 e 1927,
que colocou um fim no reinado germânico do mundo do xadrez. Capablanca
amava posições simples e os finais de jogo; permaneceu imbatível nos torneios
por oito anos até 1924. Capablanca é considerado nos dias atuais como o
maior talento natural da história do enxadrismo e o maior enxadrista hispânico
de todos os tempos. Seu sucessor foi Alexander Alekhine, um forte
atacante, que faleceu como campeão do mundo em 1946, tendo perdido seu título
por um breve período de tempo para o enxadrista holandês Max Euwe em
1935, conquistando-o novamente dois anos depois.
No período compreendido entre as duas grandes
guerras mundiais, a teoria enxadrística foi revolucionada por uma nova escola
de pensamento conhecida como Hipermodernismo, liderada por Aaron
Nimzowitsch e Richard Réti. Eles negavam a validade absoluta dos
princípios da escola posicional que tinha sido estabelecida por Steinitz e
Tarrasch. Os hipermodernistas defendiam o controle à distância do centro do
tabuleiro por meio de peças, em lugar de ocupar as casas centrais com peões,
convidando os adversários a ocupar o centro com seus peões que logo se
tornariam alvos de ataque.
Desde o final do Século XIX, o número de
torneios e matches entre mestres vem rapidamente crescendo. Em
1914, o título de grande mestre foi pela primeira vez conferido oficialmente
pelo czar russo Nicolau II aos cinco finalistas do torneio
de São Petersburgo: Capablanca, Lasker, Alekhine, Tarrasch e Marshall. Esta
tradição continua sendo seguida pela FIDE, fundada em 1924, até os dias de
hoje.
Garry Kasparov, considerado um dos maiores campeões de xadrez de todos os tempos, com
títulos mundiais consecutivos de 1985 a 2000.
Após a morte de Alekhine, o novo campeão do mundo
foi selecionado em um torneio de enxadristas de elite, organizado pela FIDE
que, desde então, vem conferindo o título. O vencedor do torneio de 1948,
o soviético Mikhail Botvinnik, iniciou um era de hegemonia soviética
no mundo do xadrez. Até a dissolução da União Soviética, houve somente um
campeão do mundo não-soviético, o norte-americano Robert Fischer.46
No sistema informal que era adotado anteriormente,
o campeão do mundo tinha o direito de decidir com qual desafiante disputaria o
título mundial, ficando a cargo do desafiante a busca por patrocinadores para
o match. A FIDE veio então a estabelecer um novo e moderno
sistema de torneios de classificação e matches que substituía
este sistema arcaico. Os melhores enxadristas do mundo passaram a ser
selecionados primeiramente nos Torneios Zonais, sendo seguidos pelos Torneios
Interzonais. Os melhores finalistas dos Torneios Interzonais participam
do Torneio de Candidatos que, por sua vez, definirá quem será o desafiante
que poderá então disputar a coroa com o campeão do mundo. Um campeão derrotado
neste match final tinha o direito de jogar um rematch no ano
seguinte. O sistema funcionava em um ciclo de três anos.
Botvinnik venceu o campeonato mundial em 1948 e
reteve a coroa nos anos de 1951 e 1954. Em 1957, a
perdeu para Vasily Smyslov, mas recuperou o título pelo rematch em 1958.
Em 1960, ele perdeu novamente para Mikhail Tal. Botvinnik recuperou o
título novamente em 1961.
Entretanto, a partir de 1961, a FIDE aboliu a cláusula
do rematch, e o campeão seguinte, Tigran Petrosian, um gênio
da defesa e um fortíssimo jogador posicional, manteve a coroa no período
de 1963 a 1969. Seu sucessor, Boris Spassky, foi campeão do
mundo entre os anos de 1969 e1972, sendo um formidável enxadrista tanto no jogo
posicional quanto em agudas situações táticas.
Magnus Carlsen, o atual campeão mundial de xadrez.
O campeonato seguinte, disputado entre Spassky e o
jovem norte-americano Robert Fischer, foi aclamado como o Match do
Século. O match foi vencido por Fischer que, em 1975, se recusou a
defendê-lo contra o soviético Anatoly Karpov. A FIDE concedeu o
título a Karpov que o defendeu duas vezes contra Viktor Korchnoi e
dominou o mundo do xadrez nas décadas de 1970 e 1980 com uma longa série de
vitórias.
A supremacia de Karpov terminou em 1985 pelas
mãos de um outro enxadrista soviético, Garry Kasparov. Kasparov e
Karpov disputaram ainda o título mundial cinco vezes entre os anos de 1984 e 1990.
Em 1993, Kasparov e Nigel Short romperam
com a FIDE e organizaram o seu próprio match pelo título
mundial, fundando a Professional Chess Association. Como
consequência naquele período passaram a existir dois campeões mundiais,
representando entidades distintas, a FIDE e a PCA. Logo depois do
campeonato de 1995 a PCA faliu, e Kasparov não tinha nenhuma
organização de onde escolher seu desafiante. Em1998, ele então fundou o
Conselho Mundial de Xadrez e organizou o Campeonato Mundial de Xadrez Clássico.
Uma reunificação dos títulos somente veio a ocorrer em 2006, quando o
russo Vladimir Kramnik derrotou o campeão FIDE Veselin
Topalov e tornou-se o campeão do mundo das duas coroas.
Em 2007, o título mundial pela FIDE foi
conquistado pelo indiano Vishy Anand durante o evento
denominado Campeonato Mundial de Ajedrez México 2007, onde Kramnik
foi um dos finalistas.
Em 2008, Anand confirmou o título mundial de
xadrez durante o match em Bonn, realizado nos dias 26 de
outubro a 1 de novembro. O resultado do match foi
definido no dia 29, com o empate de Kramnik e Anand, com ampla vantagem do
indiano (6,5 a 4,5), tornando desnecessária a 12ª. partida do match.
Com esta vitória, Anand também se torna o primeiro
campeão de xadrez nas três modalidades: knockout, torneio, e match.
Anand voltou a confirmar o título mundial
contra Boris Gelfand em 2012 (8,5 a 7,5), mas o perdeu em 2013 para o
norueguês Magnus Carlsen por 6,5 a 3,59 . Carlsen
conquistou o título quatro anos após assumir o topo do ranking da FIDE, e no
mesmo ano em que bateu o record de maior rating Elo da história
(antes pertencente a Kasparov), com 2872 pontos. Em novembro de 2014, Carlsen
confirma o título ao derrotar, em Sochi, na Rússia, o ex-campeão Anand.
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