quarta-feira, 1 de abril de 2015

A IMPORTÂNCIA DA CAVALARIA MEDIEVAL

História

  
Instituição de nobres na época do feudalismo


 Cavalaria medieval é a instituição feudal dos cavaleiros nobres e aos ideais que lhe eram associados ou que lhe foram associados pela literatura, nomeadamente a coragem, a lealdade e a generosidade, bem como a noção de amor cortês.
Além dos cavaleiros (miles), homens que os senhores feudais eram obrigados a apresentar (lanças), a cavalaria era constituída pelos escudeiros, cavaleiros das ordens religiosas e dos concelhos (também conhecidos por «cavaleiros-vilãos») e "cavaleiros da espora dourada" (estes eram ricos, mas sem nobreza).
Cada lança constituía uma fila formada pelo seu chefe, designado por homem de armas, pelo seu escudeiro, pelo pajem, dois arqueiros a cavalo ou besteiros e por um espadachim. Cinco ou seis filas formavam uma bandeira, subordinada a um chefe. E um certo número de bandeiras constituía uma companhia de homens de armas.
Os monges guerreiros das ordens militares do Templo, dos Hospitalários, de Calatrava (mais tarde Ordem de Avis) e de Santiago de Espada desempenharam um papel muito importante nas lutas das Cruzadas.



O grão-mestre de cada ordem exercia o comando supremo destas milícias permanentes em que serviam de oficiais, os cavaleiros professos e de soldados, os servos e os lavradores das terras destas ordens monástico-militares.
Também lhes competia o tratamento de doentes e de feridos e, mesmo em tempo de paz, praticavam regularmente exercícios de adestramento militar. Competia-lhes defender as regiões fronteiriças, onde se instalavam castelos que constituíam a guarda avançada dos cristãos frente às terras dos muçulmanos.
Diferente dos outros militares, os monges guerreiros não recebiam remuneração, tendo de viver dos rendimentos próprios das suas ordens.
Nesta composição da cavalaria das hostes, ocupavam, no último lugar, os peões, isto é, os que possuíam propriedades de menor valia. Obrigados ao serviço militar, os cavaleiros-vilãos não recebiam remuneração por essa atividade, mas as suas terras ficavam isentas do imposto de jugada. Tais cavaleiros eram equiparados aos nobres. Também  eram dispensados de executar trabalhos braçais. Dirigiam, sim, o trabalho dos peões.

Cavaleiro do século XIII

No tempo de Carlos Magno, guerreiros montados se tornaram a unidade militar de elite dos francos e essa inovação se espalhou pela Europa. Lutar de um cavalo era mais glorioso pois o homem montado cavalgava em direção à batalha, movia-se rapidamente e atropelava os inimigos de classe baixa a pé.
Quando a cavalaria enfrentava outra cavalaria, o ataque em velocidade e o contato resultante era violento. Lutar montado era prestigioso por causa do alto custo dos cavalos, armas e armaduras. Somente indivíduos abastados, ou os serventes dos ricos, podiam lutar a cavalo.


Reis do fim da Idade Média tinham pouco dinheiro para pagar por grandes contingentes de cavalaria, a qual era cara. Guerreiros eram feitos vassalos e recebiam feudos. Esperava-se que eles utilizassem os lucros com a terra para comprar cavalos e equipamentos. Em muitos casos, vassalos mantinham grupos de soldados profissionais.
Num tempo no qual a autoridade central era fraca e as comunicações pobres, o vassalo, auxiliado por seus serventes, era responsável pela lei e pela ordem no feudo. Em retorno pelo feudo, o vassalo concordava em prover serviço militar para seu lorde. Dessa maneira, grandes lordes e reis eram capazes de levantar exércitos quando desejassem. A elite desses exércitos eram os vassalos a cavalo.


No decorrer da Idade Média, os membros da elite dos guerreiros montados de Europa Ocidental tornaram-se conhecidos como cavaleiros. Desenvolveu-se um código de comportamento, as regras de cavalaria, o qual detalhava como eles deveriam se conduzir. Eles eram obcecados pela honra, tanto na paz quanto na guerra, embora principalmente quando se relacionavam com seus iguais, não com os plebeus e camponeses, os quais constituíam a maior parte da população.
Os cavaleiros se tornaram a classe dominante, controlando a terra da qual provinha toda a riqueza. Os aristocratas eram nobres originalmente por causa de seu status e prestígio como guerreiros supremos num mundo violento. Posteriormente, seu status e prestígio passaram a se basear na hereditariedade e a importância em ser um guerreiro declinava.
Quando primeiro usado, o termo "cavalheirismo" significava habilidade em lidar com cavalos. O guerreiro de elite da Idade Média se distinguia dos camponeses, clérigos e deles mesmos por sua habilidade como cavaleiro e guerreiro. Cavalos fortes e velozes, armas bonitas e eficientes, e armaduras bem-feitas eram o símbolo de status.
Por volta do século XII, o cavalheirismo se tornou um estilo de vida. As principais regras do código de cavalaria eram as seguintes:
Proteger as mulheres e os fracos;
Defender a justiça contra a injustiça e o mal;
Amar sua terra natal;
Defender a Igreja, mesmo com risco de morte.
Na prática, cavaleiros e aristocratas ignoravam o código de cavalaria quando lhes fosse apropriado. Hostilidades entre os nobres e lutas por terras tinham precedência sobre o código. O costume tribal germânico que determinava que as propriedades do chefe fossem divididas entre os filhos ao invés de passar para o mais velho, geralmente provocava guerras entre os irmãos pelos espólios. Um exemplo disso foi o conflito entre os netos de Carlos Magno. A Idade Média foi também um período de guerras civis, nas quais os grandes perdedores geralmente eram os camponeses.


No final da Idade Média, reis criaram ordens de cavalaria, que eram organizações exclusivas de distintos cavaleiros os quais juravam obediência ao rei e aos outros membros da ordem. Se tornar um membro de ordem de cavalaria era extremamente prestigioso, tornando um homem um dos mais importantes do reino.
Em 1347, durante a Guerra dos Cem Anos, Eduardo III, da Inglaterra, fundou a Ordem da Jarreteira, ainda existente hoje. Essa ordem consistia nos 25 melhores cavaleiros da Inglaterra e foi fundada para garantir a sua lealdade ao rei e a dedicação à vitória na guerra.
A Ordem do Velocino de Ouro foi estabelecida por Filipe, o bom, da Borgonha em 1430 e se tornou a mais rica e poderosa ordem na Europa. Luís XI, da França, estabeleceu a Ordem de São Miguel para controlar seus nobres mais importantes.
As Ordens de Calatrava, Santiago e Alcantara foram fundadas para expulsar os mouros da Espanha. Elas foram unificadas por Fernando de Aragão, cujo casamento com Isabel de Castela lançou as bases para um único reino espanhol. Ele se tornou mestre das três ordens, apesar delas se manterem separadas. A cavalaria medieval desempenhou importante papel nas batalhas da Idade Média.

Ordenação de um Cavaleiro, por Edmund Blair Leighton, (1901) - Jovem sendo elevado à dignidade de cavaleiro

Na idade de dois ou três anos [carece de fontes], garotos da nobreza eram mandados para viverem com grandes lordes como pajens. Os pajens aprendiam habilidades sociais básicas das mulheres da casa do lorde e começava o treinamento básico no uso de armas e a cavalgar. Na idade de sete anos, o jovem se tornava escudeiro, um cavaleiro em treinamento.
Escudeiros eram delegados a um cavaleiro que prosseguia com a educação do jovem. O escudeiro era o companheiro e servente do cavaleiro. Os deveres do escudeiro incluíam o polimento das armaduras e armas (propensas à ferrugem), ajudar seu cavaleiro a se vestir e despir, tomar conta de seus pertences e até dormir no vão ocupado pela porta como um guarda.
Nos torneios e batalhas, o escudeiro ajudava seu cavaleiro quando preciso. Ele levava armas substitutas e cavalos, tratava das feridas, afastava os cavaleiros feridos do perigo, ou garantia um enterro decente, se necessário. Em muitos casos o escudeiro ia à batalha com seu cavaleiro e lutava ao seu lado.
Um cavaleiro evitava lutar com um escudeiro do outro lado, se possível, procurando um cavaleiro de posição similar ou mais alta que a sua. Escudeiros, por sua vez, procuravam atacar cavaleiros inimigos, a fim de ganhar glória matando ou capturando um cavaleiro inimigo de maior categoria.
Além do treinamento marcial, os escudeiros se exercitavam em jogos, aprendiam pelo menos a ler, se não a escrever, e estudavam música, dança e canto.

Um cavaleiro sendo designado. Biblioteca Universitária de Heidelberg, c. 1315.

Com 15 anos, o escudeiro era elegível para se tornar um cavaleiro. Candidatos adequados eram proclamados cavaleiros por um lorde ou outro cavaleiro de grande reputação. A cerimônia de se tornar um cavaleiro inicialmente era simples: geralmente, "recebia-se o título" no ombro com uma espada e depois afivelava-se um talim.
A cerimônia tornou-se mais elaborada e a Igreja ampliou o rito. Os candidatos tomavam banho, cortavam o cabelo curto e ficavam acordados a noite inteira numa vigília de reza. De manhã, o candidato recebia, de um cavaleiro, a espada e a espora.
A cavalaria habitualmente só era atingível para aqueles que possuíam terras ou renda suficiente para cobrir as responsabilidades da classe. Lordes e bispos importantes podiam manter um considerável contingente de cavaleiros, entretanto, e muitos conseguiam emprego nessas circunstâncias. Escudeiros que lutassem particularmente bem poderiam ganhar o reconhecimento de um grande lorde durante a batalha e ser proclamados cavaleiros no campo de batalha.
Por volta do século XII, a aristocracia tendia a restringir o acesso de seus filhos à cavalaria. Antes do século XII, para os cavaleiros ordinários, a celebração se resumia à entrega pública de seus instrumentos de trabalho. Para os grandes senhores, filhos de reis ou condes, a sagração marcava, além do início na profissão militar, a entrada como futuros governantes. Para esses cavaleiros, a cerimônia era mais custosa, solene e marcada pela liturgia.

Tapeçaria de Avalon

A bênção da espada era essencial. Colocada sobre um altar, ela era devolvida ao cavaleiro por um eclesiástico. Uma vigília de armas, preces, e um banho purificador muitas vezes precediam o ritual. Todavia, as sagrações não tinham sempre esse caráter litúrgico - o elemento central constante era a passagem pública da espada ao futuro cavaleiro.
O ato da entrega da arma era acompanhado de um toque suave sobre a face ou nuca, técnica que se modificaria ao longo do tempo, para se transformar, no século XIV, em espaldeirada, golpe dado com o lado chato da lâmina da espada, sobre o ombro do cavaleiro. A cerimônia terminava com a entrega das esporas, em geral douradas, ajustadas aos pés do novo cavaleiro por dois de seus pares. Finalmente, ao cavaleiro era levado seu cavalo de combate (corcel), sobre o qual ele saltava inteiramente armado, para fazer a demonstração de seu valor em exercícios guerreiros.
Se na origem a cerimônia assinalava a entrada na profissão militar, transformou-se em colação de grau, em condecoração obtida ao longo da carreira, como agradecimento por serviços prestados.

Torneio entre árabes e cruzados durante a Terceira Cruzada. Gravura de Gustave Doré(1832-1883).

Simulações de batalhas entre cavaleiros, chamadas de torneios, começaram no século X e foram imediatamente condenadas pelo segundo Concílio de Latrão, sob o Papa Inocêncio II, e pelos reis da Europa, os quais se opunham aos ferimentos e mortes de cavaleiros no que eles consideravam uma atividade frívola. Os torneios floresceram, entretanto, e se tornaram parte da vida do cavaleiro.
Os torneios começaram como simples competição entre cavaleiros mas se tornaram mais elaborados com o passar dos séculos. Eles se tornaram importantes eventos sociais os quais atraiam patronos e competidores de grandes distâncias. Arenas especiais foram construídas com arquibancadas para espectadores e pavilhões para os combatentes.
Cavaleiros continuavam a competir individualmente e também em equipas. Eles duelavam entre si usando uma e variedade de armas e simulavam batalhas corpo-a-corpo com muitos cavaleiros em um lado. Disputas envolvendo dois cavaleiros lutando com lanças se tornaram o principal evento. Os cavaleiros competiam, como atletas modernos, por prêmios, prestígio e olhares das damas que enchiam as arquibancadas.

Cristiano I da Dinamarca assiste um torneio de cavalaria junto a Bartolomeo Colleoni, por Girolamo Romani, (1467), afresco no Castelo de Malpaga

No século XIII, tantos homens estavam sendo mortos em torneios que os líderes, incluindo o papa, ficaram alarmados. Sessenta cavaleiros morreram em 1240 num torneio em Cologne, por exemplo. O papa queria todos os cavaleiros possíveis para lutarem nas Cruzadas na Terra Santa, em vez de serem mortos em torneios. Armas tornaram-se cegas e regras tentaram reduzir a incidência de ferimentos, mas feridas sérias e fatais continuaram ocorrendo. Henrique II da França foi mortalmente ferido numa competição num torneio celebrando o casamento da filha.


Desafios terminavam geralmente em torneios amistosos, mas ressentimentos entre dois inimigos poderiam ser resolvidos em uma luta até a morte. Os perdedores dos


torneios eram capturados e pagavam um resgate para os vitoriosos em cavalos, armamentos e armaduras para obterem a liberdade.
Arautos mantinham registros dos recordes dos torneios. Um cavaleiro de baixa classificação poderia acumular riquezas por meio de prêmios e atrair uma esposa abastada.
Durante as Cruzadas, foram criadas ordens militares de cavaleiros para auxiliar os objetivos cristãos do movimento. Eles se tornaram os mais ameaçadores dos cruzados e os inimigos mais odiados dos árabes. Essas ordens persistiram depois que as cruzadas na Palestina fracassaram.

Selo dos Templários

A primeira dessas ordens eram os Cavaleiros do Templo, ou Templários, criados em 1118 para proteger o Santo Sepulcro, em Jerusalém. Os templários vestiam um sobretudo branco com uma cruz vermelha e faziam os mesmos votos que os monges beneditinos - pobreza, castidade e obediência. Os templários estavam entre os mais bravos defensores da Terra Santa, sendo os últimos cruzados a abandoná-la. No passar dos anos, eles se tornaram ricos por causa de doações e empréstimos de dinheiro com interesses, atraindo a inveja e desconfiança dos reis. Em 1307, o rei Filipe IV da França acusou-os de muitos crimes, incluindo heresia, os prendeu e confiscou suas terras. Outros líderes europeus seguiram seu exemplo e os Templários foram destruídos.
Os Cavaleiros de São João de Jerusalém, ou Hospitalários, foram criados originalmente para cuidar dos doentes e pobres peregrinos visitando o Santo Sepulcro. Em pouco tempo, eles foram convertidos numa ordem militar. Eles trajavam um sobretudo vermelho com uma cruz branca e também faziam os votos de São Bento. Os hospitalários tinham regras e não permitiram que sua ordem se tornasse rica ou indolente.
Quando foram expulsos da Terra Santa, seguindo a rendição de seu grande castelo, o Krak des Chevaliers, eles retiraram-se para a ilha de Rodes, a qual eles defenderam por muitos anos. Expulsos de Rodes pelos turcos, eles passaram a residir em Malta.


A terceira grande ordem militar eram os Cavaleiros Teutônicos, fundada em 1190 para proteger os peregrinos germânicos que se dirigiam à Terra Santa. Antes do fim das Cruzadas eles passaram a converter os pagãos na Prússia e nos Estados bálticos.
Para distinguir os cavaleiros no campo de batalha, um sistema de emblemas chamado heráldica foi desenvolvido. Para cada nobre foi desenvolvido um emblema especial para ser mostrado em seu escudo, sobretudo e bandeiras. O termo escudo de armas passou a designar o próprio emblema. Uma organização independente conhecida como Colégio dos Arautos desenhava brasões individuais e asseguravam que cada um era único. Os brasões eram registrados pelos arautos em livros especiais sob sua guarda.
Brasões eram passados de geração para geração e eram modificados pelo casamento. Certos desenhos eram reservados à realeza de diferentes países. Pelo fim da Idade Média,cidades, guildas, e até proeminentes cidadãos não nobres receberam brasões.
No campo de batalha, combatentes usavam os brasões para distinguir amigos e inimigos e para escolher um adversário digno para uma luta corpo-a-corpo. Arautos faziam listas de cavaleiros prestes a lutar baseados em suas insígnias. Os arautos eram considerados neutros e atuavam como intermediários entre os dois exércitos. Dessa forma, eles podiam passar mensagens entre os defensores de um castelo ou cidade e seus sitiadores. Depois de uma batalha, os arautos identificavam os mortos pelos seus brasões.

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