sábado, 4 de abril de 2015

MAIS MÚSICA E MAIS MATEMÁTICA

Por Marcio Luis Ferreira Nascimento,
é  Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA


Mais música, maestro! E mais matemática, professor! Certamente, aulas ilustradas de matemática e música poderiam mudar a impressão que os estudantes em geral têm da ciência dos números e formas. Mas haveria de fato algo comum entre a matemática e a música? A resposta é surpreendentemente positiva. Independentemente do tipo ou estilo musical (e podem considerar as músicas de carnaval sim, sem dúvida!), música e matemática utilizam-se da abstração e da imaginação, bem como de objetos primordiais, seja o tempo musical ou o som em contraposição ao número.

Curiosamente, ambas empregam termos em comum, como estética, organização, perfeição e rigor. Buscam a harmonia, o equilíbrio e a simplicidade. São consideradas linguagens. E podemos observar que anseiam pela busca de padrões.
Matemática é fácil de definir: infelizmente para alguns é a parte mais chata que se ensina na escola. Aqueles que sabem um pouquinho são exageradamente reconhecidos como bons estudantes.... Mas o que é música? É uma arte extremamente poderosa, capaz de nos emocionar, refletir, sonhar... Sempre há aquela canção especial, para aquele determinando momento ímpar em nossas vidas. Normalmente a música pode ser definida como uma combinação de sons e silêncios. O som é resultado de oscilações muito rápidas do ar. Estas são formadas por compressão e rarefação, sendo que as moléculas do ar se comprimem ou rarefazem rapidamente, numa determinada freqüência. O ouvido é um tipo de detector que capta estas mudanças.


Um diapasão é um instrumento musical metálico bastante simples em formato de forquilha que, ao vibrar, desloca rapidamente o ar ao redor. A frequência de vibração está relacionada à nota produzida: se essa frequência atinge 440 Hz, ou seja, 440 pulsos por segundo, resulta na nota . A unidade Hz foi definida em homenagem ao físico alemão Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894). O ouvido humano consegue captar vibrações do ar (sons) entre 20 Hz e 20.000 Hz.

Uma importante característica é a altura do som. Dizemos que é grave o som de baixa frequência (< 300 Hz); médio é o som com frequência entre 300 Hz e 5.000 Hz; e agudo é o som de alta frequência (> 5.000 Hz). Já a intensidade distingue som fraco de forte a partir da amplitude da onda sonora. Uma outra característica importante é o timbre, que permite diferenciar dois sons de mesma altura e mesma intensidade, mas que são emitidos por instrumentos diferentes. Desta forma, uma música executada por um violino e um piano se diferencia pelo timbre.

Em música, uma oitava é o intervalo entre uma nota musical e outra com a metade ou o dobro de sua frequência. Uma das primeiras escalas musicais foi a pentatônica, com cinco notas: , MiSol e , atribuída a um dos primeiros grandes matemáticos da antiguidade: Pitágoras de Samos (c. 571 – 495 a.C.), o mesmo do célebre teorema que leva seu nome.

Portanto, podemos afirmar que música e matemática estão mesmo intrinsecamente relacionadas, pois: i) as notas de qualquer instrumento correspondem a sons de determinadas frequências, que são números especiais; ii) as ondas sonoras podem ser descritas por equações matemáticas; iii) a própria forma dos instrumentos seguem regras e proporções especificas para melhor performance; iv) até mesmo a tecnologia para se gravar as composições, por exemplo num CD, obedecem regras matemáticas.

O matemático, diplomata, historiador, advogado, bibliotecário, político e filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) escreveu certa vez ao seu colega matemático alemão Christian Goldbach (1690-1764) em 17 de abril de 1712: “Musica est exercitium arithmeticae occultum nescientis se numerare animi”. Numa tradução livre: “(Ouvir) música é um exercício secreto de aritmética da alma, que desconhece estar contando”.

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